domingo, 17 de fevereiro de 2008

Biocombustiveis

O preço do trigo na bolsa mercantil de Chicago (a mais importante bolsa de matérias primas do mundo), duplicou no espaço de seis meses. Em Julho de 2007 estava pouco acima dos 5 dólares e no princípio de Fevereiro de 2008, atingiu o valor de 10,33 dólares.

Este aumento tem consequências no custo de diversos produtos alimentares, nomeadamente os da indústria de panificação e a ele não será estranho uma preferência dos produtores de cereais pela produção de milho.

No caso do milho, as razões para o aumento da sua produção e do seu preço, têm a ver com o incremento da sua procura em países como a China e a Índia e principalmente, o interesse dos produtores de biocombustiveis na sua utilização.

O aumento do preço do milho tem como resultado directo o aumento do preço dos alimentos em cuja composição entra, o que acaba por influenciar o preço do leite e da carne, especialmente de bovino.

Em Portugal, os últimos dados apontam para um aumento de cerca de 15% no preço do leite nos últimos meses.

Parece que ganham fundamento os avisos daqueles que chamaram a atenção de que os biocombustiveis, não viriam resolver os problemas energéticos da humanidade, bem pelo contrário, iriam contribuir para o aumento dos preços dos alimentos, provocar a fome e contribuir para graves desastres ambientais, com a criação de grandes extensões cultivadas com produtos para a industria dos biocombustiveis.

Depois de Maiakovski

Recebido por e mail
(Segundo o site indicado na mensagem anterior, o título correcto seria: Depois de Alves Costa)


Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que uma dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
E, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.

Depois de Maiakovski…


Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso.
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego.
Também não me importei.

Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém.
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898 – 1956)


Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar…

Martin Niemoller - Símbolo de resistência aos nazistas, 1933.

Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima;
Depois incendiaram os onibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam as ruas, onde eu não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…

Cláudio Humberto, em Fevereiro de 2007


O que outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.

Incrível é que após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam nos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil…
Até quando ?...

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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Maiakovski

No caminho com Maiakovski
não é de Maiakovski, mas sim de Eduardo Alves da Costa.
Um lindo poema que não estaria reverenciando o nome do grande poeta russo Maiakovski, muitas vezes confundido pela Internet como sendo do próprio é na verdade de outro poeta, Eduardo Alves da Costa.

O fragmento de Eduardo Alves da Costa:No caminho com Maiakovski"

[...] Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

O poeta Eduardo Alves da Costa garante que Maiakovski nada tem a ver com o tema, assim noticia a Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003, na íntegra: "Um Maiakovski no caminho” Foi resolvida graças à novela das oito uma confusão de 30 anos.
Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, 67, o poema "No Caminho, com Maiakovski" era (quase) sempre creditado ao russo Vladimir Maiakovski (1893-1930).
Em "Mulheres Apaixonadas", Helena (Christiane Torloni) leu um trecho do poema, dando o crédito correcto. Foi o suficiente para reavivar a polémica -resolvida dois capítulos depois, em que a autoria de Costa foi reafirmada e, de quebra, fazer surgir uma proposta de reeditar o poema, para aproveitar a exposição no horário nobre.
Livro combinado, a noite de autógrafos será na novela. "Pedi que apresse e me mande até o dia 10. Quero lançar aqui", diz Manoel Carlos, autor de "Mulheres".
Eduardo Alves da Costa falou � coluna:

Folha - Você se arrepende de ter posto Maiakovski no título?
Eduardo Alves da Costa - De maneira nenhuma! Tanto que vou usar o mesmo título para o livro que sai agora.
Folha - Durante mais de 30 anos acreditaram que o poema era dele. Isso não o incomoda?
Costa - Era uma enxurrada muito grande. Saiu em jornais com crédito para Maiakovski. Fizeram até camisetas na época das Directas - Já. Virou símbolo da luta contra o regime militar.
Folha - Como surgiu o engano?
Costa -O poema saiu em jornais universitários, nos anos 70. O psicanalista Roberto Freire incluiu em um livro dele e deu crédito ao russo e me colocou como tradutor. Mas já encomendei da França a obra completa do Maiakovski. Quando alguém me questionar, entrego os cinco volumes e mando achar o poema.

poema inteiro

NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI

Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakovski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.

Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.

Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo
e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra é uma ténue cortina lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo, por temor aceito a condiçãode falso democrata
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores.

Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA


Colhido em: http://br.geocities.com/edterranova/maiapoesias.htm

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