sábado, 16 de fevereiro de 2008

Maiakovski

No caminho com Maiakovski
não é de Maiakovski, mas sim de Eduardo Alves da Costa.
Um lindo poema que não estaria reverenciando o nome do grande poeta russo Maiakovski, muitas vezes confundido pela Internet como sendo do próprio é na verdade de outro poeta, Eduardo Alves da Costa.

O fragmento de Eduardo Alves da Costa:No caminho com Maiakovski"

[...] Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

O poeta Eduardo Alves da Costa garante que Maiakovski nada tem a ver com o tema, assim noticia a Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003, na íntegra: "Um Maiakovski no caminho” Foi resolvida graças à novela das oito uma confusão de 30 anos.
Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, 67, o poema "No Caminho, com Maiakovski" era (quase) sempre creditado ao russo Vladimir Maiakovski (1893-1930).
Em "Mulheres Apaixonadas", Helena (Christiane Torloni) leu um trecho do poema, dando o crédito correcto. Foi o suficiente para reavivar a polémica -resolvida dois capítulos depois, em que a autoria de Costa foi reafirmada e, de quebra, fazer surgir uma proposta de reeditar o poema, para aproveitar a exposição no horário nobre.
Livro combinado, a noite de autógrafos será na novela. "Pedi que apresse e me mande até o dia 10. Quero lançar aqui", diz Manoel Carlos, autor de "Mulheres".
Eduardo Alves da Costa falou � coluna:

Folha - Você se arrepende de ter posto Maiakovski no título?
Eduardo Alves da Costa - De maneira nenhuma! Tanto que vou usar o mesmo título para o livro que sai agora.
Folha - Durante mais de 30 anos acreditaram que o poema era dele. Isso não o incomoda?
Costa - Era uma enxurrada muito grande. Saiu em jornais com crédito para Maiakovski. Fizeram até camisetas na época das Directas - Já. Virou símbolo da luta contra o regime militar.
Folha - Como surgiu o engano?
Costa -O poema saiu em jornais universitários, nos anos 70. O psicanalista Roberto Freire incluiu em um livro dele e deu crédito ao russo e me colocou como tradutor. Mas já encomendei da França a obra completa do Maiakovski. Quando alguém me questionar, entrego os cinco volumes e mando achar o poema.

poema inteiro

NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI

Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakovski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.

Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.

Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo
e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra é uma ténue cortina lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo, por temor aceito a condiçãode falso democrata
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores.

Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA


Colhido em: http://br.geocities.com/edterranova/maiapoesias.htm

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