tag:blogger.com,1999:blog-76942170442936646002024-03-13T04:32:58.975-07:00Acerca das ideiasOlaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.comBlogger27125tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-48528595798280844302009-06-22T16:02:00.000-07:002009-06-22T16:05:32.632-07:00Sobre a situação no Irão<span style="font-family:arial;">Irã, outra 'revolução colorida' orquestrada pelos EUA?<br /><br />Vários comentaristas têm manifestado crença inabalável na pureza de intenções de Mousavi, de Montazeri e da juventude ocidentalizada de Teerã. É como se o plano da CIA, de desestabilização, noticiado há dois anos, nada tivesse a ver com o desenrolar dos eventos de hoje. Tem-se repetido que Ahmadinejad roubou votos, porque o resultado foi apresentado depressa demais, em tempo que teria sido insuficiente para que os votos fossem contados.<br /><br />Por Paul Craig Roberts*, em Counterpunch<br /><br /><br />Mas, de fato, Mousavi foi o primeiro a declarar vitória, apenas algumas horas depois de encerrada a votação. É procedimento 'clássico' da CIA, para desacreditar resultados eleitorais que não sejam os 'desejados'. A CIA sempre apressa a declaração de vitória. Quanto mais tempo houvesse entre uma declaração 'preventiva' de vitória e a liberação das tabelas oficiais de votos apurados, mais tempo Mousavi teria para criar a impressão de que as autoridades eleitorais, responsáveis pelas eleições, estariam alterando as tabelas de apuração. O mais engraçado é que tantos finjam que não veem o truque e o golpe; menos engraçado é que sinceramente não os vejam.<br /><br />Quanto à acusação de que a eleição foi roubada, feita pelo Grande Aiatolá Montazeri, ele foi o candidato inicialmente escolhido para suceder Khomeini; perdeu a disputa para o atual Líder Supremo. Para Montazeri, os protestos são ocasião perfeita para 'acertar as contas' com Khamenei. Em todos os casos seria bom negócio para Montazeri contestar as eleições, seja ele controlado pela CIA ou não — e a CIA tem longa história de sucessos no aliciamento de políticos derrotados em eleições perfeitas.<br /><br />Está em curso uma luta pelo poder entre os aiatolás. Vários estão alinhados contra Ahmadinejad, porque o presidente os tem acusado de corrupção; assim, Ahmadinejad joga para a platéia de eleitores do interior do país, onde a interpretação mais 'popular' dos princípios do islamismo exige que os aiatolás vivam por padrões de equilíbrio e sobriedade, sem excessos nem de poder político nem de dinheiro.<br /><br />Pessoalmente, acho que há algo de oportunismo nas denúncias feitas por Ahmadinejad; mas oportunismo é uma coisa; outra, completamente diferente, é a repetição incansável, em todos os jornais e televisões norte-americanas, de 'análises' que 'comprovam' que Ahmadinejad não passa de político conservador, reacionário e 'cúmplice' dos aiatolás.<br /><br />'Analistas' e 'colunistas' e 'especialistas' têm 'explicado as eleições iranianas a partir de suas (deles e delas) pessoais ilusões, fantasias, desejos e emoções... além de, é claro, seus (deles e delas) interesses de vários tipos.<br /><br />Embora haja pesquisas confiáveis que indicavam há várias semanas que Ahmadinejad seria eleito por diferença "acachapante", é claro que isso não implica que as eleições não tenham sido fraudadas. Mas, sim, há muitos indícios, altamente confiáveis, de que a CIA trabalha, sim, há mais de dois anos para desestabilizar o governo Irãiano.<br /><br />Dia 23 de maio de 2007, Brian Ross e Richard Esposito noticiaram no canal ABC News: "A CIA recebeu aprovação secreta da Casa Branca para montar uma operação 'negra' para desestabilizar o governo Irãiano, informaram à rede ABC News oficiais da ativa e da reserva da comunidade de inteligência."<br /><br />Dia 27 de maio de 2007, o jornal London Telegraph, citando outras fontes, noticiou: "O presidente Bush assinou hoje autorização para que a CIA construa campanha de propaganda e desinformação com vista a desestabilizar, e eventualmente destituir, o governo teocrático dos mulás."<br /><br />Alguns dias antes, o Telegraph noticiara, dia 16 de maio de 2007, que um dos neoconservadores e senhores-da-guerra do governo Bush, John Bolton, declarara ao Telegraph que um ataque militar dos EUA ao Irã "seria a última opção, caso não dessem resultado nem as sanções econômicas nem as tentativas para fomentar agitação de rua e levante da população nas cidades."<br /><br />Dia 29 de junho de 2008, Seymour Hersh escreveu, na revista New Yorker: "No final do ano passado, o Congresso aprovou pedido do presidente Bush para liberar verbas para uma grande escalada nas operações secretas de inteligência contra o Irã, conforme informam fontes militares, do serviço secreto e do Congresso. Essas operações, para as quais o presidente Bush solicitou 400 milhões de dólares, foram apresentadas em documento ("Presidential Finding") assinado por Bush e visam a desestabilizar o governo religioso do Irã."<br /><br />Parece evidente que há manifestantes sinceros nos protestos de rua em Teerã. Mas há também muito evidentes sinais que são como marca registrada da CIA, já observados na Georgia e na Ucrânia. É preciso ser completamente cego para não os ver em Teerã.<br /><br />Daniel McAdams anotou sinais interessantes. Por exemplo, o neoconservador Kenneth Timmerman escreveu um dia antes das eleições, que "fala-se de uma 'revolução verde' em Teerã". Como Timmerman poderia saber de uma 'revolução' que só começaria dois dias depois? A única explicação é que conhecia os planos da CIA.<br /><br />E por que haveria uma "revolução verde" já preparada desde antes das eleições... sobretudo se Mousavi estivesse certo de que seria 'eleito'? Não há como fugir da evidência de que, sim, os EUA trabalharam para criar os protestos pós-eleitorais que se veem hoje em Teerã.<br /><br />Timmerman chega a escrever, bem claramente, que “[a ONG] National Endowment for Democracy gastou milhões de dólares na promoção de revoluções "coloridas" (...). Parte desse dinheiro parece ter chegado às mãos dos grupos pró-Mousavi, que têm laços com organizações não-governamentais fora do Irã financiadas pela [ONG] National Endowment for Democracy." A própria ONG neoconservadora de Timmerman, Foundation for Democracy, é "organização privada, sem finalidades lucrativas, fundada em 1995 a partir de doações da ONG National Endowment for Democracy, NED, para promover a democracia e o respeito aos direitos humanos no Irã."<br /><br />* Paul Craig Roberts foi secretário-assistente do Tesouro durante o governo Reagan. É coautor de The Tyranny of Good Intentions. Recebe e-mails em </span><a href="mailto:PaulCraigRoberts@yahoo.com" target="_blank"><span style="font-family:arial;">PaulCraigRoberts@yahoo.com</span></a><br /><span style="font-family:arial;"><br />O artigo original, em inglês, pode ser lido </span><a href="http://%20www.counterpunch.org/roberts06192009.html" target="_blank"><span style="font-family:arial;">aqui</span></a><span style="font-family:arial;">.</span><br /><span style="font-family:Arial;">Artigo retirado de <a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=58346">O Vermelho</a></span>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-31916530604367099042008-08-21T16:40:00.000-07:002008-08-21T16:47:25.403-07:00Breve história da Geórgia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUCu7I3HipwD9Lau7xK-th8jCkXwsYtB77OCzaTuS5DzO6g4UlXNBRA8PcVxb1wt5Ja9fYi4JrXwp5ARvXs5ccrV1cCdnqbNLWFCDopNHtlyZtxLBw_nCQZ5RNjFvU7sYsyEs-qbEFRMz2/s1600-h/Geórgia.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237121188080895090" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUCu7I3HipwD9Lau7xK-th8jCkXwsYtB77OCzaTuS5DzO6g4UlXNBRA8PcVxb1wt5Ja9fYi4JrXwp5ARvXs5ccrV1cCdnqbNLWFCDopNHtlyZtxLBw_nCQZ5RNjFvU7sYsyEs-qbEFRMz2/s320/Ge%C3%B3rgia.bmp" border="0" /></a><strong><span style="font-family:arial;"><span style="color:#666666;">Entre os séculos XVI e XVIII, a Geórgia foi cenário de lutas entre o Irão e a Turquia para o domínio da Transcaucasia (actuais Geórgia, Arménia e Azerbeijão).<br /><br />Em 21 de Dezembro de 1782, o Rei georgiano Irakli II pediu à Imperatriz Russa Catarina a Grande protecção estabelecendo um protectorado sobre a Geórgia.<br /><br />Em Julho de 1783, Geórgia e Rússia firmaram na fortaleza de Gueorguievsk um tratado segundo a qual Irakli II reconhecia o poder da Rússia.<br /><br />A 24 de Janeiro o tratado entrou em vigor. O documento teve o nome de “tratado de Gueorguievsk”.</span><br /><br />As cláusulas fundamentais do contrato eram:<br />- A Rússia comprometia-se a defender a Geórgia em caso de guerra e o Rei Irakli II a manter relações de paz com o rei Solomón de Geórgia Ocidental (actual Geórgia). Em caso de litígio, o imperador russo actuaria como mediador. A Rússia comprometia-se a manter na Geórgia dois batalhões de infantaria para reforçar a defesa e em caso de guerra devia prestar ajuda adicional.<br /><br />Em 1801, o imperador russo Alejandro I decretou a abolição do reino ocidental georgiano de Kartli-Kajetia e inclui a Geórgia Oriental no império russo. O reino da Geórgia Oriental foi declarado “província georgiana”.<br /><br />Em 1810, o reino de Imeretia (Geórgia Ocidental) também passou a fazer parte do Império Russo.<br /><br />O Império russo promove a ida de colonos russos para todas as cidades georgianos, o que explica a força que tiveram os movimentos revolucionário nesta região, com o surgimento de grupos nacionalistas, populistas e sociais-democratas marxistas. Aqui iniciou a sua carreira politica Iosif Dzhugashvili, mais conhecido pelo pseudónimo de Stalin. Os georgianos desempenharam um importante papel na revolução de 1905 que abalou o Império russo.<br /><br />Após o triunfo da revolução Bolchevique, o poder na Transcaucasia ficou nas mãos dos Mencheviques. Em Abril de 1918, em Tiflis (Tbilisi), o governo unificado da Transcaucasia anunciou a sua separação da Rússia Soviética. Em 26 de Maio de 1918 a Geórgia proclamou a sua independência que Moscovo reconhece dois anos depois.<br /><br />Entre 1918 e 1920 entraram na Geórgia tropas alemãs, turcas e inglesas que procuravam derrubar o regime socialista na Rússia.<br /><br />Em Fevereiro de 1921, o exército vermelho ocupou o território e estabeleceu o poder soviético.<br />Em 25 de Fevereiro foi proclamada a Republica Socialista da Geórgia, com a Republica Autónoma da Abkasia formando parte desta. A Turquia cedeu Batumi e a parte norte da Adzharia, que foi integrada como Republica autónoma.<br /><br />Em Março de 1922, Geórgia, Azerbeijão e Arménia formam a federação da Transcaucasia. Um mês depois formou-se a Região Autónoma da Ossétia do Sul, como parte da Geórgia.<br /><br />Em 5 de Dezembro de 1936 dissolveu-se a Federação da Transcaucasia e a Geórgia passou a integrar as 15 Repúblicas da União Soviética<br /><br />Em 1972 Eduard Shevardnadze fica à frente do Governo e do Partido comunista da Geórgia.<br /><br />Em 1985 Shevardnadze é designado Ministro da relações Exteriores da URSS, no governo de Gorbachov.<br /><br />Em 28 de Outubro de 1990 há eleições para o Soviete da RSS da Geórgia, tendo obtido a vitória o bloco de partidos “Geórgia Livre”. Gamsacurdia, um opositor político do regime soviético, tornou-se líder desse bloco. A RSS da Geórgia muda de nome para República da Geórgia.<br /><br />A região Autónoma da Ossétia do Sul proclama-se República. O Soviete da Geórgia anula essa decisão, decreta o estado de emergência e organiza o bloqueio da região. Iniciam-se os confrontos entre a Ossétia e tropas georgianas.<br /><br />Em Abril de 1991 a Geórgia declara a independência. A 27 de Maio Gamsacurdia é eleito presidente.<br /><br />Depois de sucessivas manifestações, a 6 de Janeiro de 1992 soldados sob o comando de Kitovani assaltam a sede do governo e tomam o poder. No final de Janeiro falha uma tentativa para pôr fim ao conflito na Ossétia.<br /><br />Em Março de 1992 Eduard Shevardnadze regressa ao país para assumir a presidência. A 28 de Junho é assinado um cessar-fogo na Ossétia do Sul, supervisionado por militares russos, georgianos e ossetinos<br /><br />As autoridades da Abkasia, com capital em Sujumi, adoptam uma decisão que limita a jurisdição do governo central da Geórgia. Em 14 de Agosto as tropas governamentais entram na Abkasia e ocupam Sukhumi. As autoridades locais refugiam-se na cidade de Gudauta que se converte em foco de resistência.<br /><br />No princípio de 1993 a força aérea russa bombardeia as tropas da Geórgia na Abkasia. Em 28 de Junho entra em vigor um armistício, mediado pela Rússia.<br /><br />Em Novembro de 1993 partidários do ex-presidente Gamsacurdia lançam uma ampla ofensiva, mas foram derrotados graças à intervenção das tropas russas, nesse mesmo mês a Geórgia ingressa na CEI (Comunidade de Estados Independentes).<br /><br />No começo de 1994 morre Gamsacurdia que segundo a versão oficial se suicidou. Em Fevereiro a Geórgia assina um tratado de amizade com a Rússia e em Abril é assinado em Moscovo um tratado de paz com os rebeldes Abkazes.<br /><br />Entre 20 e 23 de Novembro de 2003 dá-se a chamada “Revolução das Rosas” que retira Shevardnaze do poder e acaba por conduzir Mikheil Saakashvili à presidência da Geórgia em 2004. A partir dessa data, o governo georgiano inicia uma linha de afastamento da Rússia e de aproximação aos EUA e à NATO, ao mesmo tempo que cresce a pressão sobre as regiões separatistas no sentido de acabar com as autonomias.<br /><br />Durante o ano de 2008 registam-se confrontos esporádicos entre forças das regiões secessionistas e georgianas, acabando o exército da Geórgia por ocupar a Tskinvali, capital da Ossétia do Sul no dia 8 de Agosto, levando à intervenção do exército russo em defesa dos ossetas</span></strong>.<br /><div></div><br /><div><a href="http://www.acercadanet.blogspot.com/">Voltar ao Acercadanet </a></div>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-14336981160352051822008-08-21T12:32:00.000-07:002008-08-21T12:39:40.571-07:00O maior pecado de Mugabe<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO54zG_6A6Gn5sompfwG9u3JYzGq9KsLxMYP8T88-cY72Aw1dDLTt3iIcOU351pAQL7TJT57pnFVW42R4mGvH_BQakh-rIVQcfCb9HlmPfTppmLHoNr1RPPkP6c5SMGXA5LaHSCOiwWKBK/s1600-h/zimbabue.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237057918129234162" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO54zG_6A6Gn5sompfwG9u3JYzGq9KsLxMYP8T88-cY72Aw1dDLTt3iIcOU351pAQL7TJT57pnFVW42R4mGvH_BQakh-rIVQcfCb9HlmPfTppmLHoNr1RPPkP6c5SMGXA5LaHSCOiwWKBK/s320/zimbabue.gif" border="0" /></a> <span style="font-family:arial;"><span style="font-size:85%;color:#6600cc;"><em><span style="color:#000099;">Nas últimas Conferências da OIT, a situação do Zimbábue tem sido um dos pontos de acirrada discussão na Comissão de Normas. O Vermelho reproduz aqui os principais trechos do artigo do economista William Engdahl*, editor e colaborador do site canadense Global Research, traduzido por Maria Pimentel, da Secretaria de Relações Internacionais da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), que tem sistematicamente solidarizado com a luta deste valoroso povo africano, que com heroísmo defende sua soberania e suas riquezas.</span><br /></em></span></span><br /><span style="font-family:arial;">Robert Mugabe, o Presidente do Zimbábue, preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo, a região do Great Dyke, com uma faixa geológica que atravessa todo o território do nordeste ao sudoeste. O motivo real da piedosa preocupação da Administração Bush durante estes últimos anos pela situação dos direitos humanos no Zimbábue não se deve à suposta fraude na eleição de Mugabe ou às expropriações realizadas nas fazendas dos colonos brancos. O que parece ser seu pecado tem mais a ver com suas tentativas de escapar da dependência e do servilismo neocolonial anglo-estadunidense e buscar um desenvolvimento econômico nacional independente do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Seu pecado autêntico parece ser o fato de que tem se voltado para uma nação que oferece créditos governamentais e empréstimos brandos sem condicionamentos, para o desenvolvimento econômico: a República Popular de China.<br /><br />O Presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, é um homem muito, muito mau. Isso é o que todos deduzimos quando lemos os jornais ou escutamos os pronunciamentos de George W. Bush, do anterior Primeiro Ministro britânico Tony Blair e, mais recentemente, de Gordon Brown. Acusam-lhe de ser um ditador; de que expropriou, freqüentemente com violência, as fazendas dos brancos como parte de uma reforma agrária; proclamam também que forçou sua reeleição mediante o voto fraudulento e a violência, e que tem arruinado a economia do Zimbábue.<br /><br />Porém, se Robert Mugabe merece estar na lista de honra de "vilões" de Washington junto com Fidel Castro, Saddam Hussein, Milosevic, Ahmadinejad e Adolfo Hitler, não é essa a razão pela qual Washington e Londres têm feito da mudança de regime no Zimbábue a prioridade número um de sua política para a África.<br /><br /><strong>O legado de Cecil Rhodes</strong><br /><br />Zimbábue é o nome do que se chamou Rodésia durante a era do imperialismo britânico de um século atrás. O nome de Rodésia provinha do estrategista imperial britânico e mineiro Cecil Rhodes, fundador das bolsas Rhodes para Oxford, e autor de um plano para que a Rainha de Inglaterra exercesse seu controle privadamente sobre uma imensa zona africana que iria desde Egito à África do Sul. Cecil Rhodes criou a Companhia Britânica de Sul-áfrica, seguindo o modelo da Companhia das Índias Orientais, junto com o seu sócio, L. Starr Jameson, da Jameson Raid, de tão infausta lembrança, para explorar as riquezas minerais de Rodésia. Controlava o que se denominou depois de Rodésia do Norte (Zâmbia) e Rodésia do Sul - Nyasaland. O modelo implicava que o governo britânico assumiria todos os riscos para defender militarmente o saqueio de Rhodes, enquanto este e seus banqueiros londrinos, sobre tudo Lord Rothschild, que era um sócio muito chegado, levariam todos os lucros do negócio.<br /><br />Rhodes, um experimentado geólogo, sabia bem que havia uma falha geológica notável que ia desde a desembocadura do Nilo, no Golfo de Suez, em direção ao sul a través do Sudão, Uganda, Tanzânia, do que hoje se chama Zimbábue, até chegar à África do Sul. Rhodes tinha instigado já várias guerras para conseguir o controle dos diamantes de Kimberley e o ouro de Witwatersrand na África do Sul. E havia descoberto esse fenômeno geológico na década de 1880, junto com exploradores de empresas alemãs. E o chamaram de Valle de Great Rift.<br /><br />Rodésia, do mesmo jeito que a África do Sul depois das sangrentas guerras Boer, foi ocupada por colonos brancos para assegurar os futuros lucros minerais para os interesses aliados da City de Londres, principalmente os da poderosa família Oppenheimer e suas empresas de ouro e diamantes na região.<br /><br />Em 1962, quando a África viveu o impulso pela libertação nacional do domínio colonial - uma onda calculadamente apoiada pela "potência não colonial" de Washington - Rodésia foi um dos últimos bastiões, junto com a antiga colônia britânica da África do Sul, de domínio do Apartheid branco. Os brancos na Rodésia constituíam só 1-2% da população total, por isso seus métodos para se manter no poder eram absolutamente desapiedados.<br /><br />O Primeiro Ministro da supremacia branca, Ian Smith, preferiu declarar em 1965 a independência de Rodésia em relação à Grã Bretanha antes que chegar ao mais leve compromisso para compartilhar o poder com os nacionalistas negros. Grã Bretanha conseguiu sanções comerciais das Nações Unidas para forçar a Smith a dobrar os joelhos. Apesar das sanções, Smith teve um considerável apoio por parte dos interesses comerciais conservadores em Londres. O britânico Tony Rowland, chefe do conglomerado mineiro Lonrho, se assegurou o grosso de seus benefícios africanos das minas de cobre de Rodésia e das empresas sob o regime de Smith. A City de Londres sabia muito bem das riquezas que guardava Rodésia. A questão era como assegurar um controle duradouro. Os patrocinadores de Smith na Rodésia tinham pouco interesse em entregar tudo a Londres.<br /><br />Em 1980, após uma longa e sangrenta luta, o dirigente da Coalizão da Frente Popular Africana Negra, Robert Mugabe, venceu de forma esmagadora as eleições como Primeiro Ministro de um novo Zimbábue. Vinte e oito anos depois, o mesmo Robert Mugabe está sendo cada vez mais atacado por Ocidente, especialmente pelo antigo amo colonial do Zimbábue, a Inglaterra, incluindo fortes sanções econômicas desenhadas para levar o país à beira do colapso e para obrigá-lo a abrir a economia ao investimento estrangeiro (leia-se anglo-estadunidense e aliados). Ironicamente, a questão não parece muito distinta daquela da era de Ian Smith: o controle dos recursos por parte de Londres e EUA e os esforços do Zimbábue para resistir a esse controle.<br /><br /><strong>O great dyke<br /></strong><br />No Zimbábue, uma parte do rico Great Rift é o chamado Great Dyke, uma zona intrusiva** que é um tesouro geológico que se estende ao longo de 530 quilômetros desde o nordeste ao sudoeste do país, e que em alguns lugares tem até 12 quilômetros de largura. Um rio corre ao longo da falha e a região é vulcanicamente ativa. Ali jazem também imensos depósitos de cromo, cobre, platina e outros metais.<br /><br />O Departamento de Estado dos EUA, assim como Londres, é consciente dos imensos minerais e outras riquezas do Zimbábue. Num recente informe sobre o país se afirma:<br /><br />"O Zimbábue conta com ricos recursos minerais. As exportações de ouro, asbestos, cromo, carvão, platina, níquel e cobre poderiam levar um dia a uma recuperação econômica… O país está ricamente dotado de uma bolsa de gás metano que está ainda por esplorar.<br /><br />Com atrativos internacionais como as Cataratas Vitória, as ruínas de pedra do Grande Zimbábue, o Lago Kariba, e uma imensa vida selvagem, o turismo tem sido historicamente um segmento importante da economia e tem contribuído para a entrada de divisas. Porém, o setor se contraiu de forma aguda desde 1999, devido à imagem internacional de decadência do país" (sic).<br /><br /><strong>Recursos energéticos</strong><br /><br />"Com um considerável potêncial de energia hidroelétrica e abundantes depósitos de carvão para centrais de energia térmica, o Zimbábue depende menos do petróleo como fonte energética que a maioria de outros países de semelhante industrialização, mas ainda importa dos países vizinhos 40% da energia elétrica que necessita, sobre tudo de Moçambique. Só cerca de 15% do consumo energético total do Zimbábue se resolve a través do petróleo que é em sua totalidade importado – Importa cerca de 1,2 bilhões de litros de petróleo ao ano. O Zimbábue tem também importantes reservas de carvão que é utilizada para gerar energia e, os depósitos de bolsas de metano recentemente descobertos na província de Matabeleland são os maiores campos de gás até agora conhecidos no Sudeste da África. Em anos recentes, a deficiente administração econômica e as escassas reservas de divisas tem provocado sérias carências de combustível".<br /><br />Em resumo, cromo, cobre, ouro, platina, um imenso potêncial de energia hidroelétrica e imensas reservas de carvão é o que está em jogo no Zimbábue para Washington e Londres. O país tem também reservas de urânio ainda não quantificadas - mineral de grande demanda, atualmente, na produção de energia nuclear.<br /><br />Ultimamente ficou muito claro que enquanto o tenaz Mugabe controle as coisas, os sócios comerciais preferidos do Zimbábue não são os anglo-estadunidenses, mas os chineses. Esse parece ser o pecado maior de Mugabe. Não está seguindo o programa traçado por George W. Bush e seus amigos. Seu pecado real parece ser o de ter se voltado para o Oriente, em vez do Ocidente, em busca de ajuda econômica e para investimentos.<br /><br />Durante a Guerra Fria, a China reconheceu e apoiou Robert Mugabe. Em anos recentes, ao mesmo tempo em que a busca da China por matérias primas seguras fez com que sua diplomacia se intensificasse, as relações entre ambos países foram se fortalecendo cada vez mais. Segundo os meios de comunicação chineses, a China tem investido no Zimbábue mais que em qualquer outra nação.<br /><br />Retrocedendo à julho de 2005, enquanto Tony Blair apertava ainda mais as sanções contra o Zimbábue, Mugabe foi a Pequim para se reunir com os altos dirigentes chineses, onde, segundo se informou, solicitou um empréstimo de emergência pelo valor de 1 bilhão de dólares e pediu que se incrementasse a participação chinesa na economia.<br /><br />Essa colaboração começou rapidamente a dar frutos. Em junho de 2006, empresas de propriedade estatal do Zimbábue assinaram uma série de acordos nos campos da energia, mineração e agricultura com empresas chinesas pelo valor de bilhões de dólares. O maior acordo foi assinado com a China Machine-Building International Corporation, com um contrato pelo valor de 1,3 bilhões de dólares em minas de carvão e geradores de energia térmica no Zimbábue, com a finalidade de reduzir as carências elétricas do país. A companhia chinesa já tem construído centrais térmicas na Nigéria e no Sudão e tem participado em projetos minerais no Gabão.<br /><br />Em 2007, o governo chinês doou maquinaria agrícola ao Zimbábue pelo valor de 25 milhões de dólares, incluindo 424 tratores e 50 caminhões, como parte de um empréstimo de 58 milhões de dólares ao governo do Zimbábue. A administração de Mugabe tinha anteriormente expropriado as fazendas de propriedade branca e entregado aos negros, sendo o maquinário danificado durante o processo. Em troca do equipamento e dos empréstimos, o governo do Zimbábue enviará 30 milhões de quilogramas de tabaco para a República Popular de China.<br /><br />Os acordos entre o Zimbábue e a China incluíam um entre a Zimbábue Mining Development e a China's Star Communications, para formar uma empresa mista no setor da mineração de cromo, financiada pelo Banco de Desenvolvimento da China. O Zimbábue também acertou importar equipamento agrícola, para construir estradas e para regado, da China National Construction e da Agricultural Machinery Import and Export Corporation e do China Poly Group. O Zimbábue também importa da China equipamento para tele-comunicações, hardware militar e muitos outros aspectos importantes que já não pode importar do Ocidente devido às sanções auspiciadas pelos britânicos.<br /><br />Em abril de 2007, o presidente da alta instituição de assessoria política da China, Jia Qinglin, diretor do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política Popular da China, voou a Harare para se reunir com Mugabe. Seguiu-se a essa reunião a Cúpula de Cooperação China-África em Pequim em 2006, na qual o governo chinês convidou os presidentes de mais de quarenta estados africanos para discutir suas relações.<br /><br />A mineração gera a metade dos recursos por exportações do Zimbábue. É o único sector do país que ainda tem investimentos estrangeiros depois do colapso do importante setor agrícola. As companhias ocidentais com concessões mineiras no Zimbábue não as estão explorando.<br /><br />Em dezembro de 2007, a empresa chinesa Sinosteel Corporation, adquiriu uma participação de 67% dos Holdings Zimasco, o principal produtor e exportador de ferro-cromo do Zimbábue. Os Holdings Zimasco são o quinto maior produtor de ferro-cromo carburado do mundo e estão produzindo 210.000 toneladas de ferro-cromo com alto conteúdo em carvão por ano, quase todo ele obtido do Great Dyke, até representar 4% da produção global de ferro-cromo.<br /><br />Zimasco tem também as segundas maiores reservas de cromo do mundo, depois da África do Sul. Foi anteriormente propriedade da Union Carbide Corporation, e agora é parte da Dow Chemicals Corp.<br /><br />Controlar o avanço econômico da China é uma prioridade estratégica não declarada da política militar e exterior dos Estados Unidos e desde antes de 11 de Setembro de 2001. Mas a batalha pelas matérias primas está no coração da luta, e, segundo se relata, é a razão real da recente decisão de Washington de formar no Pentágono um Comando separado para África.<br /><br />A China se nega a seguir as normas do jogo neocolonial anglo-estadunidense. Não busca a aprovação do FMI ou do Banco Mundial antes de negociar com os países africanos.<br /><br />As riquezas minerais têm colocado uma vez mais a África no centro do cenário da batalha entre Oriente e Ocidente. Porém, nesta ocasião e à diferença da era da Guerra Fria, Pequim joga com melhores cartas e Washington vai atrás, bem de longe.<br /><br />* F. William Engdahl é autor de "A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order (Pluto Press), e "Seed of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation (</span><a href="http://www.globalresearch.ca/" target="_blank"><span style="font-family:arial;">www.globalresearch.ca</span></a><span style="font-family:arial;">). Pode-se entrar em contato com ele em sua página de Internet: </span><a href="http://www.engdahl.oilgeopolitics.net/" target="_blank"><span style="font-family:arial;">www.engdahl.oilgeopolitics.net</span></a><span style="font-family:arial;">.<br /><br />**Zona intrusiva - zona de riquezas minerais consolidadas em partes profundas.<br /></span>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-73574086871913640992008-07-06T17:02:00.000-07:002008-07-06T17:16:34.098-07:00Sobre o Presidente da Colômbia, Alvaro Uribe<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3dRFewnm2-vs46641A56N02Vc8EFJaMht4GryspKLQSB6aaZ7W6tnCyfkjVzMOMtJG2ne8g0CP0JKbLuSbIAfYVIkpPBuOkROsQorGfaXPs-SFLv_nQgcurVGABDIKfwYvCBUHfxhMoDa/s1600-h/excerto+numerado.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5220056108452004738" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3dRFewnm2-vs46641A56N02Vc8EFJaMht4GryspKLQSB6aaZ7W6tnCyfkjVzMOMtJG2ne8g0CP0JKbLuSbIAfYVIkpPBuOkROsQorGfaXPs-SFLv_nQgcurVGABDIKfwYvCBUHfxhMoDa/s320/excerto+numerado.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:arial;"><strong>Parte de um documento oficial americano sobre o passado de Álvaro Uribe e de muitos outros do seu governo. O documento pode ser consultado </strong></span><a href="http://memoriaecombate.blogspot.com/"><span style="font-family:arial;"><strong>aqui</strong></span></a><span style="font-family:arial;"><strong>.</strong></span>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-75578802793586546042008-07-06T16:56:00.000-07:002008-07-06T16:57:15.804-07:00O sindicalismo na Colômbia<strong><span style="font-family:arial;">"Detenções, torturas, assassínios: 2006 foi o ano mais violento para os sindicalistas, com 144 a serem mortos devido à sua actividade. Um relatório da Confederação Internacional de Sindicatos (CSI) revela um aumento de 25% no número de assassínios em relação a 2005. Como nos estudos anteriores, a Colômbia, com 78<br />mortes, foi o país mais violento."Os trabalhadores que procuram melhorar a vida através de actividades sindicais confrontam-se cada vez mais com a repressão", afirmou o britânico Guy Ryder, secretário-geral da CSI, no prefácio do relatório. O documento, que analisa a situação em 168 países, aponta a Colômbia como o caso mais preocupante. "O Presidente Álvaro Uribe procura convencer o mundo de que a situação está a melhorar, mas é mentira", disse Ryder. A maioria dos 78 sindicalistas mortos naquele país da América Latina foram vítimas dos paramilitares. "<br /></span></strong><br /><em><span style="font-size:85%;">in DN de 19.9.2007</span></em>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-78935125692238064492008-07-06T16:50:00.000-07:002008-07-06T16:54:34.969-07:00Como milhares de militantes foram liquidados na Colômbia<span style="font-family:arial;font-size:85%;"><strong>por Iván Cepeda Castro e Cláudia Giron Ortiz<br />in <span style="color:#009900;">Le Monde Diplomatique</span>, Maio de 2005</strong></span><br /><span style="color:#3366ff;">(texto em português do Brasil)</span><br /><p><span style="color:#3366ff;">Vida e morte da União Patriótica</span></p><span style="font-family:arial;"><strong>A exterminio dos membros da União Patriótica chama a atenção para uma das causas que explicam a duração e a crueldade do interminável conflito armado colombiano: uma democracia formal que camufla técnicas sofisticadas de eliminação dos opositores. Fora da Colômbia, sabe-se muito pouco sobre a repressão sistemática que golpeia os movimentos de oposição.<br />No âmbito de um conflito armado que já se eternizava, em 28 de março de 1984, durante o mandato do presidente Belisario Betancur, os representantes do Estado e a direção das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) assinaram os Acordos do Uribe. Estes estipulavam o compromisso do governo na promoção de reformas políticas, sociais e econômicas, condenavam os seqüestros e o terrorismo imputáveis ao grupo guerilheiro, com ambas as partes exprimindo sua vontade de pôr um fim a esse tipo de prática. Os acordos definiam ainda que, um ano após o início das negociações de paz, seria preciso fornecer as condições que permitissem ao grupo guerrilheiro "organizar-se politica, econômica e socialmente". Desse acordo nasceu, em maio de 1985, um partido político: a União Patriótica.<br /><br />Fora da Colômbia, sabe-se muito pouco sobre a repressão sistemática que, tanto ontem como hoje, golpeia no país os movimentos de oposição. Uma perseguição permanente é ali exercida, abertamente ou de maneira dissimulada, por setores do poder do Estado, por meio das forças militares, de corpos de segurança ou com a cumplicidade dos grupos paramilitares.<br /><br /><span style="color:#000099;">De onde vem a violência</span><br /><br />Há 50 anos, o Estado combina mecanismos legais e dispositivos ilegais que permitem o emprego arbitrário e excessivo da força.<br /><br />Devido a estratégias de impunidade particularmente eficazes, e à imagem confusa que os meios de comunicação social oferecem do conflito colombiano, é difícil identificar quem são os autores dos atos de violência. Os grupos ilegais (guerrilhas, paramilitares)? Os narcotraficantes? Em todos os casos, o Estado parece de fora. Ora, há 50 anos, o próprio Estado combina os mecanismos legais e os dispositivos ilegais que permitem um emprego arbitrário e excessivo da força.<br /><br />Assim, leis (sob pretexto de estado de exceção) permitem delegar às forças armadas funções da polícia judicial. A face escondida dessa política é constituída pelos dispositivos da "guerra suja": grupos paramilitares, atuações ilegais do exército nacional por meio de operações secretas das "brigadas de informações", ações de "guerra psicológica" etc.<br /><br />Em 1985, setores que têm como objetivo comum o estudo da reconciliação nacional pelo viés de transformações estruturais da sociedade participam na criação da UP. Em sua qualidade de formação pluralista de oposição, esta emite propostas inovadoras após décadas de hegemonia liberal e conservadora no país1. O seu programa propõe uma abertura para formas de democracia mais reais e profundas, incluindo mudanças sociais que visam ultrapassar a falta de eqüidade característica da sociedade. Considera igualmente a elaboração de uma nova carta constitucional (a proposta se tornaria realidade em 1991, por meio da convocação da Assembléia Nacional Constituinte que redigiria a nova Constituição).<br /><br /><span style="color:#000099;">Política de eliminação</span><br /><br />O método do "desaparecimento" forçado é utilizado para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros da União Patriótica.<br /><br />Contudo, alguns meses após a apresentação pública do novo movimento, várias violações dos acordos conduziram ao malogro da negociação. A guerrilha concentrou-se nas suas zonas de influência e a União Patriótica manteve-se no espaço público.<br /><br />Embora o Estado tenha se comprometido a favorecer sua ação política, os primeiros homicídios atingiram o movimento a partir de meados de 1985. Desde então, uma intenção criminosa se manifesta, visando destruir a UP: uma combinação de atos criminosos e de perseguição e de esfacelamento que tendem a provocar a eliminação total ou parcial do grupo opositor.<br /><br />Centenas dos seus membros e simpatizantes foram assassinados em massacres2. Em 11 de novembro de 1988, por exemplo, quarenta militantes foram executados publicamente na praça central de Segóvia, departamento de Antioquia. Produzindo-se de maneira simultânea, estes homicídios coletivos prolongam-se no tempo por meio de crimes individuais que visam destruir comunidades determinadas. Famílias inteiras são perseguidas, à imagem dos Cañon-Trujillo – que, devido a sua militância, viram, desde 1986, quatro dos seus familiares assassinados. O método do "desaparecimento" forçado é utilizado igualmente para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros do movimento.<br /><br /><span style="color:#000099;">Silêncio imposto</span><br /><br />As testemunhas são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça.<br /><br />Contra os eleitos e os líderes do grupo, é empregado o método do assassinato seletivo. Dois candidatos às eleições presidenciais, Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa, foram assim eliminados, respectivamente, em 1987 e 1990. Em 1994, a UP perde o seu último membro do Parlamento, com o assassinato do senador Manuel Cepeda Vargas. Anteriormente, oito parlamentares foram vítimas de atentados mortais, quase sempre em seu domicílio. Centenas de prefeitos e representantes dos poderes locais foram mortos. Por vezes, assistiu-se ao assassinato sucessivo de quatro prefeitos integrantes do movimento numa mesma localidade. As sedes da UP sofreram mais de trinta atentados à bomba. Quanto às testemunhas, são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça.<br /><br />O resultado desta estratégia multiforme de perseguição foi a morte violenta de mais de 3 mil pessoas e o deslocamento ou o exílio forçados de um número indeterminado – a base social desta coletividade política. Tais números têm um caráter provisório. Ainda hoje multiplicam-se perseguições, ameaças e execuções. A grande maioria dos casos permanece coberta por uma impunidade total. Num relatório especial, o Escritório do Ombudsman assinalou que dos numerosos atos de violência cometidos contra a UP entre 1985 e 1992, a Justiça ordenou sentenças condenatórias em apenas quatro casos.<br /><br />O Estado colombiano sempre se recusou a reconhecer sua responsabilidade nesta eliminação sistemática. Eximiu-se de adotar qualquer medida que tendesse a admitir que os autores de tais atos são membros da força pública que agem freqüentemente em companhia de paramilitares, e deu a entender que o que aconteceu com a UP seria o resultado de "fatos individuais e sem relações" cometidas por narcotraficantes durante vinganças locais ou por delinqüentes comuns.<br /><br /><span style="color:#000099;">Legitimação da violência</span><br /><br />Tenta-se justificar os massacres no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.<br /><br />Legitimando a violência exercida, certos funcionários do Estado sustentaram que, em última instância, o destino sofrido pela UP era "previsível", por se tratar de um movimento nascido de acordos com a guerrilha. Do mesmo modo, procuraram minimizar os massacres cometidos, "feitos entre tanto outros", no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.<br /><br />Mesmo o atual presidente da república, Álvaro Uribe Vélez, afirmou, quando de sua campanha eleitoral, que "o erro" cometido com a UP era compreensível, porque não se pode "combinar a política com os fuzis3". O silêncio de influentes setores da sociedade colombiana – como a alta hierarquia da Igreja Católica – perante a legitimação pública desta onda de criminalidade contribuiu para a consolidação de um ambiente de permissividade generalizada diante da cadeia ininterrupta de atos de violência.<br /><br />A campanha de extermínio foi selada por uma medida administrativa que privou o grupo de oposição de qualquer estatuto legal, quando o Conselho Nacional Eleitoral afirmou que a UP "não reúne o número de sufrágios eleitorais necessários" para a renovação da sua personalidade jurídica. Esta medida não somente constitui um obstáculo legal à ação pública dos sobreviventes do movimento, mas tem também um evidente significado simbólico: após a destruição física do grupo político pelo poder de Estado, este legaliza o seu "falecimento" através de uma decisão oficial.<br /><br /><span style="color:#000099;">Genocídio político</span><br /><br />As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo caráter de "genocídio" com motivos políticos.<br /><br />A destruição desta corrente de oposição provém da tradição de exclusão e sectarismo político historicamente enraizada na Colômbia. Durante a segunda metade do século passado, a violência política custou a vida de opositores de diversas tendências e origens. Nos anos 1940 e 1950, milhares de partidários e simpatizantes do movimento de Jorge Eliécer Gaitán – líder do liberalismo popular, assassinado em 1948 – foram vítimas de atentados ou de massacres executados por grupos paramilitares promovidos pelos governos conservadores4. Do mesmo modo, os opositores à hegemonia dos partidos liberal e conservador, ou seus dissidentes, se viram tradicionalmente confrontados com perseguições sistemáticas. Tais crimes ocorreram não somente em situação de conflito armado, mas também no âmbito da negociação ou da aplicação de acordos de paz. Em cada um desses processos, a norma foi o assassinato do porta-voz dos grupos armados de oposição, seja durante os períodos de negociação ou quando da sua reintegração à vida legal.<br /><br />Confrontados com a ausência de garantias para obter justiça, as vítimas e os sobreviventes da UP recorreram a instâncias internacionais e, em especial, aos mecanismos propostos para esse efeito pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Neste quadro, a Comissão Interamericana dos Direitos do Homem (CIDH) admitiu o caso "11.227" no qual é examinada a exterminação da UP, a pedido da associação “Reiniciar” e da Comissão Colombiana dos Juristas. As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo um caráter de "genocídio" com motivos políticos.<br /><br />A Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948) estipula que se pode falar em genocídio apenas quando a ação de destruição é dirigida contra grupos de caráter nacional, étnico, racial ou religioso. Contudo, o debate contemporâneo sobre a doutrina do direito internacional e as ciências sociais responsáveis pelo estudo desta forma de violência extrema tende a reforçar a convicção de que é necessário alargar o âmbito da aplicação deste conceito aos massacres globais cometidos contra coletividades que se identificam pelos ideais políticos.<br /><br /><span style="color:#000099;">Sob o comando do Estado</span><br /><br />Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado.<br /><br />Em 1985, Benjamin Whitaker, relator especial da ONU sobre questões de genocídio, reconhecia no seu relatório a necessidade de incluir outros grupos (sociais, sexuais, políticos) na definição da Convenção contra o genocídio. Em novembro de 1998, o Tribunal Nacional Espanhol reviu suas competências para julgar os membros da junta militar argentina. Numa decisão unânime, declarou-se habilitado a convocar por delito de genocídio os militares que, entre 1976 e 1983, tentaram eliminar um grupo devido às suas convicções políticas. A sentença assinala: "o que caracteriza o genocídio é o extermínio de um grupo por razões raciais, religiosas, políticas ou outras". E o Tribunal acrescenta que, no caso em questão, houve tentativa de "depuração ideológica" dos que "não tinham lugar no projeto de reorganização nacional5".<br /><br />No âmbito do sistema regional de proteção dos direitos humanos, os conselheiros jurídicos do Estado colombiano têm entendido inicialmente que o caso da UP não podia ser recebido pela Comissão Interamericana, pois se trata de fatos de violência "não ligados entre si". Do seu lado, a CIDH assinala no relatório 5/97 sobre a admissibilidade deste caso que "os requerentes apresentaram argumentos que visam estabelecer uma prática de assassinatos políticos de massa e a perseguição extrema dos membros da União Patriótica com a intenção de eliminar fisicamente o partido e de diluir a sua força política". Neste mesmo relatório, a instância internacional pronuncia-se em prol da análise do caso com base na existência de elementos suficientes para determinar "uma norma de perseguição6".<br /><br />A colocação em evidência das ações sistemáticas permitiria demonstrar que os casos da UP, aparentemente isolados, corresponderiam a um esquema de extermínio dirigido de maneira orquestrada. Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado. Os planos de extermínio regional "Esmeralda" (1988) e "Retorno" (1993) teria tido como objetivo fazer desaparecer várias seções regionais da UP. De amplitude nacional, a "Operação Condor" (1985) e os planos "Baíle Rojo" (1986) e "Golpe de Gracia" (1992) teriam visado minar as estruturas de direção do movimento e assassinar ou seqüestrar seus líderes eleitos das estruturas de Estado(7.)<br /><br /><span style="color:#000099;">Em busca de um acordo</span><br /><br />No âmbito do processo perante a CIDH, atualmente é discutida uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP.<br /><br />Conseqüência da pressão das vítimas e dos sobreviventes, o código penal colombiano atualmente em vigor reconheceu a figura do genocídio por motivos políticos crime atroz, que este sumário normativo define como fato "de destruir total ou parcialmente um grupo por razões políticas" e provocar a morte dos seus membros "por pertencer a este último".<br /><br />No âmbito do processo levado a efeito perante a CIDH, atualmente são discutidos os termos de uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP. Esta diligência deve conduzir a um eventual acordo que considera o direito à verdade e à justiça. Caso contrário, induziria a continuação do processo, levando a uma possível condenação do Estado colombiano.<br /><br />Em 9 de fevereiro de 2004, por meio de uma declaração do vice-presidente da República, Francisco Santos, o governo anunciou que estava disposto a avançar na busca de uma solução amigável. Nesta declaração pública foi afirmado que os crimes maciços cometidos contra a UP constituem-se em "uma página vergonhosa da história do nosso país". Contudo, algumas horas após este anúncio oficial, Santos recomeçava a eximir a responsabilidade do Estado. Diante dos meios de comunicação, e utilizando os militantes do movimento como bodes expiatórios, o vice-presidente afirmou que os crimes seriam obra dos narcotraficantes que, num contexto de polarização, teriam realizado "acertos de contas" com guerrilhas.<br /><br /><span style="color:#000099;">O pretexto antiterrorista</span><br /><br />Sob pretexto de ação antiterrorista, militantes são presos e exibidos diante das câmaras de TV, apresentados como membros de organizações armadas subversivas.<br /><br />Como não duvidar da sinceridade do poder? Sem obstáculos nem reações, atrocidades continuam a ser cometidas contra a UP. Elementos da política de "segurança democrática" instaurada pelo presidente Álvaro Uribe Vélez incentivam o extermínio e a perseguição judicial dos sobreviventes do movimento. Sob pretexto de ação antiterrorista, muitos de seus militantes foram presos em batidas maciças e exibidos diante das câmaras de televisão, apresentados como membros das organizações armadas subversivas.<br /><br />Sob o atual governo, mais de 150 militantes da UP foram vítimas de homicídios ou de "desaparecimentos" em várias regiões do país. Constatou-se igualmente deslocamentos maciços em zonas onde a oposição política ainda exerce influência. Após desarticular as estruturas do movimento, entra-se numa fase que se propõe incontestavelmente eliminar os sobreviventes.<br /><br />Estas novas denúncias não provocaram nenhuma ação notável do Estado para prender e julgar os organizadores das ações criminosas. Em contrapartida, assiste-se a novos procedimentos vexatórios contra as vítimas. Assim, o corpo sem vida de Alirio Silva – líder regional da UP assassinado em 1 de março de 2004, na região do Putumayo – foi submetido a uma cadeia de "procedimentos administrativos" que tornaram impossível o seu transporte para Bogotá antes que fosse feita uma autópsia com o objetivo de verificar se não se tratava de um "cadáver-armadilha" preparado pela guerrilha para um atentado.<br /><br /><span style="color:#000099;">Obstáculo à democracia</span><br /><br />O ceticismo em relação à viabilidade de uma ação política de forma cidadã reforça a crença na via da violência para resolver os problemas do país.<br /><br />Por outro lado, desde 27 de novembro de 2002, o governo do presidente Uribe iniciou uma "reintegração à sociedade" dos grupos paramilitares. Uma parte desta política de reintegração parece querer apoiar-se em medidas legislativas e administrativas capazes de garantir a impunidade e o perdão incondicional dos paramilitares. Isso significaria que vários dos principais autores do genocídio contra a UP seriam isentos automaticamente de qualquer responsabilidade, e que o processo de esclarecimento e reparação das vítimas seria assim seriamente prejudicado.<br /><br />O conjunto dos atos de terror e de violência perpetrados contra a UP constituiu um obstáculo na perspectiva de democratização da sociedade colombiana. E não é a única conseqüência. Reforçando o medo de exprimir livremente a sua oposição, provocando um profundo ceticismo em relação à viabilidade de levar a cabo uma ação política de maneira cidadã, reforçaram a convicção dos que crêem apenas na via da violência para resolver os problemas do país.<br /><br /><em>(Trad.: Marcelo de Valécio)</em><br /><br /></strong>1 - O Partido Liberal e o Partido conservador compartilham o poder desde 1958.<br />2 - Por "massacre" entende-se o assassinato de mais de três pessoas.<br />3 - Álvaro Uribe Vélez, “ Manifiesto democrático. 100 puntos del programa de Gobierno”<br />4 - Conhecido sob o nome de "La Violencia", este período de guerra civil provocou a morte de 300 mil pessoas.<br />5 - “Auto de la Sala de lo Penal de la Audiencia Nacional confirmando la jurisdicción de España para conocer de los crímenes de genocidio y terrorismo cometidos durante la dictadura argentina ”, Madrid, 4 novembre 1998.<br />6 - Referência e data do relatório 5/97.<br />7 - Jahel Quiroga-Carrillo, “ La Unión Patriótica: el exterminio de una esperanza ”, in “Memorias del Seminario sobre el Proceso de Búsqueda de Solución Amistosa en el Caso de la Unión Patriótica que se adelanta ante la CIDH”, Procuraduría General de la Nación – Embajada de Suiza en Colombia, 2003, p.137.</span>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-41397195736107368012008-05-29T14:49:00.000-07:002008-05-29T14:51:18.503-07:00A vida<a href="http://www.rebelion.org/"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5205920487572091186" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjEhMmWNCX5u3jycL1MOPsgmD5Z1qYGqqdL1lw3y9RWCyCSlYr6jMdqeBmv1Dlk-5XxfXQf63TxgOgkgb8dZjoaU9H_igv06dd4FgKi4cmCG25hUTWOX5JEhLcoaHEejG1JPuZk8yoD8j9/s320/Farc.jpg" border="0" /> Via Rebelion</a><br /><div></div>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-61828050461034989732008-05-28T14:27:00.000-07:002008-05-28T14:30:08.977-07:00Marulanda, Herói da América Latina<strong>Neste artigo Miguel Urbano Rodrigues recorda a trajectória revolucionária do comandante Manuel Marulanda e as circunstâncias em que conheceu na selva o dirigente das FARC, no qual identifica um herói da América Latina.</strong><br /><br />Sucessivos governos da Colômbia anunciaram a sua morte vinte vezes. As cadeias de televisão e a grande imprensa da Europa e dos EUA comentaram esse acontecimento e, com poucas excepções, insultaram e caluniaram o combatente. Depois divulgaram desmentidos para o ressuscitar. Porque Manuel Marulanda continuava vivo, lutando nas montanhas e selvas do seu país.<br /><br />Ele sabia que não era eterno. Faleceu no dia 26 de Março. Mas, para decepção do fascismo colombiano e do imperialismo não foram as bombas e mísseis que abateram o comandante-chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-FARC. Marulanda morreu de um enfarte, algures na selva, com a sua companheira ao lado, rodeado de camaradas.<br /><br />É necessário subir até Bolívar para encontrar na história da América Latina alguém com uma trajectória comparável. Ambos lutaram no mesmo cenário; ambos realizaram feitos que trazem à memória heróis mágicos da Ilíada de Homero. Mas, ao contrário do Libertador, Marulanda nasceu pobre numa família de camponeses do Quindio. Foram o espectáculo da miséria das populações rurais da Cordilheira e o sentimento de revolta contra a repressão de que elas eram alvo que fizeram dele um revolucionário. O guerrilheiro que aprendeu a ler já adulto tornou-se comunista ao compreender que a autodefesa dos camponeses era inseparável de uma luta maior, de dimensão planetária, contra a engrenagem de poder responsável pela violência que os esmagava e pela situação semi-colonial da sua pátria.<br /><br />Quando a oligarquia bogotana e antioquenha identificou uma ameaça naquela «rebelde» que recusava amnistia e não se submetia, mobilizou um exército de 10.000 homens para destruir o grupo guerrilheiro que na remota Marquetália não entregava as armas.<br /><br />Marulanda contava somente com 46 combatentes. Ocorreu então um dos muitos impossíveis que iriam marcar a sua vida de lutador. A guerrilha, combatendo quase diariamente, rompeu o cerco. Essa saga esteve na raiz das FARC. A guerrilha de Marquetália, armada com uma ideologia humanista e revolucionária, transformou-se com o rodar dos anos no Exército Revolucionário do Povo, uma força avaliada em 15.000 combatentes, que se bate hoje, 44 anos após a sua criação, contra o Exército de Uribe em 60 Frentes.<br /><br />O escritor Arturo Alape, num livro belo, recorda situações e factos que, pela atmosfera de excepcionalidade, mais parecem coisa de magia.<br />Mas foram reais.<br />Marulanda atravessou muitas vezes os Andes, combatendo. Na Colômbia a Cordilheira ciclópica divide-se em três ramificações, separadas por vales profundos. E uma coluna das FARC, sob o seu comando, repetiu o que era considerado absolutamente impossível. Cruzou a Cordilheira Central, de Ocidente para Oriente, através de desfiladeiros ocupados pelo exército, rompendo sucessivos cercos numa campanha que leva Arape a concluir que Marulanda como estratego somente encontra precedentes em Alexandre, Aníbal e Napoleão.<br /><br /><strong>ENCONTRO COM TIRO FIJO</strong><br /><br />A vida proporcionou-me a oportunidade de encontrar uma vez Marulanda. Foi em Junho de 2001 na aldeia amazónica de La Macarena, após um almoço oferecido pelas FARC a delegações da Cruz Vermelha e de diferentes países que tinham acompanhado o processo de intercâmbio humanitário de prisioneiros. As FARC, em gesto unilateral, tinham libertado naquela manhã uns 300 prisioneiros quase todos militares capturados em combate.<br /><br />Foi o comandante Raúl Reyes, de quem eu era convidado, que me apresentou ao comandante-chefe das FARC, o então já legendário Tiro Fijo, como era conhecido pela sua pontaria. Durou escassos minutos a troca de palavras porque Marulanda estava rodeado de embaixadores de países europeus.<br /><br />Chovia torrencialmente e a água que se despenhava do céu em cataratas sobre a cobertura de plástico que protegia o terreiro do almoço produzia um ruído tão forte que dificultava as conversas. Mas não esqueci que os diplomatas se dirigiam com muito respeito ao dirigente revolucionário, disputando-lhe a atenção.<br /><br />Nenhum dos presentes poderia naquele dia prever que a União Europeia, cedendo a pressões de Washington, iria definir as FARC como organização terrorista e que o futuro governo de Uribe colocaria a prémio, por milhões de dólares, a cabeça de Manuel Marulanda.<br /><br />Recordo também ter pedido ao comandante-chefe que me concedesse uma entrevista.<br /><br />Quase lhe escuto ainda a sua resposta ao pedido, pronunciada com a lentidão que lhe tornava a voz inconfundível. Sugeriu uma data posterior ao meu regresso a Havana, cidade onde então eu residia.<br /><br />Pedi-lhe então que respondesse apenas a três perguntas que enviaria por uma colega cubana, que, essa sim, poderia entrevistá-lo no dia proposto. Marulanda concordou e cumpriu. A entrevista foi publicada no Avante!<br /><br /><strong>A LUTA DAS FARC PROSSEGUE</strong><br /><br />Desde essa jornada na Macarena, o governo da Colômbia anunciou várias vezes que Marulanda falecera ou estava moribundo. Mentia. Como mentiu ao repetir em diferentes ocasiões que as FARC tinham recebido golpes tão duros que estavam à beira da desagregação.<br /><br />Não obstante aparecerem, com os seus 380.000 homens, como as mais poderosas da América Latina – equipadas com armas que Washington somente fornece a Israel – as Forças Armadas da Colômbia acumularam derrotas em todas as ofensivas que tinham por objectivo o aniquilamento das FARC. O resultado decepcionante do Plano Patriota nos Departamentos do Caquetá e do Meta ficou, aliás, transparente na renúncia de meia dúzia de generais do Exército.<br /><br />O povo colombiano tem hoje consciência de que a escalada belicista de Uribe fracassou e que não há solução militar para a guerra civil.<br /><br />Mas o governo neofascista de Bogotá fecha as portas ao intercâmbio humanitário de prisioneiros nas bases propostas pelas FARC que implicariam a retirada prévia de todas as forças militares dos municípios de Florida e Pradera.<br /><br />As FARC numa demonstração de boa vontade, entregaram, entretanto, à Cruz Vermelha Internacional alguns prisioneiros em gesto unilateral. Mas Uribe respondeu inviabilizando a mediação de Hugo Chávez e da senadora liberal Piedad Cordoba.<br /><br />A campanha, de matizes farisaicos que exige incondicionalmente a libertação de Ingrid Betancourt veio porém criar, paradoxalmente uma situação muito incómoda para Uribe. Ao tomar conhecimento de contactos entre o comandante Raúl Reyes e o governo francês, o presidente colombiano concebeu e executou – com a cumplicidade da Casa Branca e do Pentágono – o plano cujo desfecho foi o assassínio daquele comandante das FARC e de mais vinte dos seus camaradas na acção criminosa que violou a soberania do Equador.<br /><br />A morte de Marulanda ocorreu a 26 de Março no auge da campanha de desinformação promovida pelo fascismo uribista – depois da manipulação dos computadores de Raúl Reyes – com o fim de comprometer os presidentes da Venezuela e do Equador e de apresentar as FARC como envolvidas em negócios do narcotráfico e de armas.<br /><br />Tornar publico o falecimento de Marulanda nos dias em que Uribe proclamava, triunfalista, que as FARC estavam em processo de destruição como força de combate permitiria ao presidente neofascista utilizar o acontecimento para promover a confusão e a desinformação.<br /><br />A divulgação da notícia foi assim atrasada durante muitas semanas até chegar ao conhecimento do governo de Bogotá.<br /><br />A partir de então ocorreu o que se previa. Para além da torrente de calúnias da propaganda oficial, os epígonos do uribismo não se limitaram a festejar a morte de Marulanda, apresentando-o como bandoleiro e assassino. De especulação em especulação identificaram no desaparecimento do comandante-chefe da organização guerrilheira o prólogo do seu fim iminente. As Forças Armadas chegaram ao absurdo de afirmar que teria morrido possivelmente durante um bombardeamento do seu acampamento.<br /><br />Perante as proporções da orquestração reaccionária, o secretariado do Estado-Maior Central das FARC considerou chegado o momento de tornar pública a morte de Manuel Marulanda. A notícia foi divulgada através de um comunicado lido pelo comandante Timoleón Jimenez e transmitido em primeira-mão pela Telesur venezuelana. Nesse documento a direcção das FARC informa que o novo comandante-chefe é o Comandante Alfonso Cano. E prestando comovida homenagem a Marulanda, pela sua capacidade de liderança, lucidez ideológica e talento como estratego militar, sublinham a decisão inquebrantável de prosseguir em todas as Frentes até â vitória final a luta pelo «poder político, por uma sociedade de justiça social e pelo socialismo».<br /><br />As campanhas de calúnias contra as FARC vão continuar, paralelas à guerra cujo objectivo é o seu aniquilamento.<br /><br />O fim desta guerra não tem data no calendário. Mas o povo da Colômbia já percebeu que Uribe e os seus ministros somente deixaram marcas na História pelos seus crimes. E está consciente de que Manuel Marulanda conquistou já a eternidade, ocupando lugar ao lado de Bolívar no panteão dos heróis autênticos da América Latina.<br /><br /><em><span style="font-size:85%;">Serpa, 27 de Maio de 2008</span></em><br /><br /><a href="http://odiario.info/articulo.php?p=746&more=1&c=1">Via O diario.info</a>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-13015703231615974282008-05-25T16:16:00.000-07:002008-05-25T16:18:06.626-07:00Sobre MarulandaMarulanda foi vítima de um ataque do coração, no dia 26 de Março, aos 77 anos. É a terceira grande perda seguida na cúpula das Farc — apenas em 2008, já morreram o número 2 da guerrilha, Raúl Reyes, em ataque colombiano em território equatoriano, e Iván Rios, assassinado por seu próprio segurança.<br /><br /><br /><strong>Quem foi Marulanda</strong><br /><br /><br />Pedro Antonio Marin — conhecido como Manuel Marulanda Vélez ou Tirofijo (tiro certeiro, em espanhol) — nasceu em 12 de Maio de 1930 em Génova, departamento de Quindío. Antes de deixar o povoado, ''expulso pela violência'', foi açougueiro e lenhador. Segundo alguns de seus biógrafos, ganhou o apelido de Tirofijo pela boa pontaria — dizia-se que, ''onde punha o olho, punha a bala''.<br /><br />Sua vida ficou profundamente marcada pelo assassinato, em 1948, do líder do Partido Liberal, Jorge Eliécer Gaitán. Marulanda passou a ser perseguido pelo governo de Ospina Pérez. Desde essa época, viveu foragido. O baptismo de fogo como guerrilheiro teve lugar em Setembro do ano seguinte — quando, acompanhado de vários irmãos e primos, atacou seu povoado natal após um ataque frustrado da polícia. Passou, então, a organizar grupos de resistência nas montanhas da região, onde ainda se escondia.<br /><br />Nos anos 60, com Luis Alberto Morantes, foi um dos fundadores, das Farc, depois que o Exército colombiano desfechou uma grande operação para desmantelar a “República de Marquetalia” — um enclave rural no centro do país mantido por grupos armados de ideologia próxima ao comunismo agrário. O dia 27 de Maio de 1964 é considerado a data oficial do nascimento da guerrilha de esquerda, que se estendeu a boa parte do país.<br /><br /><br />Assim como Marquetalia, outros enclaves se formaram na Colômbia durante o período conhecido como “La Violência”, de 1948 a 1958, quando os dois principais partidos do país — o Conservador e o Liberal — formaram milícias e se envolveram em sangrentos confrontos armados. Com a trégua entre as duas forças, os militares decidiram pôr fim aos redutos, obrigando Marulanda e seus aliados comunistas a se refugiarem nas montanhas.<br /><br /><br />Até 1966, as Farc eram conhecidas apenas pelo nome de ''Bloco Sul''. Seu crescimento foi modesto entre 1974 e 1982, centrado sobretudo nas zonas camponesas distantes dos grandes centros urbanos. No período, seu contingente era estimado em até 15 mil homens, espalhado por todas as partes da Colômbia e ameaçando o poder central.<br /><br /><br /><strong>Mudança de táctica</strong><br /><br /><br />O governo de Belisario Betancur (1982-86) promoveu uma ampla negociação de paz que terminou por incluir os guerrilheiros das Farc no cenário político legal do país, ao lado de outros grupos de esquerda, sob a legenda da União Patriótica (UP). Fracassadas as negociações com o governo, o grupo se estendeu a outras regiões da selva amazónica e do planalto colombiano.<br /><br />A UP e a trégua na política colombiana acabou com a campanha de assassinatos — por parte de paramilitares —, que custou a vida de um número estimado de 3 mil membros do partido. Marulanda ordenou o reagrupamento das Farc, que iniciaram ofensivas maciças em todo o interior da Colômbia. Intensificaram-se os sequestros de policiais e soldados, assim como atentados a políticos e incursões a cidades e vilas inteiras. Em quase quatro décadas, estima-se que o conflito civil no país tenha deixado mais de 30 mil mortos.<br /><br />Uma nova tentativa de paz surgiu em 2001, quando o presidente Andrés Pastrana ordenou a desmilitarização de uma área equivalente à da França no sudoeste do país para servir de sede para negociações com as Farc. Marulanda fez, então, a maior parte de suas raras aparições públicas. No entanto, a iniciativa novamente não prosperou.<br /><br />Desde os anos 80, Marulanda manteve, ao mesmo tempo, a influência sobre os comandantes da guerrilha e a conduta pessoal discreta. Alguns dos companheiros destacam sua aparência de “camponês bonachão”. Para muitos analistas, o carisma que levou Marulanda à máxima liderança da guerrilha decorria da capacidade de conciliar posições entre a ala política e o braço militar do “secretariado” (a instância administrativa) das Farc.Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-32622698750554936612008-05-15T13:56:00.000-07:002008-05-15T14:05:18.622-07:00Timor-Leste: Conspiração acentua-se quando ocorre a rendição do líder duma alegada tentativa de “golpe”<strong>Depois da negociação da sua prisão com as forças ocupantes da Indonésia, Xanana Gusmão não para de descer o plano inclinado em que então mergulhou. Agora, com a divulgação de notícias sobre a morte do ex major Reinado e os subsequentes acontecimentos políticos, avolumam-se interrogações sobre as circunstancias que envolveram o atentado contra Ramos Horta.É igualmente muito estranho o pesado silêncio do Governo e dos media portugueses sobre a evolução dos acontecimentos em Timor</strong><br /><br />Patrick O’Connor - 15.05.08<br /><br /><br />Gastão Salsinha, o alegado co-líder do que foi rotulado «tentativa de assassínio contra o Presidente José Ramos Horta e o Primeiro-Ministro Xanana Gusmão» em 11 de Fevereiro, rendeu-se às autoridades em Dili na Terça-feira. Salsinha é especificamente acusado de atacar o veículo de Gusmão depois do antigo major Alfredo Reinado ter sido morto a tiro por soldados, na residência de Ramos-Horta. O antigo tenente das forças armadas nega essas acusações e insiste que nem ele, nem Reinado, tentaram orquestrar um golpe ou um assassínio.<br /><br />A rendição de Salsinha veio, conjuntamente, com o temor de mais revelações que colocam mais dúvidas sobre a explicação oficial para os acontecimentos lamacentos de 11 de Fevereiro, e apontam mais uma vez para a possibilidade de o próprio Reinado ter caído numa cilada de assassínio.<br /><br /><br />Salsinha tinha andado em fuga, com cerca de doze dos seus homens, nos distritos do oeste de Timor desde os alegados ataques contra Gusmão. Anteriormente, liderou os 600 soldados conhecidos como “peticionários”. O seu motim em 2006 precipitou uma ampla violência do que resultou a fuga de 150.000 timorenses das suas casas. O conflito foi seguido de uma intervenção militar Australiana e do derrube do governo da Fretilin, liderado por Mari Alkatiri.<br /><br /><br />Salsinha concordou formalmente em render-se na passada sexta-feira, e passou os dias seguintes em negociações na cidade do oeste de Gleno. Mas, ele rendeu-se, oficialmente, em Dili, na terça-feira juntamente com 12 camaradas, ex-soldados, incluindo Marcelo Caetano, que alegadamente terá baleado Ramos-Horta.<br /><br /><br />Ramos-Horta encontrou-se publicamente com os soldados amotinados em Dili quando entregaram formalmente as armas e se submeteram à polícia timorense numa cerimónia realizada no Palácio do Governo. Com o Primeiro-Ministro Gusmão, em Jacarta, para conversações com o governo Indonésio, o Vice-Primeiro-Ministro José Luis Guterres presidiu à rendição e declarou ela constituía “momento histórico” para Timor-Leste.<br /><br />No mês passado, Salsinha deu uma entrevista telefónica ao programa “Dateline” da televisão da Austrália, SBS. Nessa entrevista, Salsinha afirmou: “Há muitas acusações contra nós, sobre da morte do Major Alfredo e do presidente ter sido ferido e também sobre o ataque ao primeiro-ministro.” “Dizem todos que estávamos a planear um golpe, mas estão a mentir. Seja o que for que digam estão a tentar manchar a nossa reputação.... Estive lá mas não tinha qualquer intenção de fazer um golpe ou prejudicar o primeiro-ministro. Se tivéssemos planeado atacar o primeiro-ministro, ele não teria chegado a Dili.”<br /><br />Salsinha disse ao “Dateline” que, manhã cedo, a 11 de Fevereiro, Reinado, “estava bêbado”, e ordenou aos seus homens para o acompanharem a Dili onde se ia encontrar com Ramos-Horta e Gusmão. Salsinha disse que esperou numa estrada que vai para a casa de Gusmão e que aguardava mais instruções enquanto Reinado foi à casa de Ramos-Horta.<br /><br />Isso mantém obscuro o que aconteceu a seguir. Alguns relatos dizem que Salsinha recebeu uma mensagem de texto a informá-lo que Reinado tinha sido morto a tiro e que então o líder dos peticionários tentou sem sucesso emboscar a caravana de Gusmão. Mas, o deputado do governo, Mário Carrascalão, questionou porque não foi ninguém ferido na alegada emboscada, enquanto Mari Alkatiri insiste que a Fretilin tem provas fotográficas que indicam que todo o incidente foi falsificado.<br /><br />O programa “Dateline”, emitido em 16 de Abril, incluía uma entrevista com um dos homens de Reinado, cujo “nome de guerra” é Teboko, que esteve envolvido no confronto em casa de Ramos-Horta. Teboko insiste que Reinado tinha uma entrevista marcada com o presidente.<br /><br />“Tínhamos uma ordem de Alfredo para não atacar a residência do presidente,” disse ele ao programa do SBS. “É claro. Compreende-se bem, se fossemos para o atacar, podíamos tê-lo baleado em Maubisse ou Suai quando o encontramos [previamente]. Não projectávamos isso. Isso não estava nas nossas mentes. Tínhamos um encontro marcado do presidente com o Major Alfredo e íamos com dois veículos. Chegamos sem nenhuma preparação armada ou militar. Como sabemos, as F-DTL [militares Timorenses], dispararam primeiro contra nós. Eles mataram o Major Alfredo e o membro Leopoldino. O jornalista do “Dateline”, Mark Davis, explicou: “de acordo com Teboko, cerca de 10 minutos depois de entrarem no complexo, sem nenhum fogo de armas e nenhuma ameaça, Alfredo Reinado foi de repente morto a tiro. Encontro encerrado.”<br /><br />Um relato idêntico foi feito por Natália Lidia Guterres, a viúva de Leopoldino, o homem de Reinado que também foi morto na residência de Ramos-Horta. Ela disse ao The Australian que o marido entrou em casa às 3 da manhã, em 11 de Fevereiro, para mudar o uniforme. Contou ao jornal que Leopoldino tinha dito “vamos ter um encontro com o Senhor Presidente”. O artigo, publicado em 19 de Abril, continuava: “Natália disse que Leopoldino parecia ‘muito feliz’ porque iam resolver coisas num encontro que a [Angelita] Pires tinha arranjado.”<br /><br />The Australian sublinhou também que um mapa da residência de Ramos-Horta, feito à mão, foi encontrado no corpo de Reinado. Os detalhes foram alegadamente dados por Albino Assis, um dos guardas militares de Ramos-Horta, que tinha também trabalhado ao lado de Reinado na polícia militar antes da crise de 2006. Os registos telefónicos demostram que Reinado teria , supostamente, falado com Assis, imediatamente antes do alegado ataque na residência de Ramos-Horta.<br /><br />The Australian sugeriu que Assis tinha traído Ramos-Horta e que estava colaborando com Reinado. Mas se fosse esse o caso, porque é que Reinado entrou na casa do presidente à procura dele quando ele estava fora, no seu habitual passeio matinal? Assis devia estar familiarizado com a agenda de Ramos-Horta.<br /><br />Também não foi explicado o papel dum outro homem que trabalhou no gabinete de Ramos-Horta e que foi visto no acampamento de Reinado na noite anterior à violência de 11 de Fevereiro. De acordo com o “Dateline”, o indivíduo não identificado era membro dum grupo chamado MUNJ (Movimento para a Unidade e Justiça) que actuou como intermediário entre Ramos-Horta e Reinado. O programa SBS sublinhou: “Desde os tiros contra Horta, o MUNJ tem estado particularmente calado sobre a sua presença no acampamento de Reinado na noite anterior ao ataque. Está claro que eles estavam a transmitir uma mensagem de Horta, mas não se sabe nada sobre as horas a que partiram.”<br /><br /><strong>O Relato oficial está desmentido pelos novos factos<br /></strong><br />O relato oficial do que ocorreu em 11 de Fevereiro — que Reinado liderou um golpe ou uma tentativa de assassínio — caiu aos pedaços. É agora virtualmente certo que o antigo major Reinado foi à residência do presidente para falar com Ramos-Horta, e parece certo que tinha um encontro agendado. Aquilo que aconteceu, e como exactamente foi morto — cerca de uma hora antes do próprio Ramos-Horta ter sido ferido — mantém-se obscuro.<br /><br />A emissão de 16 de Abril da “Dateline” sugeriu que Reinado receava que o acordo de amnistia, que tinha acordado com Ramos-Horta em meados de Janeiro, estava em risco. Sobre os termos deste acordo secreto, Reinado e os seus homens deviam submeter-se à polícia, depois do que Ramos-Horta lhes daria um perdão total. Mas em 7 de Fevereiro, Ramos-Horta convocou um encontro em sua casa envolvendo Gusmão, deputados do governo e uma grande delegação da Fretilin. De acordo com vários relatos, os deputados disseram a Ramos-Horta que ele não tinha poder para amnistiar Reinado, e que isso teria que ser discutido em mais encontros agendados para 12 e 14 de Fevereiro.<br /><br />O “Dateline” sugeriu que Reinado, tendo sabido do que se tinha discutido, e tinha ido a Dili para confrontar Ramos-Horta que, pensava ele, se estava a preparar para renegar o acordo. Isto é, seguramente, uma possibilidade. Extraordinariamente, contudo, o programa da SBS falhou, ao não saber que o item principal da agenda do encontro de 7 de Fevereiro de Ramos-Horta não era a amnistia de Reinado mas sim a formação de um novo governo. O presidente tinha concluído que o governo de Gusmão, que é cada vez mais impopular e dividido por lutas internas, deixara de ser viável. Ele disse aos deputados reunidos que concordava com o pedido da Fretilin da realização de eleições antecipadas para resolver a crise política. Gusmão discordava duramente, contudo, insistia que a coligação continuaria a governar sozinha.<br /><br />O World Socialist Web Site sublinhou previamente que o Primeiro-Ministro Gusmão tinha muito a ganhar com a morte de Reinado. De acordo com a velha fórmula da investigação cui bono (quem ganha?), a possibilidade de Gusmão, ou as forças alinhadas com Gusmão, poderem ter algo a ver com a eliminação do antigo major não pode ser excluída. Os acontecimentos de 11 de Fevereiro resultaram naturalmente no cancelamento imediato dos encontros de Ramos-Horta planeados para 12 e 14 de Fevereiro. Aqueles acontecimentos impediram mais movimentos para dissolver o governo de Gusmão.<br /><br />O primeiro-ministro cavalgou imediatamente a violência para reclamar poderes autoritários sob a declaração dum “Estado de sítio” (que se manterá em força nos distritos do oeste de Timor até o fim de Maio).<br /><br />Mais ainda, a morte de Reinado ocorreu depois do antigo major ter emitido um DVD, que foi amplamente divulgado, onde acusou Gusmão de instigar directamente os protestos dos peticionários em 2006 que desencadearam os acontecimentos, culminando no derrube da administração de Alkatiri. Reinado tinha ameaçado dar mais detalhes do alegado papel de Gusmão na operação de “mudança de regime”.<br /><br /><strong>Questões importantes acerca do papel de Camberra</strong><br /><br />Reinado tinha, há muito tempo, relações com a Austrália. Residiu naquele país como refugiado nos anos 90 (a mulher e filhos continuam a viver em Perth), e recebeu formação militar em Camberra depois de ter regressado a Timor e se ter junto às forças armadas do país. Em 2006, Reinado foi elogiado nos media da Austrália pelo seu papel na desestabilização do governo de Alkatiri, que Camberra considerava demasiado com a China e Portugal. Depois da polícia da ONU ter prendido Reinado sob a acusação de porte armas, ele e os seus homens foram libertados duma prisão de Dili que estava a ser guardada por tropas Australianas e da Nova Zelândia.<br /><br />Soldados Australianos, incluindo forças de elite SAS, então, clamaram serem incapazes de localizar e deter o antigo major enquanto ele emitia declarações públicas regulares e dava entrevistas para os media mundiais, a partir da sua base no oeste de Timor. Isto era completamente implausível — o governo de Camberra, Austrália, tem uma extensa rede de agentes dos serviços de informações a operarem no Timor-Leste, bem como uma inteira divisão dos serviços de informações. Por exemplo, a Direcção de Sinais de Defesa dedica-se a monitorar comunicações electrónicas.<br /><br />Nos dias anteriores à morte de Reinado, o antigo major fez e recebeu 47 chamadas telefónicas para a Austrália. Continua-se a não se saber com quem ele falava. Autoridades Timorenses expressaram frustração sobre a dificuldade que têm sentido em obter informações das autoridades dos serviços de informação da Austrália sobre as gravações de voz e texto das mensagens que interceptaram. Autoridades da Indonésia, por outro lado, forneceram imediatamente as suas informações em relação a várias chamadas que Reinado fez para o país.<br /><br />Investigadores timorenses estão também à espera por informações relativas a uma conta dum banco de Darwin, no montante de um 1 milhão dólares norte-americanos, a que Reinado tinha acesso. De acordo com o procurador-geral de Timor-Leste, Longinhos Monteiro, Reinado foi informado que o dinheiro tinha sido depositado na conta através de uma mensagem de texto, enviada por Angelita Pires, a sua amante e antiga intermediária com os militares australianos. O Presidente Ramos-Horta, Salsinha e muitos dos homens de Reinado, todos, têm acusado Angelita Pires de manipular Reinado e de provocar a violência ocorrida em 11 de Fevereiro. Não foram ainda deduzidas acusações criminais contra Angelita Pires.<br /><br />Ramos-Horta tem pedido publicamente que Camberra explique como pode uma soma de um milhão de dólares ter passado sem detecção, particularmente à luz dos alertas automáticos que se aplicam, por rotina, a grandes depósitos, de acordo com as rigorosas leis bancárias da Austrália. Ele também condenou a inacção do governo australiano: “Dois meses [depois] e não vi nenhuma acção para forçar o banco na Austrália para fornecer a informação,” disse ele na rádio ABC. “Quero isto resolvido muito, muito rapidamente, de outro modo levarei a questão ao conselho de segurança da ONU.”<br /><br />Este ultimato extraordinário teve resposta do ministro dos estrangeiros, Stephen Smith, que garantiu que informação relevante será partilhada logo, que os “procedimentos apropriados” sejam seguidos pelas autoridades Timorenses.<br /><br />O jogo aparentemente defensivo do governo de Rudd, primeiro-ministro da Austrália, alimentou os rumores em Dili que pessoal australiano deu uma mão aos acontecimentos de 11 de Fevereiro. Um texto de 22 de Abril publicado no The Australian sublinhava: “Isso deve perturbar a Austrália — que lidera a não amada Força Internacional de Estabilização, que foi levada a melhorar a sua imagem fazendo anúncios nos jornais que mostram um soldado australiano a apertar a mão a um garoto timorense — que os timorenses interpretarão afirmações do dinheiro [depositado em Darwin] como uma forte prova de que australianos não-timorenses estiveram a suportar Reinado e a Srª Pires.” A peça continuava: “As coisas estão agora a descarrilar, com muitos timorenses convencidos que os ataques de 11 de Fevereiro tiveram tudo a ver com o petróleo e gás do Timor Gap, com a Austrália ainda não contente em ficar com a parte de leão que já tem e, por isso, de certo modo, a tentar executar a liderança de Timor, de modo a deitar a mão a mais dinheiro. Alguns analistas já percebem que isto é realmente uma batalha entre a Austrália e a Indonésia contra a China.”<br /><br />Estes rumores apontam para a escalada de hostilidade contra a ocupação australiana em curso de Timor-Leste. Se esses rumores são verosímeis, isso é outra questão. Uma explicação mais verosímil seria que o governo de Camberra (Austrália) está envolvido em “tentar executar a liderança de Timor”. Nesse sentido, as autoridades Australianas sabiam e talvez tenham participado num plano para eliminar Reinado. O antigo major teria servido aos seus propósitos em relação ao que interessava ao governo australiano, e agora estava ameaçando derrubar o governo de Gusmão, totalmente alinhado com Camberra, e isso estaria a abrir a porta para a Fretilin regressar ao poder. Tendo gasto recursos significativos para derrubar Alkatiri em 2006, isto seria, no entanto, a última coisa que os estrategistas Australianos desejariam.<br /><br />A rendição de Salsinha tem sido elogiada nos media internacionais, como um passo grande para a paz e estabilidade em Timor-Leste, mas a potencialmente explosiva crise política mantém-se por resolver. Enquanto estava em recuperação na Austrália, o Presidente Ramos-Horta disse que ainda receava pela sua vida e que estava a considerar até uma hipótese de renúncia, e ir para Paris escrever as suas memórias.<br /><br />Agora em Dili, contudo, insiste que não tem nenhuma intenção de renunciar. Tem repetido o seu apoio a eleições antecipadas a serem realizadas no início do próximo ano, e pediu também à Fretilin para formar um gabinete “sombra”[1], “para contribuir para o desenvolvimento do país”. O gesto tem sido interpretado em Dili como uma expressão de apoio para uma potencial administração liderada pela Fretilin. Num discurso ao parlamento timorense em 23 de Abril, Ramos-Horta disse que vai perdoar a Rogério Lobato, um deputado de topo da Fretilin que foi condenado por armar civis durante a crise de 2006. O caso Lobato foi parte importante das falsidades emitidas pelo programa “Four Corners” da ABC, segundo as quais Alkatiri tinha armado um “esquadrão de ataque” para assassinar opositores da Fretilin. O trabalho de difamação da ABC foi usado por Gusmão e pelo governo australiano para pressionar Alkatiri a resignar.<br /><br />A promessa de Ramos-Horta de amnistiar Lobato tem sido denunciada pelos media da Austrália. O seu aparente afastamento de Gusmão e aproximação à Fretilin será igualmente mal recebido. Com toda a probabilidade, a resposta de Camberra será aumentar as suas manobras por baixo da mesa e as suas jogadas sujas que visam encobrir os seus significativos interesses económicos e estratégicos em Timor-Leste, país pequeno e empobrecido da Ásia.<br /><br />Nota do Revisor:[1] Na sequência destes acontecimentos, a ASDT e a FRETILIN assinaram no passado dia 1 de Maio de 2008 um acordo de incidência parlamentar, onde se diz: «Assim, os Partidos ASDT e FRETILIN, conscientes da sua responsabilidade política na defesa deste Povo. Assinaram o Termo do Acordo de 1 de Maio para a formação do novo governo Constitucional da RDTL.Para a implementação deste acordo os partidos ASDT e FRETILIN brevemente elaborarão uma plataforma política que contemplará os programas de governação e garantirá à ASDT uma participação proporcional e justa na composição da mesa do Parlamento Nacional e do Governo, nomeadamente: 1. Vice-Presidente do parlamento Nacional;2. Vice-Primeiro Ministro;3. Ministro das Telecomunicações;4. Ministro do Turismo;5. Ministro dos Transportes e Comércio;6. Secretário de Estado do Meio Ambiente;7. Secretário de Estado da Solidariedade, e8. Secretário de Estado da Administração Estatal»<br /><br />Assinam este acordo pela ASDT Francisco Xavier do Amaral e Francisco Gomes e Francisco Guterres (Lu Olo) e Mari Alkatiri, respectivamente Presidente e Secretário-Geral dos dois partidos.<br /><br />Este artigo foi publicado no World Socialist Web Site em 2 de Maio de 2008.<br /><br />Revisão da tradução de José Paulo Gascão<br /><br /><em><span style="font-size:85%;">Via <a href="http://odiario.info/articulo.php?p=733&more=1&c=1">O Diário.info</a></span></em>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-59213859048950932292008-05-04T10:50:00.000-07:002008-05-04T11:15:26.505-07:00Videos sobre o TibeteUm documentário realizado pelo Canal 3 francês sobre a história do <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_0">Tibete</span>, com imagens interessante. Apesar de claramente tendencioso e anti-chinês, o documentário é interessante, porque mesmo com todo o discurso manipulado, basta ter um pouco o <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_1">espírito</span> aberto, para se perceber as mentiras e principalmente, ter uma ideia do que era o Tibete nos tempos em que o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">Dalai</span> Lama e a sua seita eram todo-poderosos.<br /><br />- <a href="http://www.youtube.com/watch?v=imDOAB4x6_M&eurl=http://www.viomundo.com.br/tv/a-historia-do-tibet/">História do Tibete I</a><br />- <a href="http://www.youtube.com/watch?v=s8EEldbwoI4&feature=related">História do Tibete II</a><br />- <a href="http://www.youtube.com/watch?v=lAI-CcHiSec&feature=related">História do Tibete III</a><br />- <a href="http://www.youtube.com/watch?v=vAHR5K46hKI&feature=related">História do Tibete IV</a><br />- <a href="http://www.youtube.com/watch?v=6C4L4mhGWOM&feature=related">História do Tibete V</a><br />- <a href="http://www.youtube.com/watch?v=r5peidyn0_I&feature=related"><span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_3">História</span> do Tibete VI</a><br /><br />Ou então ver este video, quando os Nazis perceberam as semelhanças que havia entre eles e a casta dirigente do Tibete:<br /><br />- <a href="http://www.youtube.com/watch?v=_zexxxeGRgY&feature=related">Nazistas no Tibete</a>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-25567608091631778812008-05-04T10:42:00.000-07:002008-05-04T10:49:54.535-07:00Quem é Kenzin Gyatso?<em><span style="font-size:85%;">Artigo publicado no <a href="http://www.avante.pt/noticia.asp?id=24416&area=19">"Avante", 30.04.08</a></span></em><br /><br />Ao contrário do que se presume, o Dalai Lama que nos entra casa dentro, sorridente e afável, no pequeno ecrã, não é originário do território historicamente considerado como parte integrante do Tibete. O menino a que os pais chamaram Kenzin Gyatso, nasceu, em 1935, na província de Amdo, território incontestavelmente pertencente à China. Só em 1938, e após apurada ponderação dos sábios religiosos, é que o pequeno Gyatso é indicado como sendo a reincarnação do anterior Dalai Lama, o 13.º.<br />A ecuménica conclusão motivou a passagem de Gyatso do seio familiar para o isolamento num mosteiro, onde, desde tenra idade, fica restrito à influência exclusiva dos monges, «que o ensinam a sentir, pensar, escrever, falar e comportar-se como o deus-rei tibetano», sublinha Domenico Losurdo.<br />Cingido à disciplinada esfera monástica, Kenzin Gyatso interioriza o papel de Dalai Lama, aprende tibetano e sofre com a separação dos pais, facto que confessa a Heinrich Harrer no livro «Sete anos no Tibete».<br />No mesmo texto – que merece no final uma mensagem de gratidão do Dalai Lama –, Harrer revela que, em 1946, encontra em Lhasa os pais de Kenzin Gyatso. Estes ascenderam socialmente. Gozam do conforto proporcionado pelo poder e riqueza inerentes aos progenitores de sua santidade, mas mantêm enraizados muitos dos hábitos da anterior proveniência. Não dominam o idioma local e seguem o ritual do chá como a maioria dos chineses.<br />Seria igualmente de supor que, tendo sido escolhido para suceder ao 13.º Dalai Lama por meditada revelação, Kenzin Gyatso conservasse o costume e deixasse nas mãos da divina providência a sua régia linhagem. Puro engano.<br />Segundo Humberto Alencar, em Novembro do ano passado, o actual Dalai Lama propôs que, «em vez de esperar que os sábios religiosos encontrassem a próxima encarnação, fosse ele quem a escolhesse». Alencar acrescenta que «para impor o seu método e estabelecer uma linha sucessória segura para os separatistas, o Dalai Lama sugeriu um referendo entre os budistas tibetanos». A proposta demonstra o empenho de Kenzin Gyatso em determinar a escolha do seu herdeiro, mas parece ter sido recebida pelos Lamas com escasso entusiasmo.<br />Sobre a enigmática personagem, o professor Elias Jabbour lembra que, em 1989, quando o «pacifista» foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz, defendia a detenção de armas nucleares por parte da Índia.<br />Mais recentemente, notou ainda Humberto Alencar, o 14.º Dalai Lama declarou ser «muito cedo para dizer se a guerra no Iraque foi um erro» e mostrou-se convicto da necessidade de «reprimir o terrorismo».<br />Mesmo não tendo feito luz sobre o que considera «reprimir», a declaração soa estranha proferida por alguém que se apresenta como genuíno defensor da paz.<br /><br /><strong>A duplicidade do Dalai Lama</strong><br /><br /><strong>Do ambiente místico que serve de pano de fundo à campanha chamada de pró-Tibete, não sobressai a história recente da relação envolvendo a China, o Tibete – que a integra - e o Dalai Lama. É natural, tendo em conta que a verdade não interessa ao capitalismo neoliberal, que prefere reescrever o passado de acordo com os seus objectivos presentes e futuros.</strong><br /><br />É por isso que muitos dos que se deixam encantar pela lenga-lenga do Dalai Lama e da sua «causa», desconhecem que foi este mesmo 14.º Dalai Lama e o seu «governo» quem, em 23 de Maio de 1951, autorizou a assinatura do Acordo dos 17 Artigos regulando «a integração pacífica do Tibete na China, a sua autonomia subordinada ao governo central, e a manutenção do regime vigente no Tibete até à elaboração ulterior dos princípios da sua reforma democrática», como explicou nas páginas do Avante! Carlos Aboim Inglez, a 29 de Novembro de 2001.<br />Recuando um pouco no tempo, vale a pena precisar ainda que depois do triunfo revolucionário de 1949, a China encetou várias iniciativas visando o diálogo com os Lamas e nobres que dominavam o território, e que estes não apenas recusaram negociar, acicatados pelas potências ocidentais, como enviaram tropas para a fronteira, vindo a sofrer uma copiosa derrota frente ao Exército Popular de Libertação em Qamdo.<br />Nesta fase, entra em cena o Dalai Lama. Afastando-se tacticamente do podre poder de Lhasa, exila-se em Yadong, na fronteira com a Índia, destitui o regente e nomeia emissários a Pequim. Meses depois, já regressado à capital tibetana, telefonou ao presidente Mao Tsé Tung autorizando a entrada das tropas chinesas, as quais, apesar da vitória sobre o exército dos Lamas, permaneciam acantonadas para não inquinarem o diálogo. Todos os prisioneiros de guerra foram libertados pela China.<br />O Dalai Lama recebeu a 26 de Outubro de 1951 o Exército Popular em Lhasa, embora seja seguro que os círculos que o rodeavam já haviam iniciado a desforra com o apoio da CIA.<br /><br /><strong>Eleito e confiante</strong><br /><br />Depois do Acordo dos 17 Artigos e do regresso a Lhasa, as relações envolvendo a China, o Tibete e o Dalai Lama pareciam normalizadas. De tal forma que o pontífice participou, em 1954, na primeira Assembleia Nacional Popular de Libertação da China, onde, para além de ser eleito vice-presidente do Comité Permanente, aprovou a Constituição da República Popular.<br />Na ocasião mostrou-se confiante nos benefícios da reunificação do país e declarou que «os rumores de que o Partido Comunista da China e o governo popular central arruinaram a religião do Tibete foram refutados. O povo tibetano tem gozado de liberdade em suas crenças religiosas». Cerca de 54 anos depois, o Dalai Lama desdiz-se e os seus seguidores repetem à exaustão o argumento da «liberdade religiosa», usado desde sempre para ocultar a natureza da sua luta.<br /><br /><strong>A reacção contra-ataca</strong><br /><br />Os acontecimentos que se seguiram mostram, por um lado, a duplicidade do Dalai Lama, e, por outro, que tudo estaria bem na relação com a China se não fossem tocados os privilégios da diminuta classe dominante.<br />Enquanto o Dalai Lama assumia a presidência do comité provisório encarregado de organizar a região autónoma do Tibete, em 1956, a facção mais reaccionária dos lamas, nobres e funcionários preparava o contra-ataque. O alvo era a soberania chinesa. Em causa estava a reforma democrática iniciada nesse mesmo ano por iniciativa do governo central com o objectivo de abolir a escravatura, separar a igreja do Estado, promover os direitos e o bem-estar da população.<br />É evidente que a aliança de senhores feudais e teocratas não podia aceitar tais progressos, e assim, com a preciosa ajuda da CIA, fundou o Exército de Defesa da Religião, organização que entre 1956 e 1961 realizou vários ataques no Tibete, o mais emblemático dos quais a 10 de Março de 1959, data tradicionalmente reservada a um festival religioso e que no passado mês os grupos de criminosos «festejaram» com um «levantamento» em Lhasa (ver Os acontecimentos de Março).Desde então, o Dalai Lama exilou-se na Índia, país a partir do qual coordena a campanha suja com o auxílio das potências atlânticas.Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-79957059303142922282008-05-04T10:36:00.000-07:002008-05-04T10:41:40.041-07:00Ligações perigosas<em><span style="font-size:85%;">Artigo publicado no <a href="http://www.avante.pt/noticia.asp?id=24417&area=19">"Avante" 30.04.08</a></span></em><br /><br />Os vínculos entre os separatistas tibetanos e os serviços secretos dos EUA persistem ininterruptamente desde o início dos anos 50. Apenas durante um breve período sofreram ajustes de intensidade, de 1974 a 1979, após o restabelecimento das relações sino-norte-americanas, promovidas por Mao Tsé Tung e Richard Nixon, convergindo com o período de funções de Gerald Ford na Casa Branca.<br />Com efeito, foi durante o mandato de Ford que a «causa tibetana» menos beneficiou, uma vez que o presidente considerava infrutíferas as intentonas armadas da CIA. O interregno porém não resistiu, e logo que Jimmy Carter foi eleito, o interesse pelo Tibete reanimou-se nos conteúdos talhados pela CIA no final da década de 40.<br /><br /><strong>Travar a revolução</strong><br /><br />Quando em 1947 se antevia a vitória das forças revolucionárias lideradas por Mao na guerra civil contra o Kuomintang, Washington tocou a rebate face ao «perigo comunista». Em Taiwan, recolheram-se os restos das tropas derrotadas do general nacionalista Chang Kai-Chek. Até aos dias de hoje, a Formosa constitui, com o apoio dos EUA uma afronta à unidade do território chinês. No Tibete, a contra-revolução seguiu pisadas semelhantes.<br />Em «Fuga da História?», Domenico Losurdo frisa que o diplomata dos EUA em Nova Deli, George Merrel, enviou um telegrama ao então presidente Harry Truman alertando que «o Tibete pode ser considerado um bastião contra a expansão do comunismo ou, pelo menos, uma ilha de conservadorismo num mar de desordens políticas». «Em época de guerra de mísseis pode revelar-se o território mais importante de toda a Ásia», aduzia.A «ilha de conservadorismo», como a classifica Merrel, era dominada pelos aristocratas leigos e pelos Lamas, e é entre estes que a CIA funda uma célula de operações de inteligência, em 1951, colocando na liderança Gyalo Thondup, um dos irmãos do 14.º Dalai Lama.<br />O historiador norte-americano Jim Mann, citado por Humberto Alencar no artigo «Dalai-Lama: separatismo e submissão», publicado na página www.vermelho.org.br, sustenta que «durante os anos 50 e 60, a CIA apoiou activamente a causa tibetana com armas, dinheiro, apoio aéreo e todo o tipo de auxílio». Alencar observa que também o estudioso das acções da CIA na região, Michael Parenti, confirma os enlaces do círculo do Dalai Lama com a facção separatista sustentada pela secreta dos EUA, nomeadamente através da Sociedade Americana por uma Ásia Livre, estrutura fantoche na qual Thubtan Norbu, outro irmão do Dalai Lama, é destacado dirigente.<br />Alencar vai mesmo mais longe e, com base no testemunho de Jonh Knauss, ex-agente da CIA com notável folha de serviços no continente asiático, denuncia que os EUA treinaram a guerrilha tibetana no Colorado e depois a lançaram de para-quedas em território chinês.<br />Para tudo isto, dinheiro não faltava. Documentos desclassificados no final da década de 90 indicam que, nos anos 60, o «movimento tibetano» no exílio recebia anualmente 1,7 milhões de dólares, e que o próprio Dalai Lama arrecadava uns régios 180 mil dólares.<br /><br /><strong>Laços reforçados</strong><br /><br />Em 1979, o Dalai Lama vai aos EUA onde está em coordenação uma nova estratégia para a «causa tibetana». Cinco anos mais tarde, já com Reagan e a teoria do «eixo do mal», nasce a National Endowment for Democracy, sociedade que para além da promoção da campanha pró-Tibete independente, financiou e financia outras lutas cujo fim reforça a hegemonia mundial do capitalismo, de que servem de mero exemplo as «revoluções» Laranja e Rosa, na Ucrânia e na Geórgia, com as intenções que se conhecem: agregação daquelas ex-repúblicas soviéticas à NATO e a sua submissão à escalada militarista do imperialismo na Europa e Ásia Central.<br />Mais recentemente, em 2003, o Dalai Lama deslocou-se por 18 dias aos EUA, aproveitando a estadia para se encontrar com George W. Bush e Colin Powell, na altura secretário de Estado. A reunião ocorreu depois de os norte-americanos aprovarem o Tibetan Act Policy, lei que regulariza a ajuda aos separatistas.<br />O Dalai Lama fez e faz o seu caminho. Talvez por isso, em 2007 Bush tenha sido o primeiro presidente em exercício a recebê-lo na Casa Branca, e a acompanhá-lo, posteriormente, à cerimónia de atribuição da Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos, maior distinção civil do país.<br />Tal como os líderes kosovares nos Balcãs se prontificam a contribuir para o projecto neoconservador da «Grande Albânia», o 14.º Dalai Lama batalha pelo «Grande Tibete», território que abrange parcelas da China, do Nepal e da Índia, como avança Melvin Goldstein em «O dilema do Dalai Lama», publicado fez em Janeiro uma década pela insuspeita <em>Foreing Affairs.</em>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-45679342281969747982008-05-04T10:24:00.000-07:002008-05-04T10:35:24.047-07:00Notas sobre o «tecto do mundo»<em><span style="font-size:85%;">Artigo publicado no <a href="http://www.avante.pt/noticia.asp?id=24414&area=19">"Avante" de 30.04.08</a></span></em><br /><br /><strong>No último mês e meio, o Tibete saltou para as primeiras páginas dos jornais e revistas, abriu telejornais e alimentou horas de conversa manhosa por parte de comentadores e especialistas.</strong><br /><br />O desenrolar da meada em torno da contestação ao Jogos Olímpicos de Pequim torna claro que o objectivo é nutrir a campanha anti-China perfilada nos centros de decisão transatlânticos. O Tibete, o Dalai Lama e a sua «causa» são meros instrumentos.<br />Para o grande capital, o que realmente está em causa é o domínio geopolítico de uma parcela de 1 milhão e 200 mil quilómetros quadrados, onde nascem os mais importantes rios da Ásia: o Amarelo e o Azul, em direcção à China, o Mekong, cujo delta se situa no Vietname, o Indo e o Ganges, os maiores da Índia; cujos recursos hídricos oferecem um potencial energético precioso e o subsolo tem ferro, ouro, chumbo, cobre, urânio, crómio e prata.<br />Em fase imperialista, a natureza predadora do capitalismo exige que uma oitava parte do território chinês passe a ser um seu protectorado, repetindo o cenário do século XIX quando a China dilacerada pelas Guerras do Ópio se transformou numa semi-colónia aberta às rotas do tráfico de droga.<br />A orientação é retomar a venda de armas aos secessionistas de Taiwan, promover o Dalai Lama e a mistificação religiosa, dos «direitos humanos» e da independência do Tibete.<br />Tanto faz se desde o século XIII nunca nenhuma nação reconheceu o Tibete como um território independente; se a China é um país com cerca de 4 mil anos de história contínua integrando hoje 56 nacionalidades reconhecidas constitucionalmente.<br />Tudo o que importa a Bush, Sarkozy, Durão ou Brown é que a China cresce e agiganta-se, assumindo-se soberana e capaz de traçar autonomamente o seu destino frente à hegemonia mundial da UE e dos EUA.<br />Nas páginas seguintes denunciamos a duplicidade do Dalai Lama e os interesses da camarilha que o acompanha, hoje como ontem. Lembramos as relações sociais no Tibete antes da reunificação com a China e as tentativas da CIA para o impedir. Olhamos dum ponto de vista crítico os acontecimentos do passado dia 10 de Março na capital tibetana, Lhasa.<br /><br /><strong>Dos Lamas ao progresso</strong><br /><br />Recuperamos as palavras de Luís Carapinha no Avante! de 20 de Setembro de 2007, para introduzir alguns dos dados conhecidos sobre as relações sociais no Tibete pré-revolucionário.<br />É um facto que foi quando o governo central da China levou por diante as reformas da propriedade da terra e da legislação, que os até então exploradores cerraram fileiras contra a revolução chinesa. Em causa estava a posição privilegiada que uma restrita camada ocupava no quadro de um sistema marcado por relações esclavagistas. Na ordem do dia continua a recuperação do poder por parte dessa mesma classe, cuja escandalosa opulência contrastava com a miséria e a exploração mais gritantes.<br />No ano das reformas democráticas, 1956, o governo local detinha e administrava 38,9 por cento do solo, os mosteiros geridos pelos Lamas detinham 36,8 por cento, e os aristocratas leigos usufruíam de 24 por cento. Para a imensa maioria do povo, restavam 0,3 por cento de propriedade fundiária.<br />Neste quadro, sublinha o jornalista Duarte Pereira em artigo escrito para a Revista Princípios, «os servos, 90 por cento da população, eram forçados a pagar aos nobres e mosteiros uma renda, principalmente sob a forma de trabalho; secundariamente sob a forma de renda em produtos, e às vezes em dinheiro. Arcavam também pesados tributos e taxas, pagos em serviços e em dinheiro. Sem recursos suficientes, endividavam-se com os nobres e, principalmente, com os mosteiros, pagando elevados juros. Se morriam sem saldar a dívida, ela passava aos descendentes ou aos vizinhos».<br />Quanto aos escravos, os demais 5 por cento da população, transportavam as liteiras dos senhores. Escravos e servos não eram registados nos cartórios públicos, mas nos livros dos seus senhores. Ambos podiam ser doados, vendidos, emprestados e trocados. Uns e outros dependiam da autorização do amo para casar. Sob o domínio dos Lamas e nobres leigos, a população estava dividida em três estratos e nove graus, e a igualdade jurídica não existia, nem mesmo para certos estratos das castas superiores, como as mulheres.<br />Era este o quotidiano dos tibetanos na segunda metade do século XX, quando os povos haviam derrotado o nazi-fascismo na Europa, e na África e Ásia se levantavam contra séculos de jugo colonial.<br /><br /><strong>Ficção ou realidade?</strong><br /><br />Paralelamente à ocultação destes factos, colocam-se a favor da «causa tibetana» argumentos ditos de respeito pelos «direitos humanos», pela «liberdade religiosa» e a «preservação da identidade cultural». Olhando para o que era o Tibete e para quem o dominava, e sabendo que são os mesmo que hoje defendem e recrutam para a «causa», arrepia só de pensar que pretendem restaurar um passado não muito longínquo.<br />Em «A China, o Tibete e o Dalai Lama», publicado na edição de 1 de Novembro de 2003 da revista italiana L’Ernesto, Domenico Losurdo revisita o livro «Sete anos no Tibete», escrito por Heinrich Harrer, cuja adaptação para o cinema corre mundo pelo «Tibete independente».<br />Na insuspeita obra, o actual Dalai Lama deixa uma mensagem final convidando o seu confesso admirador Heinrich Harrer a recordar «os dias que passámos juntos num país feliz e livre». Mas será que o relato do alpinista sobre o Tibete é o de um «país feliz e livre» como nos leva a crer Hollywood e o Dalai? E quem vivia essa feliz liberdade?<br />Viviam os membros da classe dominante porque importavam, segundo Harrer, «todas as raridades do mundo» e assim cultivavam consumos cosmopolitas com «peles de raposa vindas de Hamburgo, pérolas do Japão, turquesas da Pérsia, corais da Itália e âmbar de Berlim».<br />Viviam os senhores da ordem monástica que desconfiavam «de qualquer influência que pusesse em causa o seu domínio» e cuja supremacia no Tibete era «absoluta e só comparável a uma severa ditadura», possibilitando-lhes «regular a vida das pessoas por vontade divina, da qual são os únicos intérpretes».<br />Mesmo os menos significativos funcionários tibetanos dispunham de «um séquito de trinta servos e servas» aos quais, explica Harrer, eram infligidos tratamentos por vezes tão inúteis quanto brutais, unicamente para os manter cientes da sua condição.<br />Se quanto a «direitos humanos» ainda não estamos conversados, lembremos o testemunho de Harrer, citado por Domenico Losurdo, quando identifica um sistema de punição violento e arbitrário, que pode atingir, mesmo no caso dos delitos mais leves ou imaginários, os parentes e vizinhos do visado: «Contaram-me que um homem acusado de roubar num templo foi considerado culpado, sendo-lhe aplicada uma sentença desumana. Ambas as mãos foram cortadas diante do público, e o seu corpo mutilado foi coberto com uma pele de yak. Quando deixou de sangrar, foi lançado num precipício».<br />Os monges são os executores de punições como a flagelação, prática que não raras vezes mata os punidos. Às mãos destes «semi-deuses», os «seres inferiores» não eram dignos de qualquer Direito Humano. «Para os adúlteros existem penas drásticas, como o corte do nariz», diz Harrer, e mesmo entre as castas superiores, quando a questão envolvia golpes e lutas pelo poder, os derrotados são punidos com a «subtracção dos olhos a golpes de espada», esclarece.<br />E qual era o papel do Dalai Lama neste «paraíso dos direitos humanos»? Harrer escreve: «um europeu dificilmente está em condições de compreender a importância dada ao mais pequeno capricho do deus-rei».<br />Se afinal é de «liberdade religiosa» que falamos, recordemos uma vez mais as palavras de Harrer quando descreve que, à passagem do Dalai Lama «o cerimonial religioso obriga a que todos se deitem por terra, mas a falta de espaço impossibilita-o. Milhares de pessoas curvaram-se, como um campo de trigo ao sabor do vento. Ninguém ousa alçar os olhos. Lento e compassado, o Dalai Lama começou o seu percurso. As mulheres nem ousavam respirar. «[finda a procissão] Como que ressuscitada de um sono hipnótico, a multidão passou naquele momento da ordem aos caos. (…) Os monges-soldados entraram subitamente em acção fazendo vergar os bastões, mas como que possuídos pelo demónio, os agredidos regressavam aceitando os golpes como se de uma bênção se tratasse».<br /><br /><strong>Avanço histórico</strong><br /><br />São incomparáveis as relações sociais no Tibete contemporâneo, como incomparável é a condição das pessoas. Para se curarem de uma doença, já não são ungidas com saliva dos monges ou «tratadas» com uma mistela à base de urina dos «homens santos», como contava atónito Harrer.<br />A par da abolição do regime teocrático, da revogação das leis e códigos desiguais, do encerramento dos tribunais e cárceres privados existentes nos mosteiros e propriedades feudais, os governos da China distribuíram a terra e os rebanhos, possibilitando ao povo o humano direito à alimentação. A população do território duplicou e a esperança média de vida passou dos 35 anos em 1950, para os 65 anos em 1990.<br />Ao contrário do que diz o Dalai Lama e respectivos acólitos, a relação com a fé e a crença no Tibete reforça-se, por exemplo, com a recuperação dos nichos e estandartes ostentando objectos de culto; com a requalificação de 1700 mosteiros onde residem 46 mil monges e freiras; com a dinamização das festividades seculares e com a publicação, em alguns casos pela primeira vez, de diversos textos sagrados, escrituras e epopeias tibetanas, como sustenta Duarte Pereira em artigo incluído no livro «China: 50 anos de República Popular».<br />Quanto e ao «genocídio cultural de que falava em 15 de Março o Dalai Lama, importa perceber que a «preservação da identidade» passa por medidas de afirmação da idiossincrasia tibetana em curso desde 1990, como, entre outras, o estímulo do conhecimento e uso dos idiomas mandarim e tibetano; o facto de o governador ser obrigatoriamente natural do Tibete e 70 por cento dos funcionários públicos serem tibetanos, 20 por cento dos quais mulheres; a construção de 3 mil escolas públicas, uma universidade e 3 centros de pesquisa, obras que contribuíram decisivamente para o decréscimo do analfabetismo de 90 por cento, em 1950, para 20 por cento, em 2005; ou a abertura da frequência universitária a todos os estratos sociais e géneros, levando a que quase 30 por cento das vagas sejam hoje ocupadas por mulheres.Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-59942741286929094122008-04-21T14:39:00.000-07:002008-04-21T14:48:39.418-07:00"O budismo tibetano, uma filosofia? Essa é para rir!"<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmiZ9fp1Sad0KPARcBvBq6YRA7R6wLJZweXCm8tiz_9Wp7NDxfw8g5zLgBZBpmZjUw4UbiEjoP13__zfKRC89l7OZEDO8q3ZJS7zuYNz8_f0ZcArH9tHGV7CWVylswOMpSphselqIxm4EK/s1600-h/historia_budismo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5191818770905250162" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmiZ9fp1Sad0KPARcBvBq6YRA7R6wLJZweXCm8tiz_9Wp7NDxfw8g5zLgBZBpmZjUw4UbiEjoP13__zfKRC89l7OZEDO8q3ZJS7zuYNz8_f0ZcArH9tHGV7CWVylswOMpSphselqIxm4EK/s320/historia_budismo.jpg" border="0" /></a> <em><span style="font-size:85%;"><strong>por Elisabeth Martens </strong></span></em><br /><em><span style="font-size:85%;"><strong>entrevistada por Benito Perez</strong> </span></em><br /><br /><a href="http://www.amazon.fr/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.fr%2FHistoire-Bouddhisme-tib%C3%A9tain-Compassion-Puissants%2Fdp%2F2296040330%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1208546624%26sr%3D8-1&tag=resistirinfo-21&linkCode=ur2&camp=1642&creative=6746"></a>Bióloga de formação, Elisabeth Martens apaixonou-se pela China depois de uma estadia de três anos destinada a aprimorar os seus conhecimentos de medicina tradicional. A aventura conduziu-a de seguida até às "regiões habitadas por tibetanos", onde aprendeu a conhecer uma cultura tão diferente daquela dos Han (a etnia maioritária na China), e, no entanto, ligada ao mosaico chinês (ler abaixo). Das suas investigações sobre o Tecto do Mundo nasceu uma original <a href="http://www.amazon.fr/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.fr%2FHistoire-Bouddhisme-tib%C3%A9tain-Compassion-Puissants%2Fdp%2F2296040330%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1208546624%26sr%3D8-1&tag=resistirinfo-21&linkCode=ur2&camp=1642&creative=6746">História do Budismo tibetano</a> publicada o ano passado nas edições L'Harmattan.<br /><br /><strong>Como é que começou por se interessar pelo Tibete?</strong><br /><br /><strong>Elisabeth Martens</strong>: Logo na minha primeira estadia em 1990, fiquei surpreendida com as diferenças profundas entre o budismo chinês e o tibetano. Lembro-me que fiquei particularmente admirada com a quantidade fenomenal de representações de deuses e de monstros ferozes, assustadores e guerreiros dentro dos templos. De certa forma, isso assemelha-se aos ícones nas nossas igrejas: homens trespassados, crucificados, cozidos dentro de caldeirões, etc. Não há nada de semelhante no pensamento chinês, e por conseguinte nas artes. O sofrimento e o meio para uma pessoa se livrar dele não está no centro das preocupações porque ele é considerado um oposto complementar ao bem-estar. Essa diferença e outras fizeram-me reflectir: como é que um país gigantesco como a China consegue conciliar cinquenta e cinco nacionalidades que falam cada uma a sua própria língua, sobretudo com a desproporção de Han que compõem 90% da população?<br /><br /><strong>A violência dessas representações, tal como a dos motins das últimas semanas, não se enquadra na imagem pacífica que se tem do budismo tibetano.</strong><br /><br />Dalai Lama e os outros membros do governo vestem as cores do pacifismo e estão encarregues de manter a imagem de tolerância e de compaixão que convêm ao budismo tibetano, com o intuito de seduzir o Ocidente. Por ocasião dos motins recentes <em>(ler na página 9),</em> quando os actos de violência atingiram um nível de barbárie sem nome, ele distanciou-se. No seio da comunidade tibetana no exílio existe uma cisão: de um lado, os moderados, entre eles Dalai Lama, que não pedem a independência mas uma "autonomia forte". Do outro lado, os radicais, fracção crescente no seio do governo no exílio, que exigem a independência e que estão preparados para pegar em armas se for necessário. Na verdade, essa dualidade é muito útil ao seu padrinho comum, os Estados Unidos: Dalai Lama e os seus seguidores (europeus, sobretudo) servem para reunir os intelectuais ocidentais em torno de temas sobre "democracia", "direitos do homem", enquanto a fracção mais "dura" reúne cada vez mais membros graças a um discurso musculado. Aparentemente, foram estes últimos que lançaram achas à fogueira. Ao provocarem motins de carácter racista, eles obrigaram o governo chinês a responder agressivamente.<br /><br /><strong>Qual é a natureza do budismo tibetano e quais as suas funções social e política?</strong><br /><br />Com essa, está a pedir-me que reescreva o meu livro! Em resumo, o budismo tibetano surgiu a partir do tantrismo, uma das três grandes escolas ou "veículos" do budismo e, segundo os especialistas em budismo, aquela que mais se afastou do darma (ensinamento original de Buda). Em primeiro lugar, porque se trata da mais recente, em segundo lugar, porque o budismo tibetano tem a particularidade de exercer em simultâneo um poder espiritual e um poder temporal. De facto, o tantrismo desenvolveu-se no Tibete nos séculos X e XI quando comunidades do norte da Índia aí se vieram refugiar, fugindo das investidas muçulmanas. Nessa época, o Tibete estava totalmente desorganizado ao nível político e social. Os refugiados apoderaram-se da região de modo "espontâneo". O tantrismo transformou-se no budismo tibetano a partir do momento em que se adaptou aos costumes e à religião autóctones (o Bön). Pode-se dizer que na época isso foi benéfico, conduzindo o Tibete a um feudalismo organizado. O problema é que esse feudalismo se reforçou durante um milénio junto de um poder religioso extremamente repressivo e conservador. Os mosteiros possuíam mais de 70% das terras, o resto pertencia às famílias nobres. Jamais existiu um poder teocrático tão poderoso e tão rico. Não se compara com o que se passava entre nós na Idade Média, em que os mosteiros só existiam na sombra dos castelos fortificados.<br /><br />Com o advento da República Popular da China em 1949, foi difícil para o alto clero tibetano renunciar ao poder. Evidentemente, esta antiga elite no exílio não tem a intenção de voltar ao antigo sistema. Ela preconiza um modelo de "mercado livre", com a re-instauração da propriedade privada das terras.<br /><br /><strong>Será o pacifismo suficiente para explicar a existência de um sentimento tão pró Tibete no Ocidente? </strong><br /><br />O budismo tibetano enfeitou-se com os seus mais belos ornamentos para seduzir um Ocidente "vazio de valores espirituais". Envolvido na onda do "retorno às origens" dos anos de 1970, não foi difícil fazer-se passar pelo darma, apresentado como um "ateísmo espiritual", uma filosofia de vida, uma maneira de ser, uma terapia interior, etc., tudo menos uma religião. Ora, se olharmos um pouco mais de perto, o budismo de Buda já é uma religião no sentido em que propõe uma transcendência, algo para além dos nossos sofrimentos resultantes dos nossos limites físicos e temporais. O budismo tibetano é ainda mais uma religião, uma vez que reintroduziu dogmas, nomeadamente o da reincarnação, contra o qual se insurgiu, aliás, Buda em pessoa. Reposta a sua honra no século XVI, ela permitiu a oficialização da sucessão da herança espiritual, temporal e, sobretudo, material de um Rinpoche (responsável por um mosteiro) para o seguinte. E consequentemente as terras e os bens sobre as terras, incluindo os servos. Isso explica, por exemplo, por que é que houve tantos assassinatos entre os membros do alto clero e tantas guerras entre escolas… o budismo, graças ao seu carácter plástico, sempre se adaptou bem aos ambientes que elegeu para domicílio, no Tibete e actualmente entre nós. É sinal de boa saúde. O que não é nada são é o facto de um Dalai Lama fazer passar o budismo tibetano por uma não religião – uma filosofia – de tolerância e de compaixão destituída de implicações políticas. Isso é mesmo para rir!<br /><br />O original encontra-se em <a href="http://www.lecourrier.ch/index.php?name=NewsPaper&file=article&sid=439090" target="_new">http://www.lecourrier.ch/index.php?name=NewsPaper&file=article&sid=439090</a><br /><br />Este artigo encontra-se em <a href="http://resistir.info/" target="_new">http://resistir.info/</a>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-49628862526575341332008-04-19T11:42:00.000-07:002008-04-19T11:56:54.224-07:00São Tomé e Príncipe: como roubar uma nação africana<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL8BueDHzdWIKcqTgG0X5cshOp84lDAYEwzBrPkJlEjUGXcS11YE82YDtP_7CNjJpIU7KXoqN3BS49eEz-yuk-TzpPQfFjnRxBVxnab0Bi6hbx3SwpC1GW3ufprbtBC1F5Gyot4gvGy7sm/s1600-h/São+Tomé.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5191031443270351106" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL8BueDHzdWIKcqTgG0X5cshOp84lDAYEwzBrPkJlEjUGXcS11YE82YDtP_7CNjJpIU7KXoqN3BS49eEz-yuk-TzpPQfFjnRxBVxnab0Bi6hbx3SwpC1GW3ufprbtBC1F5Gyot4gvGy7sm/s320/S%C3%A3o+Tom%C3%A9.jpg" border="0" /></a> Os moradores de uma minúscula ilha-Estado africana sonham com grande riqueza desde que petróleo foi descoberto em suas águas territoriais. Empresas, potências estrangeiras e políticos corruptos estão disputando licenças de exploração na esperança de obter riqueza<br /><div><br />O lobby do Hotel Miramar, em São Tomé, seria o cenário perfeito para um thriller de espionagem tropical. Ele é o melhor hotel da cidade, o que não significa muito, mas seu lobby com ar-condicionado, completo com sofás coloridos e vasos com plantas, se tornou um importante local de encontro para todos aqueles que têm algum negócio nesta ilha curiosa: atravessadores e seus assistentes, representantes de governos estrangeiros e organizações internacionais e um grande número de figuras duvidosas. Pessoas boas e ruins se congregam no lobby do Hotel Miramar, mas diferenciá-las não é fácil.</div><br /><div>Membros da Marinha dos Estados Unidos marcham pelo lobby toda manhã e embarcam em um ônibus para construir uma estação de radar (como todos sabem). No salão de café da manhã, duas mulheres e um homem olham silenciosamente para seus laptops; eles são membros de uma delegação do Banco Mundial que está em São Tomé para se reunir com ministros do governo. E há os homens em camisetas desbotadas que as pessoas dizem ser agentes da CIA, apesar de não ser necessariamente verdade. Boatos são comuns.</div><br /><div>As ilhas de São Tomé e Príncipe formam um único país soberano, com população de 160 mil habitantes. Até poucos anos atrás, a única fama das ilhas eram os selos postais de Marilyn Monroe, linhas de tele-sexo fraudulentas e um produto chave de exportação, o cacau.</div><br /><div>Isto é, até a descoberta de petróleo sob o leito marítimo além da costa do país. Poderá ser uma bênção ou uma maldição para este minúsculo país; e parece ter deixado todos loucos.</div><br /><div><strong>O paradoxo da abundância</strong></div><br /><div>No mapa mundial, São Tomé e Príncipe são dois pontos pouco detectáveis no Golfo da Guiné, quase exatamente na linha do Equador, a 200 quilômetros da costa do Gabão. O país é pacífico, democrático e desesperadamente pobre. Seus habitantes sobrevivem de ajuda estrangeira e empréstimos internacionais. Além da pequena produção de cacau, o país não possui produtos significativos.</div><br /><div>Os são-tomenses mal podiam acreditar em sua sorte quando estudos sísmicos concluídos nos anos 90 revelaram uma enorme reserva de 11 milhões de barris de petróleo pouco além de sua costa. Eles estavam ricos! Os são-tomenses repentinamente podiam sonhar em se tornar uma espécie de Brunei, um minúsculo e rico país africano onde as pessoas podiam viver despreocupadamente. O maná dos céus!</div><br /><div>Então o resto do mundo ficou sabendo. Empresas dos Estados Unidos, China, Noruega e Canadá enviaram equipes para as ilhas, e governos estrangeiros -em particular os Estados Unidos e a grande vizinha de São Tomé, a Nigéria- começaram a demonstrar interesse.</div><br /><div>Uma riqueza de recursos naturais nem sempre faz bem para um país pobre. Isto se chama "paradoxo da abundância" e exemplos infelizes proliferam na vizinhança imediata de São Tomé. Um é a Nigéria, uma grande produtora de petróleo governada pelo regime corrupto do presidente Olusegun Obasanjo desde 2007. E há a Guiné Equatorial, cujo ditador brutal, Teodoro Obiang Nguema, mantém seu povo na pobreza; e o Gabão, onde a classe alta praticamente se apossou da riqueza do petróleo do país; e, é claro, Angola, ainda sofrendo dos efeitos de sua longa guerra civil.</div><br /><div>Quando o presidente são-tomense Fradique Melo de Menezes assumiu o governo em 2001, ele prometeu manter seu país livre desses problemas. Fradique é um homem baixinho e musculoso com um grande bigode -um mercador de cacau que trata a todos pelo primeiro nome. Ele impressionou a comunidade internacional quando falou sobre o desejo de usar a riqueza do petróleo para ajudar seu país.</div><br /><div>Fradique recorreu a Jeffrey Sachs, da Universidade de Colúmbia, em Nova York, o famoso especialista americano em ajuda para desenvolvimento, para orientação e apoio. Sachs já prestou consultoria a governos de todo o mundo e escreveu um livro chamado "O Fim da Pobreza". Ele viu uma oportunidade de transformar São Tomé em um modelo e levou suas melhores equipes para investigar o país pessoalmente. Suas metas eram ajudar todos os são-tomenses a dividirem a nova riqueza, evitando o erro de depender totalmente do petróleo. Ele seria um país sem conflitos violentos.</div><br /><div>E graças a Sachs, São Tomé possui uma nova lei do petróleo que pode ser a melhor do gênero no mundo. Ela exige que a receita do petróleo seja depositada diretamente em uma conta no Federal Reserve (o banco central americano) em Nova York. Apenas uma pequena parcela deste dinheiro pode ser reinserida no orçamento; o restante é poupado para o futuro. O controle do próprio petróleo cabe a uma comissão composta de são-tomenses de todo o espectro político do país.</div><br /><div>Assim, ao menos, é como "deveria" funcionar. Mas a comissão ainda não existe. E ninguém viu os contratos das companhias de petróleo, que deveriam ser divulgados publicamente. Isto não é exatamente surpreendente, dado que os políticos em São Tomé nem sempre cumprem a lei.</div><br /><div>Mas será que São Tomé pode se tornar um modelo para o mundo? O petróleo realmente existe?</div><div> </div><div>'A região de petróleo mais importante do mundo'</div><br /><div>Quando o presidente Fradique de Menezes chegou ao poder há mais de seis anos, ele impressionou tanto os especialistas quanto o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. A revista "New Yorker" escreveu: "Quem precisa da Arábia Saudita quando se tem São Tomé?" Bush se reuniu com Fradique e 10 outros chefes de Estado africanos em setembro de 2002, e apesar de outros terem entediado o presidente com discursos em francês, Fradique teria falado de forma "eloqüente, em um bom inglês com leve sotaque, sobre os interesses comuns de São Tomé e dos Estados Unidos". Bush até mesmo parou de brincar com seu lápis.</div><br /><div>Fradique lembrou aos seus ouvintes dos "trágicos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono" e destacou a importância de fontes alternativas de petróleo fora do politicamente volátil Oriente Médio. Seu país, ele disse, se encontra em uma "localização estratégica na região de petróleo mais importante do mundo -o alto-mar da costa oeste da África".</div><br /><div>Foi uma jogada inteligente da parte de Fradique, porque o petróleo desta região tem enlouquecido os americanos. Eles atualmente importam 13% de seu petróleo da África sub-saariana; esse número deverá crescer para 25% em poucos anos. O petróleo africano é bastante procurado por causa de seu baixo conteúdo de enxofre e suas reservas geralmente marítimas, onde pode ser carregado em petroleiros sem a necessidade de se colocar os pés em um país.</div><br /><div><strong>Para ficar rico, seja um ministro</strong></div><br /><div>O homem que foi o primeiro-ministro de São Tomé até fevereiro de 2007 se chama Tomé Vera Cruz, um homem de aspecto poderoso encarregado de dirigir um país amargamente pobre. Durante seu mandato, São Tomé mergulhou em uma crise econômica severa. O preço do quilo de arroz aumentou cinco vezes. A comida é escassa e em grande parte importada, com iogurte vindo de Libreville, no Gabão, e as massas de Lisboa. Apesar de eletricidade estar disponível apenas 12 horas por dia, a empresa estatal de energia elétrica aumentou seus preços em 68%. Uma unidade policial de elite recentemente se rebelou, ocupando o quartel da polícia e fazendo o chefe de polícia como refém.</div><br /><div>Muitos atribuem estes novos problemas em São Tomé ao petróleo. "Nós desconfiamos uns dos outros", diz Tomé Vera Cruz. "Todos estão convencidos de que outros já estão embolsando o dinheiro. Muitas pessoas pararam de trabalhar e estão esperando pelo petróleo." A nova lei do petróleo, pelo menos, foi adotada, ele diz. "Mas é o mesmo que em outros lugares: você pode ter leis e tudo mais, mas você também tem pessoas." Ele ri em voz alta.</div><br /><div>Há um ditado em São Tomé: "Para ficar rico, tudo o que você precisa fazer é ser ministro por 24 horas".</div><br /><div>Veja, por exemplo, o ministro dos Recursos Naturais. Seu nome é Manuel de Deus Lima, e todos em São Tomé conhecem sua história: quando ele trabalhava para o banco central do país, ele fez um acordo com uma empresa de Liechtenstein para criação de uma moeda são-tomense comemorativa do milênio. O único problema é que uma parte dos lucros iria diretamente para ele. Lima foi sentenciado a dois anos sob condicional -o que não o impediu de ser nomeado ministro.</div><br /><div>Lima estudou na Alemanha Oriental. Ele fala alemão. Quando telefonamos para pedir uma entrevista, ele gritou ao telefone, em alemão: "Petróleo! Petróleo! Petróleo! Todo mundo vem aqui para escrever a respeito, mas ninguém quer nos ajudar a extraí-lo!" Então ele desligou.</div><br /><div><strong>Não apenas ministros</strong></div><br /><div>Mas os problemas não são puramente domésticos. A história de São Tomé e Príncipe é uma longa história de intervenção estrangeira. Quando os portugueses descobriram as ilhas no século 15, elas eram desabitadas. Navios portugueses compravam escravos africanos aqui com a intenção de enviá-los para as Américas. Os escravos plantavam cana-de-açúcar e posteriormente café e cacau. Não houve grande mudança -por séculos- até uma ditadura em Lisboa ser derrubada por um golpe militar em 1974. Os portugueses concederam rapidamente a independência para suas últimas colônias remanescentes, incluindo São Tomé e Príncipe, onde 100 mil negros africanos e outras pessoas multirraciais repentinamente tinham seu próprio país.</div><br /><div>Trinta e três anos depois, a ilha ainda enfrenta dificuldades. Apesar dos US$ 600 milhões em ajuda que o país recebe desde a independência, o padrão de vida continua caindo. Segundo o Banco Mundial, mais de 50% da população é considerada "pobre".</div><br /><div>Quando depósitos de petróleo foram detectados nos anos 90, o primeiro empresário a aparecer foi o sul-africano descendente de alemães chamado Christian Hellinger, que ganhou fortuna com os diamantes angolanos. Ao chegar, ele supostamente deu a cada ministro um gerador. Logo ele adquiriu o apelido de "Rei de São Tomé". Ele transferiu sua empresa de transporte aéreo para cá e foi o primeiro a explorar petróleo.</div><br /><div>Hellinger trouxe uma empresa para São Tomé que desde então só significa problemas. A pequena empresa nascida na Louisiana e atualmente sediada em Houston, se chama ERHC (Environmental Remediation Holding Corporation). Na época ela era especializada em dar destino aos resíduos da indústria do petróleo e não tinha entendimento nenhum de produção de petróleo. Mas a ERHC convenceu o governo a assinar um contrato em 1997. Por US$ 5 milhões a empresa recebeu direitos exclusivos sobre a comercialização e exploração de todas as reservas de petróleo de São Tomé pelos próximos 25 anos. A organização não-governamental Global Witness posteriormente chamou isto de "um dos acordos mais chocantes de todos os tempos".</div><br /><div>O país fez acordos com outras empresas, incluindo a ExxonMobil, mas aparentemente foram igualmente ruins. O presidente Fradique conseguiu renegociar alguns dos acordos, mas a ERHC, agora de propriedade de um nigeriano influente, ainda ganha sua parte das concessões e de novas descobertas de petróleo.</div><br /><div>O segundo problema de São Tomé sempre foi sua poderosa vizinha, a Nigéria, que não estava interessada em permitir que a minúscula nação lucrasse com petróleo em seu próprio quintal. A Nigéria contestou a fronteira marítima entre os dois países e forçou São Tomé a aceitar um acordo para formação de uma "Zona Conjunta de Desenvolvimento", no qual 40% da receita da produção de petróleo iria para São Tomé e 60% para a Nigéria.</div><br /><div>Quando os dois países leiloaram as primeiras licenças de exploração em 2003 e 2004, as coisas não transcorreram da forma como os são-tomenses esperavam. Grande parte das companhias de petróleo se manteve distante, exceto no caso do mais promissor setor na zona de petróleo, conhecido como Bloco 1, pelo qual um consórcio da Chevron e ExxonMobil conquistou a licença de exploração por US$ 123 milhões. Todavia, foi um dia monumental para São Tomé. Sua parcela de 40%, US$ 49 milhões, quase equivalia ao orçamento anual do país.</div><br /><div>Mas a Nigéria reteve o valor, usando seu controle do dinheiro para forçar São Tomé a conceder licenças a certas empresas pequenas na próxima rodada de leilão -empresas de propriedade de empresários nigerianos com laços estreitos com os políticos do país. O procurador-geral de São Tomé posteriormente expôs este esquema.</div><br /><div><strong>'O que acontece se não houver petróleo?</strong></div><br /><div>A história de São Tomé e seu petróleo é uma de acordos ruins em um país sem entendimento do setor de petróleo. Se alguém sabe disto é Patrice Trovoada, o filho rico do primeiro presidente eleito democraticamente, Miguel Trovoada. Ele esteve envolvido em quase todos os acordos.</div><br /><div>Ele se senta na varanda de sua quinta na praia -um homem de 46 anos robusto e com um grande sorriso- e nega qualquer culpa. Ele insiste que tudo o que fez foi tentar salvar o que outros tinham estragado.</div><br /><div>Ele foi inicialmente o ministro das Relações Exteriores de Fradique e posteriormente seu consultor de petróleo. Então Fradique o demitiu, se queixando de que os Trovoada estavam tratando o Estado como sua propriedade privada. Patrice se tornou seu rival.</div><br /><div>Atualmente ele é o primeiro-ministro do país. "Meu pai e eu escolhemos Fradique como presidente", ele diz. "Mas uma pessoa sempre pode cometer erros. O homem assumiu o governo e começou a falar demais. Blá, blá, blá. Sobre petróleo. Ele falava demais sobre petróleo. E lutou contra todos, contra a Nigéria, dizendo que estavam roubando isto e aquilo, que era um contrato ruim, blá blá blá." Ele ri de forma contida.</div><br /><div>Patrice Trovoada é conhecido por dirigir um jipe Hummer com seus guarda-costas. Ele passou grande parte de sua vida fora do país. Ele fala português, a língua oficial de São Tomé, com sotaque; ele se converteu ao Islã. Ninguém sabe a origem de seu dinheiro. Ele é dono de uma empresa de construção em Houston, Texas. Ele disse que foi erroneamente acusado de envolvimento no tráfico de drogas.</div><br /><div>Ele não tem Jeffrey Sachs e a Universidade de Colúmbia em grande estima. Ele disse que apesar de apoiar a transparência, ele não vê por que toda a receita do petróleo deve ser depositada em uma conta bloqueada. Talvez fosse melhor manter parte dela em São Tomé.</div><br /><div>Trovoada diz que deseja arrumar as coisas em São Tomé, onde os políticos pararam de pensar desde que souberam do petróleo. Eles gastam dinheiro aos montes, ele diz. "O que acontecerá se não houver petróleo? E aí?" Ele sorri, claramente satisfeito consigo mesmo.</div><br /><div>Ele também diz que a corrupção faz parte da tradição da ilha e comprar votos faz parte do jogo. Ele faz isso, ele disse, assim como Fradique.</div><br /><div><strong>Ainda um modelo?</strong></div><br /><div>As primeiras sondagens experimentais foram realmente decepcionantes. A Chevron encontrou petróleo a uma profundidade de cerca de 1.700 metros, mas em quantidades tão pequenas e de qualidade tão ruim que não era "comercialmente viável".</div><br /><div>A busca por petróleo nem sempre leva a resultados claros. Dados sísmicos promissores não são garantia da existência de tanto petróleo quanto antecipado. É um pouco como pôquer: você tem uma boa idéia e faz sua aposta, e com sorte pode ganhar. Descobrir novo petróleo se tornou mais difícil. As empresas estão sondando em profundezas cada vez maiores, mas com o aumento do preço do petróleo, a exploração a grandes profundidades passa a valer a pena.</div><br /><div>Os chineses estão atualmente explorando no Bloco 2, enquanto os americano exploram o Bloco 3. A Addax, uma empresa suíça-canadense, está convencida de que petróleo pode ser encontrado a ponto de ter comprado direitos de exploração em todos os quatro blocos. Ela adquiriu a participação da Exxon no Bloco 1 no outono de 2007 por pouco menos de US$ 78 milhões. O representante da empresa, um americano chamado Tim Martinson, disse que é importante manter o otimismo neste ramo, e que "alguma produção" certamente se materializará, mas dificilmente antes de 2015.</div><br /><div>E Fradique? Ele há muito parou de falar sobre suas metas ambiciosas. Há rumores de que seu relacionamento com a equipe de Jeffrey Sachs esfriou.<br />Quase ninguém mais acredita que São Tomé será um modelo para o mundo. Joaquin Sacramento, um pescador, se encontra em uma praia na cidade de São João dos Angolares, a duas horas ao sul da capital. Ele está lixando seu barco de madeira, que colocou sobre blocos na praia, sob uma chuva quente. Ele é um homem de 39 anos e pele bem escura, vestindo uma camisa vermelha de time de futebol.</div><br /><div>A verdadeira questão em São Tomé gira em torno dele -se pessoas como Sacramento algum dia verão algum benefício do petróleo e se as visões otimistas de Sachs e de sua equipe foram exageradas.</div><br /><div>Sacramento não tem respostas. "Nós somos pescadores", ele diz. "Alguém tem que pescar. O petróleo é para os políticos."</div><br /><div>Ele sabe sobre o mar -ele conhece seus humores e a melhor hora do dia para pegar certos tipos de peixe. Mas ele sabe muito pouco sobre petróleo. Ele escutou que o mar fica vermelho quando as empresas perfuram e duvida que isto fará algum bem aos peixes.</div><br /><div>"O oceano é azul", ele diz. "É com que estão acostumados." </div><br /><div>Fonte: Der Spiegel / Mathieu von Rohr - Em São Tomé e PríncipeTradução: George El Khouri Andolfato </div><br /><div></div><div><span style="font-size:85%;"><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=36308">Retirado de o <em>Vermelho</em></a></span></div>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-57927100470694629042008-04-18T15:16:00.000-07:002008-04-18T15:29:45.511-07:00Tibete: investigação sobre uma fotografia manipulada<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjib0E7QdYDjajZQpWdoR8XN6XQf5XQ_CLjYiNN7bbDIitKXuPVfAJoKkAGdWE_88dopLDL9poIFQwaC76pG-3ag2_8NOVPmjjMKtwAFdghBjaFaAwbE-G3JY9GHr2kPmKYCZS-5njiwvtZ/s1600-h/Manif+Tibete+2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5190715936418302626" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjib0E7QdYDjajZQpWdoR8XN6XQf5XQ_CLjYiNN7bbDIitKXuPVfAJoKkAGdWE_88dopLDL9poIFQwaC76pG-3ag2_8NOVPmjjMKtwAFdghBjaFaAwbE-G3JY9GHr2kPmKYCZS-5njiwvtZ/s320/Manif+Tibete+2.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:85%;"><strong>Com base numa fotografia que nada tem a ver com os recentes acontecimentos no Tibete, pretende manipular a opinião pública. E quando se recorre à mentira são muitas as liberdades que são retiradas.</strong></span><br /><br /><strong>Michel Collon*</strong> - 17.04.08<br /><br />Olhem com atenção a fotografia “Soldados chineses disfarçam-se de monges.” [ver <a href="http://flickr.com/photos/macy_miao/2370855959/in/pool-tibetphot">http://flickr.com/photos/macy_miao/2370855959/in/pool-tibetphot</a>].<br /><br />Provavelmente já a terão recebido ou irão receber em breve. Tem tido intensa circulação na Net, acompanhada do seguinte comentário: “Londres – 20 de Março – A GCHQ, agência governamental de comunicações que vigia electronicamente metade do mundo a partir do espaço, confirmou a acusação do Dalai Lama, segundo o qual membros do Exército Popular de Libertação chinês, disfarçados de monges, desencadearam os desacatos que resultaram na morte ou ferimento de milhares de tibetanos…”<br /><br />Pretende-se que esta fotografia prova essa acusação, e por isso tem gerado uma vasta indignação. Dito isto, olhem com atenção a fotografia, e vamos jogar ao jogo de detectar sete erros…<br /><br />São estes os sete erros:<br /><br />1-Alguma vez viram uma “imagem de satélite” tirada de um tal ângulo? Fisicamente, é impossível. Desse ângulo não se veria senão um nevoeiro azulado (quando se viaja de avião não pode ver-se senão para baixo, não a grande distância.)<br /><br />2-Somos informados de que os soldados se disfarçam de monges para intervirem como agentes provocadores. Seriam tão estúpidos que realizassem uma tal operação secreta em plena via pública?<br /><br />3-Dizem-nos que a fotografia é recente, imediatamente anterior aos acontecimentos denunciados. Que prova existe disso?<br /><br />4-Pedi a opinião de um amigo que conhece o Tibete. Diz-me que esta fotografia não poderia ter sido tirada a 14 de Março, sob um sol primaveril, uma vez que este ano a primavera apenas se fez sentir no Tibete depois de 21 de Março.<br /><br />5-Informou-me também que as cores dos táxis-bicicleta de Lassa mudaram depois de 2005.<br /><br />6-Informou-me também que os uniformes fotografados já não são usados há bastante tempo.<br /><br />7-Verificado isto tudo, tornou-se necessária uma pequena investigação, que conduziu à descoberta de uma versão bem diferente…<br /><br />Donde vem então a fotografia?<br /><br />Na verdade, a fotografia data de 2003. Os monges tinham recusado participar como figurantes na rodagem de um filme. Em vista disso houve a necessidade de recorrer a militares, que são vistos a recolher os seus trajes de figurante, o que parece constituir uma prática corrente naqueles sítios. Em qualquer caso, a cena não tem nada a ver com as recentes imagens na televisão de monges desencadeando a violência e assaltando lojas em Lassa.<br /><br />O que é certo é que esta outra versão apontava para uma manipulação tão grosseira que se tornava necessária uma confirmação adicional. Pois bem, qualquer um de nós pode encontrar essa confirmação…no próprio site que difunde esta fotografia “acusatória”:<a href="http://buddhism.kalachakranet.org/chinese-orchestrating-riots-tibet.htm">http://buddhism.kalachakranet.org/chinese-orchestrating-riots-tibet.htm</a><br /><br />A fotografia figura aí com a seguinte legenda: “Esta ‘acção táctica’ não é inédita por parte do governo Chinês, como pode constatar-se na contracapa do relatório de 2003 do Tibetan Centre for Human Rights and Democracy. Esta fotografia parece ter sido tirada quando alguns monges se recusaram a participar num filme, de modo que o seu papel foi desempenhado por soldados vestidos de monge.”<br /><br />De acordo com um dos nossos contactos, a fotografia terá sido tirada na altura da rodagem de um telefilme (em 25 episódios), em 2003-2004, baseado na obra “Quando assentou a poeira”, um romance de Alai, autor tibetano nascido em 1959 na zona ocidental do Tibete. Este romance recebeu o Prémio de Maodun (um dos mais importantes prémios literários na China) em 2000.<br /><br />Questionado acerca desta manipulação, o responsável do site respondeu que associara a fotografia ao texto acusatório dos chineses “com a finalidade de mostrar o género de artimanhas que os chineses utilizaram no decurso dos recentes motins”. Fica ao cuidado de cada um avaliar esta deontologia jornalística.<br /><br />Logo em seguida, todo o género de grupos trataram pura e simplesmente de suprimir o comentário, de modo a fazer crer que a fotografia era recente e de que se tratava de uma provocação do exército chinês. Depois disso, a fotografia deu a volta ao mundo…Quanto a “imagens de satélite”, já existem antecedentes.<br /><br />1-Não é a primeira vez que pretendem convencer-nos através de imagens de satélite. Em 1990, os EUA afirmaram dispor de imagens (que nunca divulgaram) demonstrando que Saddam Hussein se preparava para invadir a Arábia Saudita. Este truque diabolizante tem desempenhado um importante papel na manipulação da opinião pública. No meu livro Attention, médias! faço a análise desta médiafraude (pag. 21).<br /><br />2-Em 2003 os EUA difundiram imagens de satélite que “provavam” que o Iraque dispunha de armas de destruição massiça.<br /><br />3-Recentemente, reincidiram, agora contra o Irão (silenciando o facto de que Israel dispõe de 200 armas nucleares ilegais.<br /><br />Pode uma imagem mentir?<br /><br />É altura de lembrar que pode mentir-se com imagens. Já para não falar das técnicas gráficas hoje disponíveis, grandes cineastas, como Chris Marker, demonstraram de forma brilhante que é possível fazer seja o que for a uma imagem e fazer com que ela permaneça credível. Efectivamente, uma imagem, por si própria, não nos informa:<br /><br />1-De quando e em que lugar foi tirada.<br /><br />2-O que é que mostra realmente.<br /><br />3-O que é que oculta (ao lado, antes, depois…)<br /><br />Todos nós já nos deixámos enganar em alguma ocasião por imagens destas. É certo que cabe a cada um formar a sua opinião acerca do Tibete, procurando verificar ambas as versões, procurando estudar os interesses em jogo de ambos os lados. Mas, em qualquer caso, todos temos direito a uma informação não manipulada. Por isso, sugiro às pessoas que têm difundido esta imagem que difundam também esta rectificação.<br /><br />*Escritor e professor de jornalismo<br /><br />Tradução Pedro Silva<br /><br /><span style="font-size:85%;"><a href="http://odiario.info/articulo.php?p=705&more=1&c=1">Retirado de <em>o diario</em></a></span>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-62067491590039032962008-04-14T14:30:00.000-07:002008-04-14T14:45:17.528-07:00Uma vitória histórica no Nepal<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_EB8w77hA9wjTP3aCEK0I0F2jA2f4wXXq92x_Ftk7i9RVCUG6oPYOMAEvHn__t6Fd2ZydqXsHfydgYUDKXZourKj4HlNW5o8Ha2oxcuPBYKEYhGhFpGxjYfHU-BTWQ-ZiN2li2D4Kp1vT/s1600-h/nepal_india.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5189219531157670450" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_EB8w77hA9wjTP3aCEK0I0F2jA2f4wXXq92x_Ftk7i9RVCUG6oPYOMAEvHn__t6Fd2ZydqXsHfydgYUDKXZourKj4HlNW5o8Ha2oxcuPBYKEYhGhFpGxjYfHU-BTWQ-ZiN2li2D4Kp1vT/s320/nepal_india.gif" border="0" /></a> Não é pouca coisa o que aconteceu no Nepal. São anos de luta guerrilheira, de sacrifícios e resistências no campo de batalha, de milhares de trabalhadores, camponeses e camponesas massacrados pelas bombas e pelas balas de uma da piores ditaduras monárquicas da região, que agora revertem numa vitória popular impecável.<br /><div></div><br /><div>"Estamos surpreendidos", dizem os adoradores do "terrorismo mediático"; "estamos consternados", sustentam em Washington aqueles que bebem no discurso ingerencista de George W. Bush, porque não podem entender como aconteceu aquilo que para eles é uma hecatombe. Maoismo nestas épocas?, sussurrou, preocupado, a um jornalista o genocida espanhol Javier Solanas. A resposta foi-lhe dada nas ruas pelos e pelas nepalenses que com uma tenacidade e uma consciência blindada não só combateram na guerrilha como também – recordemo-lo – desafiaram a polícia e o exército do rei Gyanendra, e foram encarcerados, golpeados, torturados e até desaparecidos devido à sua rebeldia, mas nunca cessaram de combater. </div><br /><div></div><div>Assim, durante anos, na selva e nas montanhas, como guerreiros e guerreiras, e a seguir em imponentes manifestações que a partir de 2005 inundaram as ruas de Kamandú e outros centros urbanos do país, exigindo a abdicação do monarca, foi-se gestando a vitória do presente. </div><br /><div></div><div>Por isso, não se trata de nenhuma surpresa. Surpreendidos podem estar os cúmplices internacionais daqueles que afundaram o Nepal não acreditavam naquilo que há muito tempo era anunciado nos muros das ruas do Nepal: "A monarquia cairá e governará o povo dirigido pelo camarada Prachanda". Agora que chegou o momento, são os mesmos "observadores" europeus e ianques que têm de dar a "ingrata notícia" às suas diferentes metrópoles. Para eles, começa um pesadelo que não fora pensado. Para o povo do Nepal, abre-se um caminho de esperança e construção do poder popular. </div><br /><div></div><div>Cabe assinalar que o Nepal é um pequeno país situado entre a região chinesa do também convulsionado Tibete e o norte da Índia, com uma superfície total de 140 mil quilómetros quadrados. Ali vivem aproximadamente 24 milhões de habitantes, a maioria deles em zonas rurais e em condições de extrema pobreza.</div><br /><div></div><div>O actual Estado nepalês, criado há dois séculos e comandado por um punhado de feudais moribundos, adoradores do capitalismo, foi acossado por muitas contradições irreconciliáveis. Todos os esforços reformistas para remendar a superestrutura político-cultural, assim como a base económica, não puderam conter o deslizamento gradual para o seu colapso total, e dessa cinzas surgiram os fogos actuais. </div><br /><div></div><div>O Nepal agora é o segundo país mais pobre do mundo. Como bem afirmou o PCN(M) em um dos seus apelos ao povo para que se rebelasse nas urnas: "A desigualdade económica, na qual 10% dos ricos é dona de 46,5% do rendimento nacional, é uma das piores do planeta; 71% da população vive abaixo do nível de pobreza absoluta; 90% da população vive no campo em condições primitivas e 81% trabalha em agricultura primitiva; só 10% da população tem trabalho e 60% está subempregada; quase um terço da força laboral viu-se obrigada a ir trabalhar na Índia e em outros países onde os salários miseráveis ou incorporaram-se às forças armadas mercenárias da Índia e da Inglaterra; o domínio imperialista e de potências expansionistas em todas as esferas está a aprofundar-se e mais de dois terços do orçamento para o desenvolvimento depende de empréstimos estrangeiros". </div><br /><div></div><div>O contraste com esta situação de vida paupérrima é dado, no Nepal, pela sua belíssima geografia onde se situam os montes Himalaias e o monumental pico do Everest, tão visitado por excursões planificadas por sectores da alta burguesia europeia e não poucos aventureiros juvenis que com as suas mochilas costumam chegar à maravilhosa Kamandú. </div><br /><div></div><div><strong><span style="font-size:130%;">Da luta armada ao triunfo nas urnas</span></strong></div><br /><div></div><div>Não são poucas as organizações político-militares que tentaram percorrer o caminho que hoje pem estar a atingir os partidários do maoismo nepalense. Contudo, quase todos os esforços nesse sentido culminaram em negociações entre o poder que tentavam derrubar e as forças insurgentes. Aquilo que marca a diferença neste caso é que enquanto em outras experiências as guerrilhas encontraram-se frente à impossibilidade de obter uma vitória militar, neste caso o poderoso exército popular construído durante anos pelo PCN(M) e sua influência indiscutível entre o povo pobre (ali está a recordação das grandes greves contra a monarquia) foi forjando uma realidade de ferro que nem sequer a pressão internacional a favor da realeza pôde desconhecer. </div><br /><div></div><div>Vejamos então quem são os vencedores deste presente nepalense e de que rincões da história recente do país provem este reconhecimento concedido pelo povo nas urnas.</div><br /><div></div><div>O Partido Comunista do Nepal (Maoista) foi fundado em 1949, mas só em 1994 verificou-se o seu relançamento como organização político-militar maoista liderada por Pushpa Kamal Dahal (mais conhecido como Camarada Prachanda). Foi formado após uma cisão do Partido Comunista do Nepal (Centro de Unidade), cuja denominação utilizou até 13 de Fevereiro de 1996, quando seus seguidores decidiram levantar-se em armas contra o governo monárquico. Nesse dia, por todo o território nepalense, ouviu-se o grito de batalha que começou a guerra popular prolongada: "A rebelião justifica-se". </div><br /><div></div><div>Nesse momento o Partido estabeleceu inequivocamente, no denominado "Plano do início histórico da guerra popular", que esta guerra popular propunha-se construir um Estado de Nova Democracia, para a seguir "marchar ao socialismo e finalmente ao comunismo, passando por uma série de revoluções culturais sob a ditadura do proletariado, e portanto é parte integral e um componente da revolução proletária mundial". Como manifestou o líder do PCN(M) num documento de 1996, "esta luta seguirá as leis objectivas do desenvolvimento da guerra popular por meio das suas diferentes etapas estratégicas e voltas e revoltas, sem nunca se deter até que consiga sua meta final: a sociedade sem classes, o comunismo universal que tão brilhantemente enunciou Mao na sua teoria de continuar a revolução sob a ditadura do proletariado. Portanto, muitos mais dos nossos irmãos e irmãs de classe terão que fazer o supremo sacrifício e dar a vida para que continuem a arder as chamas da revolução até que todo rastro da sociedade classista fique em cinzas e alcancemos o comunismo porque, como disse Mao: ou todos entramos no comunismo ou ninguém entra". </div><br /><div></div><div>Antes de converter-se em partido político e em opção eleitoral vitoriosa, a guerrilha maoista dominava 80% do país, estabelecendo governo locais e regionais em vários distrito. Após um ano de pequenas escaramuças, conseguiram assentar na parte central do país junto às terras baixas do Himalaia (a leste e oeste de Katmandú). Os guerrilheiros foram criando organizações nacionais de apoio entre as minorias de Magar, Gurung, Tamang, Newar, Tharu, Rai, Limbu e Madhise, assim entre os nepalenses, formando uma frente ampla chamada Samyukta Jana Morcha (SJM) ou Frente Popular Unida (Maoísta), cujo presidente era Baburam Bhattarai.</div><br /><div></div><div>Os que apoiam os maoistas argumentavam que libertaram a população do tirânico sistema de castas, dando igualdade de direitos às mulheres (tanto na luta guerrilheira como nas frentes de massas elas desempenharam um papel destacadíssimo), e que enfrentavam uma monarquia opressora e autoritária, agora finalmente derrotada. </div><br /><div></div><div><strong><span style="font-size:130%;">Uma estratégia de guerra popular</span></strong> </div><br /><div></div><div>O PCN(M) aderia à estratégia maoista de guerrilhas e guerra popular, pela qual tomaria o controle gradual do campo até cercar as cidades, lutando contra as forças governamentais só quando superassem em número significativamente o inimigo. Em 2001 o exército nepalense começou uma campanha militar contra os rebeldes maoistas, especialmente nas áreas ocidentais do país, com intermintentes altos de fogo. </div><br /><div></div><div>O Departamento de Estados dos Estados Unidos incluiu este partido na sua lista de organizações terroristas (algo que ainda está em vigor) e enviou centenas de milhões de dólares de ajuda ao governo do Nepal a fim de combate-los. </div><br /><div></div><div>Quando em 2005 o rei Gyanendra tomou o poder absoluto, em Abril de 2006 o partido convocou uma greve geral indefinida, juntamente com outros sete partidos opositores, o que levou o rei a anunciar que restabelecia o Parlamento. Ainda que os outros partidos tivessem acabado as mobilizações e nomeado um candidato a primeiro-ministro, o Partido Comunista do Nepal (Maoista) recusou a decisão do rei, pela boca do mesmo Prachanda, por considerá-la uma conspiração para permitir que continuasse no poder.</div><br /><div></div><div>Prachanda também acusou a aliança opositora de não cumprir o acordo de doze pontos que firmaram e de haver traído as aspirações do povo nepalense. Além disso, anunciou que continuariam a bloquear Katmandú até que se cumprissem suas exigências, mas a 26 de Abril de 2006 levantaram o bloqueio das estrada com a exigência de que os partidos políticos iniciassem a criação de uma assembleia constituinte na sua reunião seguinte. </div><br /><div></div><div>Em Maio do mesmo ano foram retiradas as acusações de terrorismo aos membros do PCN(M) e transmitiu-se à Interpol a petição de anulação das ordens de prisão internacional contra os membros do Partido. Finalmente, em Dezembro de 2007 o parlamento aboliu a monarquia por ampla maioria e decidiu a reforma da constituição e integração dos maoistas no exército. </div><br /><div></div><div>Este partido faz parte do Movimento Internacionalista Maoista e do Comité de Coordenação dos Partidos e Organizações Maoistas do Sul da Ásia.</div><br /><div></div><div>Agora, contra ventos e tempestades, e no âmbito de um aluvião de observadores europeus (como Mr. James Carter), os maoistas levantaram-se com um triunfo indiscutível. Vitória que tem muito a ver com a tenacidade de uma luta guerrilheira de anos e a convicção de que as ideias do PCN(M) estão profundamente enraizadas na população do Nepal, que sofreu nas suas costas uma cruel ditadura monárquica amparada pelos EUA e os países europeus. </div><br /><div></div><div>O triunfo anti-monárquico no Nepal abre, sem dúvida alguma, perspectivas mais que estimulantes em outros países que ainda sofrem governos monárquicos na Europa, Ásia e África. São também uma chamada de atenção para aqueles que tentam reiteradamente desalentar os que lutam com as armas nas mãos (quando se fecham todos os caminhos pacíficos) contra os opressores dos seus povos. Sem essa actividade insurgente, constante e prolongada, teria sido impossível alcançar a vitória que os nepaleses hoje festejam nas ruas. </div><br /><div>14/Abril/2008 </div><br /><div>O original encontra-se em <a href="http://www.resumenlatinoamericano.org/" target="_new">http://www.resumenlatinoamericano.org/</a>, nº 1025 </div><div></div><div>Este artigo foi retirado de <a href="http://resistir.info/" target="_new">http://resistir.info/</a> .</div>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-74165423386378658552008-04-03T15:32:00.000-07:002008-04-04T18:36:10.313-07:00Exemplos de manipulação informativa sobre o Tibete<em><span style="font-size:85%;color:#000099;">(Clicar nas imagens para ampliar)</span></em><br />Os recentes disturbios no Tibete tem ocupado centenas de horas nos meios audiovisuais de todo o mundo. A quase totalidade das informações parece escrita por um único guionista. Longe de aprofundar a informação, a mensagem tem sido completamente manipulada: as vítimas, os bons, são os monges tibetanos e os chineses são os maus.<br />Em baixo apresentam-se uma série de imagens e vídeos que foram manipulados pela imprensa ocidental. As imagens que nos mostram os diferentes meios são de revoltas de monges budistas no Nepal e na Índia que são apresentadas como sendo no Tibete e mesmo as que são no Tibete são objecto de manipulação<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGHo5XnkURQJTVIoPkA939nGnWuQW6nFdZJRF__FZR3dBH7Dn9yGu8Y_noUL3KslCD-nEILQ_LhN0nRe7WMhM6-H1cGpSXKltUYZsEOfHttT-lMaWfcbZZyYxoaw6ec6HQBV06j0Fv6dqb/s1600-h/Tibete+1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185161591714298642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGHo5XnkURQJTVIoPkA939nGnWuQW6nFdZJRF__FZR3dBH7Dn9yGu8Y_noUL3KslCD-nEILQ_LhN0nRe7WMhM6-H1cGpSXKltUYZsEOfHttT-lMaWfcbZZyYxoaw6ec6HQBV06j0Fv6dqb/s320/Tibete+1.jpg" border="0" /></a> À esquerda em cima, temos a página do diário alemão Bild na Internet, nela aparece um monge ferido e apela-se ao boicote contra os jogos Olímpicos, à direita encontra-se a fotografia original, onde se pode verificar claramente que se trata de uma fotografia tirada no Nepal como se pode ler no escudo do policia. Na página seguinte (em baixo), o mesmo diário digital apela de novo ao boicote com imagens tiradas igualmente no Nepal, os militares têm o mesmo uniforme que na fotografia anterior.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivHvZzjlshUJIb_rvKQmszLU2lVgSoYIKEcZNU63X9qAD7DhA9dTpi83jD4slcssbHq_nbh6Tc-aMAUo9FE-6iGUK1FSsGn2qwWoaxLB9zSKkSeyReeCkZNrkQhDgttEARDqJ_bIjtiBm8/s1600-h/Tibete+2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185161372670966530" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivHvZzjlshUJIb_rvKQmszLU2lVgSoYIKEcZNU63X9qAD7DhA9dTpi83jD4slcssbHq_nbh6Tc-aMAUo9FE-6iGUK1FSsGn2qwWoaxLB9zSKkSeyReeCkZNrkQhDgttEARDqJ_bIjtiBm8/s320/Tibete+2.jpg" border="0" /></a> A imagem seguinte captada na página Internet da conhecida CNN, tirada no Tibete, foi cuidadosamente recortada para que não apreçam os manifestantes apedrejando uns camiões, provavelmente civis, pois não aparecem blindados nem escolta armada.<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLt8wE8n6L73NXnKWHVrcDWTs9HN9hS0UT1TNVuiGaXuaKbEje4-_xU0b_jaoycMglBc9oZr8aayls3YBl_Za2B6_VKXUJLRqhNFiROAtjl4Mhj2Jzy5od4QsQaVvn7ZIX_IJqMJoz0MPs/s1600-h/Tibete+3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185159895202216690" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLt8wE8n6L73NXnKWHVrcDWTs9HN9hS0UT1TNVuiGaXuaKbEje4-_xU0b_jaoycMglBc9oZr8aayls3YBl_Za2B6_VKXUJLRqhNFiROAtjl4Mhj2Jzy5od4QsQaVvn7ZIX_IJqMJoz0MPs/s320/Tibete+3.jpg" border="0" /></a> Outro conhecido meio de comunicação e com aura de credibilidade é o Washington Post, também ele manipulou as notícias sobre o Tibete. Na imagem seguinte, tirada da página deste jornal de novo se ilustra a notícia com uma imagem tirada em Katmandu, capital do Nepal, embora em rodapé se afirme que a imagem se situa em Lhasa, capital do Tibete.</div><div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_bsNgsyhtpldXwPSUmnaxKs8eNAWcRa3T-44N1lzqzlHeYKNcZPPFtDrbgPXRNQODDIeCd6aF7PXnUyTFIpQKtUdJrhQtkbaK8MTThY0C56moD2QLp7E6qhb_Z9gV8i8ZBt-R5zXfMIkh/s1600-h/Tibete+4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185159624619277026" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_bsNgsyhtpldXwPSUmnaxKs8eNAWcRa3T-44N1lzqzlHeYKNcZPPFtDrbgPXRNQODDIeCd6aF7PXnUyTFIpQKtUdJrhQtkbaK8MTThY0C56moD2QLp7E6qhb_Z9gV8i8ZBt-R5zXfMIkh/s320/Tibete+4.jpg" border="0" /></a> A ultra-conservadora Fox não podia ficar atrás. Na imagem seguinte acusa-se os polícias chineses de deter manifestantes tibetanos. Qualquer um pode reconhecer que se tratam de polícias indianos, basta atentar no seu aspecto físico.</div><div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRRzWA89mCt7YR_I-rSaCg2ANTfb7C18CTZcpVNSlQL0jafv78i54U01Dp5TQvUprVTHHpyYbkG887GXaG2EAA42SeDoBoy9cwG_c8kYTUBGIUFvlsyNew0rcX3s7XrMz0jK7G1M6-lnZj/s1600-h/Tibete+5.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185158774215752402" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRRzWA89mCt7YR_I-rSaCg2ANTfb7C18CTZcpVNSlQL0jafv78i54U01Dp5TQvUprVTHHpyYbkG887GXaG2EAA42SeDoBoy9cwG_c8kYTUBGIUFvlsyNew0rcX3s7XrMz0jK7G1M6-lnZj/s320/Tibete+5.jpg" border="0" /></a> A prestigiosa BBC também manipulou na sua página web. Na imagem seguinte, a noticia é ilustrada com uma fotografia de uma ambulância e enfermeiros. No entanto em rodapé afirma-se o seguinte: ”Esta é uma mostra da forte presença militar em Lhasa”.</div><div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIWkYSz2pffjbwXfiAFOIkU3IH40lLpHHgNL9uU24lYcUQMcJlEK8zuYteKEpi2aQfFV1XJCcYhjuyzxHijY7YqY9du2LzCwxN_fSiT6VWFkSco99cqDDz_tnFdW0cM5qB9avy7zXfDcWb/s1600-h/Tibete+6.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185158460683139778" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIWkYSz2pffjbwXfiAFOIkU3IH40lLpHHgNL9uU24lYcUQMcJlEK8zuYteKEpi2aQfFV1XJCcYhjuyzxHijY7YqY9du2LzCwxN_fSiT6VWFkSco99cqDDz_tnFdW0cM5qB9avy7zXfDcWb/s320/Tibete+6.jpg" border="0" /></a>A rádio France Internacional junta-se à onda de desinformação quando titula a noticia em baixo: “Pequim aumenta a pressão”, a seu lado insere uma foto já familiar da policia nepalesa.</div><div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioZyNwc4tptIo6aHONcm5aTJwKl6FnOMfaTxDkSe2fyVHQ6qBIMivvm8KWpM0Dump07RV25tDLgVnIn_qqVtZgARXD94b9zZbGHVIqDd1svGsQRxBcfi9JOAXgGxmhcsOgmZd_83ERZTP-/s1600-h/Tibete+7.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185157829322947250" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioZyNwc4tptIo6aHONcm5aTJwKl6FnOMfaTxDkSe2fyVHQ6qBIMivvm8KWpM0Dump07RV25tDLgVnIn_qqVtZgARXD94b9zZbGHVIqDd1svGsQRxBcfi9JOAXgGxmhcsOgmZd_83ERZTP-/s320/Tibete+7.jpg" border="0" /></a> Durante uma entrevista com o embaixador chinês no Canadá, a Televisão canadiana CTV insere um vídeo onde aparece, novamente, a policia nepalesa, tentando demonstrar que o embaixador está a mentir.<br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimbRrfMYPfzYbFaQwKTFdfonmXXd2I2dawfJ4BZ8F5-pirxVzhq2gu5pj14uioYWC_x4QYbghJvCSwx05aObqMx68iV5MxP-swUXyW-z6OST6vL6iSPMMMGfcPHps__u7G0mY704tv9wJA/s1600-h/Tibete+8.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185157073408703138" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimbRrfMYPfzYbFaQwKTFdfonmXXd2I2dawfJ4BZ8F5-pirxVzhq2gu5pj14uioYWC_x4QYbghJvCSwx05aObqMx68iV5MxP-swUXyW-z6OST6vL6iSPMMMGfcPHps__u7G0mY704tv9wJA/s320/Tibete+8.jpg" border="0" /></a> As televisões alemãs N24 e RTL também emitiram nos seus vídeos informativos, tomados no Nepal, enganando os seus espectadores. Como se pode ver os policias vestem uniformes da policia nepalesa.<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP7H0Y32NCHC7PnUbpUMZxg_tsdfN6EOwyLlnLblaeu6TW7OfwcnubMGSSumdNrNtqMflBLj_GI2qUR6NDXUwnOnvjoKMrNi2xldKnpoP8GGfr37m66XGYYdM1jTrQFmVTGg2BDmmmjYCM/s1600-h/Tibete+9.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185156527947856530" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP7H0Y32NCHC7PnUbpUMZxg_tsdfN6EOwyLlnLblaeu6TW7OfwcnubMGSSumdNrNtqMflBLj_GI2qUR6NDXUwnOnvjoKMrNi2xldKnpoP8GGfr37m66XGYYdM1jTrQFmVTGg2BDmmmjYCM/s320/Tibete+9.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisFoHfVAXGmu15-nUa_PZkQ-2Ozp4c1ZO6X9TSnPzXuW0jBRaJmuZxwf5ksz2dfpw4gpSxp1pZ0IF77uiJk0pijVr9Wf5etay0W6GUxuVc9jQgpGs08ljyCtMZBtL9l4CesEEuMwWMedwC/s1600-h/Tibete+10.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185153439866370690" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisFoHfVAXGmu15-nUa_PZkQ-2Ozp4c1ZO6X9TSnPzXuW0jBRaJmuZxwf5ksz2dfpw4gpSxp1pZ0IF77uiJk0pijVr9Wf5etay0W6GUxuVc9jQgpGs08ljyCtMZBtL9l4CesEEuMwWMedwC/s320/Tibete+10.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiurqSL6gM6k-KenubkmKcB6skb2bfD_juTe_BYimHtucjUogLCAwMDxXmfKs_M0hLR2czKGi0ULNwr0fxI3xBF2cvB1NVINRoWzabmRAvvSoehaFygufkpGYoR5eWaio170zxjdpFIySzR/s1600-h/Tibete+11.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5185153199348202098" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiurqSL6gM6k-KenubkmKcB6skb2bfD_juTe_BYimHtucjUogLCAwMDxXmfKs_M0hLR2czKGi0ULNwr0fxI3xBF2cvB1NVINRoWzabmRAvvSoehaFygufkpGYoR5eWaio170zxjdpFIySzR/s320/Tibete+11.jpg" border="0" /></a> Estes exemplos que se mostram, são uma ínfima parte da adulteração informativa do caso do Tibete, que corre por todo o mundo na imprensa conservadora.</div><div></div><div>A China não é propriamente o melhor exemplo de pais socialista, no entanto desenvolvem um caminho próprio que tem correspondido ao que se propuseram, que era desenvolver económicamente o país, o passo seguinte, segundo eles, é melhorar a vida do povo e isso está a acontecer.</div><div></div><div>Toda esta campanha orquestrada contra este estado e os Jogos Olímpicos, não se deve à preocupação com os direitos humanos dos tibetanos, mas de certeza que têm outros motivos mais ligados a <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">geoestratégias</span> de algumas potencias, nomeadamente os EUA. </div><div><br />É que parece que o que têm para oferecer ao povo tibetano, é só o retorno a um feudalismo teocrático. e ao povo chinês, não é a melhoria da vida do seu povo, antes a continuação da humilhação a que até metade do século passado, submeteram o seu povo.</div><div></div><div>Tradução do texto de Carlos Martínez<br />no <a class="fuente" href="http://www.rebelion.org/noticia.php?id=65420" target="_blank">Rebelión</a></div></div></div></div></div></div></div></div></div>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-38159059545972015172008-04-03T13:34:00.000-07:002008-04-03T13:38:14.083-07:00Provocação no TibeteA excelente campanha de propaganda que desde há alguns anos, fez do Dalai Lama um homem bondoso, pacifico, amante da democracia e da liberdade no Tibete, conseguiu convencer muitas consciências. Na realidade, Tenzin Gyatso, como se chama o 14º Dalai Lama, é o ultimo chefe espiritual de uma seita lamaísta que, depois da revolução chinesa de 1949, viu chegado ao fim os seus privilégios. O Tibete anterior a 1949 era um território onde a maioria dos seus habitantes eram servos, escravos, que podiam ser vendidos, e onde a propriedade e a riqueza estavam concentrados nas mãos da nobreza feudal e dos monges dos mosteiros. As transformações politicas que chegaram com a revolução mudaram por completo este cenário, e, já em 1956 o Dalai Lama encabeçou uma rebelião contra o governo revolucionário chinês, armados e ajudados financeiramente pela CIA, insurreição essa que foi derrotada pelo Exército Popular chinês em 1959. As vítimas de esta guerra civil foram cerca de dez mil e não um milhar, como mantém o Dalai Lama.<br /><br />Nunca houve uma “invasão chinesa” do Tibete, como repete o fantasmagórico “governo no exílio”, entre outras razões porque o planalto tibetano já era território chinês séculos antes da existência de muitos países europeus. O Dalai Lama encabeçava um regime tão bondoso que tinha estipulado penas para delitos que consistiam inclusive em arrancar olhos aos condenados, cortar os pés ou as mãos, entre outros castigos semelhantes. Aquele regime pôde manter-se pelo isolamento do Tibete, pela decadência da China e por acção de potências imperiais como a Grã-bretanha, que chegou a ocupar Lhasa em 1904.<br /><br />Desde a sua derrota em 1959, o Dalai Lama estabeleceu-se no norte da Índia, “descobrindo” a bondade da democracia, passando a ser um peão estratégico dos interesses de Washington, que o financiou e ajudou diplomaticamente neste último meio século. Durante os anos sessenta, os Estados Unidos organizaram e treinaram em técnicas de guerrilha e de sabotagem, inclusive em território norte-americano (Colorado), grupos de tibetanos, até ao inicio dos anos setenta, esses grupos, os Khampas, que chegaram a ter quase dez mil homens, lançaram regularmente ataques armados no interior da China a partir das bases que tinham no Nepal, ao mesmo tempo, operações secretas da aviação norte-americana abastecia de armas e explosivos estes grupos.<br /><br />A derrota da insurreição de 1959, unida ao nacionalismo e à irredutibilidade politica de raízes religiosas dos monges, foi utilizada em distintas ocasiões para organizar campanhas de ataque e de descrédito da China. A última em meados de Março. Contrariamente às informações da imprensa conservadora internacional, os protestos e a “revolta” no Tibete, começaram nos mosteiros tibetanos de Drepung, Ganden e Será. Os participantes nos protestos colocaram Lhasa num caos, incendiaram edifícios como a companhia de electricidade, deixando sem luz a cidade, organizaram um verdadeiro pogrom racista contra chineses Han e comerciantes da minoria muçulmana, o que causou vitimas mortais, que depois a imprensa internacional acusou o governo chinês da responsabilidade dos mortos.<br /><br />Contrariamente a informações que foram difundidas, a policia foi incapaz de controlar o estalar da violência, ao ponto de mais de duzentos polícias resultarem feridos, junto a quatrocentos feridos civis. Mais de quatrocentos comércios foram saqueados e incendiados, o mesmo ocorreu com sete escolas e seis hospitais, assim como a dezenas de veículos.<br /><br />O momento em que estes acontecimentos se deram estavam perfeitamente calculados e determinados, a proximidade dos jogos Olímpicos amplifica o efeito deste novo foco de tensão com a China. A política calculista norte-americana de pressão sobre a China (o único país que no séc. XXI pode ser um rival estratégico de Washington) vai utilizar outras cartas para atacar a China: Tibete e o Dalai Lama, mas também os grupos islamistas da região chinesa Xinjiang, que recebem obscuros apoios, assim como a criação de uma crise com Taiwan e inclusive a reactivação da crise nuclear na península coreana. Os acontecimentos de Lhasa, não foram uma revolta de um povo oprimido, mas sim uma provocação bem calculada, de que o Dalai Lama e Washington conhecem todos os detalhes.Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-18302332819003426822008-03-31T16:56:00.000-07:002008-03-31T17:03:57.380-07:00Discurso do Ministro Brasileiro da Educação nos EUA...Este discurso merece ser lido, afinal não é todos os dias que um brasileiro dá um 'baile' educadíssimo aos Americanos...<br /><br />Transcrição do Brasileiro - Original<br /><br />Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos o actual Ministro da Educação CRISTOVAM BUARQUE foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta de Cristovam Buarque :<br /><br />”De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.<br /><br /> Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade.<br /><br />Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço.<br /><br />Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país.<br /><br /> Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.<br /><br />Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.<br /><br />Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.<br /><br />Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA.<br /><br />Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.<br /><br />Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.<br /><br /> Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.<br /><br />Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro.<br /><br />Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.<br /><br />Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa.<br /><br /> Só nossa!”Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-71787544612376896792008-03-30T15:07:00.000-07:002008-03-30T15:16:44.516-07:00Sobre o 14º Dalai LamaQuem é o ''pacifista'' dalai-lama?<br /><br />“Incensado pelo ocidente como uma figura impoluta, lutadora da paz e da não-violência, o dalai-lama, ou Tenzin Gyatso, está longe de merecer o epíteto de pacifista que os media ocidentais lhe aplicaram nos últimos 50 anos. Aliado há longa data do regime americano, e recentemente de Bush, o dalai-lama não é parte integrante das lutas dos povos pela democracia e a paz mundial”<br /><strong><span style="font-size:85%;">Humberto Alencar - 29.03.08</span> </strong><br /><strong></strong><br /><strong>Dalai-lama: separatismo e submissão</strong><br /><br />Exilado em Dharamsala, na Índia, onde está à testa de uma comunidade de 120 mil tibetanos, o 14.º dalai-lama é apresentado desde 1959 pelos meios de comunicação como ''um dos maiores defensores da paz no mundo'' e ''líder espiritual''. Seus gestos desmentem esses epítetos.<br /><br />Em 2003 o ''líder espiritual'' budista passou 18 dias nos Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente do país, George W. Bush, e o então secretário de Estado, Colin Powell. Os EUA tinham recentemente estabelecido o Tibetan Policy Act, uma lei que regularizava a ajuda aos separatistas, em 2002.<br /><br />O que disse e fez por lá revela que o homem que ostenta o título de Prêmio Nobel da Paz, obtido em 1989, age de forma diametralmente oposta ao discurso que mantém.<br /><br />A Casa Branca não divulgou o teor das conversas, mas a julgar pelas declarações posteriores do dalai-lama, um dos resultados da visita foi sua incorporação à política de guerras preventivas, aspecto central da estratégia agressiva do imperialismo norte-americano na atualidade.<br /><br />''É muito cedo para dizer se a guerra no Iraque foi um erro'', afirmou, para acrescentar em seguida sua convicção de que é necessário ''reprimir o terrorismo'', sem explicar o que queria dizer com ''reprimir''.<br /><br /> <strong>Participação no poder chinês</strong><br /><br />Em 1954, o décimo quarto Dalai-Lama participou da primeira Assembléia Nacional Popular da China, que elaborou a Constituição da República Popular, tendo sido eleito como um dos vice-presidentes do Comitê Permanente dessa Assembléia.<br /><br />Na ocasião, pronunciou um discurso afirmando: ''Os rumores de que o Partido Comunista da China e o governo popular central arruinariam a religião do Tibete, foram refutados. O povo tibetano tem gozado de liberdade em suas crenças religiosas''.<br /><br />Em 1956, o dalai-lama assumiu a presidência do comitê provisório encarregado de organizar a região autônoma do Tibete. As relações entre os governos central e local estavam, portanto, normalizadas.<br /><br />O conflito ressurgiu quando se cogitou em promover a reforma democrática do Tibete, separando a religião do Estado, abolindo a servidão rural e a escravidão doméstica e redistribuindo a propriedade das terras e dos rebanhos, monopolizada pela aristocracia civil e pelos mosteiros.<br /><br />Após o exílio, o dalai-lama, cercado pelas forças anti-chinesas e separatistas tibetanos, traiu completamente a sua posição patriótica original. A facção pró-ocidental, aproveitando-se da insatisfação entre lamas e nobres, retomou a ofensiva.<br /><br /> Agitando as bandeiras separatista e religiosa, e apoiada pela CIA cada vez mais desinibidamente, como hoje se reconhece, essa facção fundou uma organização política, a ''Quatro Rios e Seis Montanhas'', e uma organização militar, o ''Exército de Defesa da Religião'', e iniciou em 1956 ataques armados a funcionários e prédios públicos, a obras de infra-estrutura e até mesmo a tibetanos que apoiassem o movimento democratizador.<br /><br /><strong>Como reencarnar estando ainda vivo?</strong><br /><br />Traindo seus princípios religiosos, em novembro passado, o dalai-lama propôs que, em vez de esperar que os sábios religiosos encontrassem a próxima encarnação após sua morte, ele escolhesse sua própria encarnação. Geralmente, depois da morte do dalai-lama, autoridades budistas tibetanas, orientadas por sonhos e sinais, identificam uma criança que vai substituir o líder morto.<br /><br />Para impor seu método e estabelecer uma linha sucessória segura para os separatistas, o dalai-lama propôs então um ''referendo'' entre os budistas tibetanos sobre mudar ou não o atual processo de reencarnação de modo que ele pudesse ter influência na escolha de seu sucessor. A idéia não foi bem recebidas pelos budistas, porque contraria a lógica religiosa: como encontrar a alma de alguém em outro corpo, se você ainda não desencarnou?<br /><br /><strong>Anti-desenvolvimento</strong><br /><br />O governo central da China inaugurou em 2006 a maior ferrovia do mundo, ligando o Tibete ao resto do país. A ferrovia custou 4,1 milhões de dólares e atravessa o platô tibetano para ligar Lhasa aos centros econômicos da China.<br /><br />A ferrovia é uma ferramenta vital para a economia tibetana, a mais pobre da China, mas o dalai-lama e os separatistas consideram a estrada de ferro uma ''ameaça''. Alegam que a ferrovia trouxe ''novos ocupantes'' e é um meio de ''roubar'' as riquezas naturais do Tibete.<br /><br />Desde 1985, o Tibete é uma ''zona de turismo livre'', substituindo o '' turismo acompanhado'' que vigorava até então, a ferrovia veio apenas aumentar o desenvolvimento econômico local.<br /><br />Esta semana, Tenzin Gyatso lançou pela mídia um apelo vazio para que a ''comunidade internacional'' investigasse o que chamou de ''genocídio cultural'' no Tibete, após a violência perpetrada nas ruas de Lhasa por monges e seus seguidores.<br /><br /><strong>O ouro de Washington</strong><br /><br />De acordo com o historiador americano Jim Mann, citado pelo site Global Research, ''durante os anos 1950 e 1960, a CIA apoiou ativamente a causa tibetana com armas, treinamento militar, dinheiro, apoio aéreo e todo o tipo de auxílio''. Além de Mann, outro estudioso das ações da CIA na Ásia, Michael Parenti, fez recentemente a seguinte observação:<br /><br />''...nos Estados Unidos, a Sociedade Americana Por uma Ásia Livre, uma fachada da CIA, propagandeou ferozmente a causa da resistência tibetana, com o irmão mais novo do dalai-lama, Thubtan Norbu, tendo um papel ativo nessa organização. Outro irmão, também mais novo, do dalai-lama, Gyalo Thondup, estabeleceu uma célula de operação de ''inteligência'' com a CIA em 1951 (embora o apoio oficial da agência tenha sido estabelecido somente em 1956). Mais tarde, essa célula foi treinada e transformada em uma unidade de guerrilha da CIA, tendo seus recrutas sendo lançados por pára-quedas no Tibete''.<br /><br />De acordo com documentos abertos pela inteligência americana no fim da década de 1990, revelou-se que o movimento tibetano no exílio recebeu cerca de 1,7 milhão de dólares por ano, na década de 1960, para operações contra a China, enquanto 180 mil dólares anuais eram pagos regiamente ao dalai-lama.<br /><br />Em 1969, entretanto, o apoio secreto pela causa tibetana foi interpretado pela CIA como infrutífero, e a agência de espionagem decidiu retirar a ajuda aos ''revolucionários'' tibetanos.<br /><br />No entanto, a ajuda monetária anual ao ''pacifista'' dalai-lama perdurou até 1974, quando Nixon normalizou as relações com a China. O presidente que lhe sucedeu, Gerald Ford, encerrou o envolvimento da administração americana com os exilados tibetanos, em um novo contexto da estratégia americana para a Guerra Fria.<br /><br />A fase seguinte do relacionamento entre Estados Unidos e o dalai-lama e os seus apoiadores foi direcionar a opinião pública mundial a considerar o Tibete como uma questão de direitos humanos, em um engajamento político contra a China.<br /><br />Em 1979 a relação entre regime americano e dalai-lama sofre uma nova modificação, com o ''pacifista'' obtendo um visto de entrada nos EUA sob a administração Carter. A ''causa tibetana'' encontra então novos patrocinadores, com representantes do congresso americano trabalhando em conjunto com os separatistas tibetanos para enfocar a atenção dos governos seguintes e do resto do mundo na ''questão tibetana''.<br /><br />Nos dias de hoje, a ajuda financeira e política aos exilados tibetanos parte de um poderoso braço da CIA, a National Endowment for Democracy, organismo criado a partir de 1984, sob a administração Reagan, e que patrocina e subsidia movimentos pró-americanos ao redor do planeta, como os que recentemente derrubaram os governos da ex-Iugoslávia em 2002, Geórgia em 2004 e Ucrânia em 2005.<br /><br />O trabalho da NED, desde a década de 1990, é propalar os discursos e ações ''pacifistas'' do dalai-lama ao redor do planeta.<br /><br />Original publicado em <a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp">http://www.vermelho.org.br/base.asp</a>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-78323861972595223042008-03-26T17:23:00.000-07:002008-03-30T15:17:41.231-07:00História, interesses e verdades sobre o tibetpor Elias Jabbour*<br /><br /><strong>A “mão invisível do mercado” ou algum “hedge fund” teria condições de alçar o progresso social e material de uma localidade como o Tibet, longe da soberania chinesa? Algum monge profeta de uma futura “independência do Tibet” ou qualquer intelectual orgânico do status quo reinante ou algum (a) jornalista brasileiro correspondente na China aceitariam enfrentar este debate? Alguma consideração fora das palavras de ordem ditadas em algum “instituto de estudos chineses” ou em redações dos jornalões do imperialismo, ambos localizados no centro do sistema?<br />Como geógrafo e pesquisador ocupado há quase 15 anos com a temática chinesa, já tive acesso a diversos mapas da China produzidos na Europa ou nos EUA antes de 1949. Em todos eles o Tibet é contemplado como parte da China. O que será que ocorreu de 60 anos para cá? Muita coisa mudou, interesses estão em jogo, inclusive a China não é o mesmo país da década de 1940. Muito pelo contrário.</strong><br /><strong><br /></strong><span style="color:#cc0000;">Questões que devem ser respondidas<br /></span><br />Antes de qualquer coisa, acredito ser interessante a resposta a algumas perguntas políticas, pois a descaracterização do Tibet como parte inalienável do território só pode guardar conotação política: você advogaria em favor da legalização de uma sanguinária “teocracia escravista” aliada ao imperialismo que ao bem do povo Tibetano foi desmantelada e desarmada em 1951 com a retomada da soberania chinesa sobre o Tibet? O mais ferrenho anticomunismo justifica tal defesa? Ou tal defesa só é justificável, justamente por uma postura de classe reacionária e na contramão da ampliação dos mínimos direitos humanos, a começar pelo direito à vida? Resumindo, a quem interessa a divisão de países como a Iugoslávia, a ex-URSS e da China?<br /><br />Vamos nos render às imagens de monges revoltados alimentados ideologicamente por um multimilionário financiado pela CIA (Dalai Lama: alguém já procurou saber quem financia os milhares de exemplares de suas receitas espalhadas por livrarias do mundo inteiro?) ou nos deteremos à verdade historicamente construída e concebida, para quem o Tibet é parte da China há mais de sete séculos? Trata-se de um conflito entre um povo nacionalmente oprimido ou entre duas coalizações sociais e entre interesses internacionais distintos? Ou é legítimo o projeto de Dalai Lama de construção de um “Grande Tibet” incluindo territórios hoje pertencentes a China, a Índia e ao Nepal? (1)<br /><br /><span style="color:#cc0000;">Bom, a bem da sensatez e da verdade histórica, refletir sobre tais questões.<br />Oposição histórica ao governo central</span><br /><br />Confesso que não fui assaltado por grandes surpresas ante os acontecimentos da semana passada em Lhasa, capital do Tibet. Grande parte dos monges residentes no Tibet nada tem de contrário à soberania chinesa sobre a região. Outra parte, mais radicalizada e afeita à liderança de Dalai Lama sempre esteve disposta a enfrentar o governo chinês. Estiveram à frente da grande revolta que se degenerou em grandes conflitos entre os anos de 1959 (ano em que Dalai Lama exilou-se na Índia) e 1961, inclusive com a participação de guerrilheiros Tibetanos treinados no estado norte-americano do Colorado e lançados de pára-quedas em território chinês, juntamente com armas e aparelhos de retransmissão (2).<br /><br />Naquele momento, as revoltas contra o governo central iniciaram-se em 1956, quando o governo, após reorganizar o mapa do país e transformar o Tibet e outras regiões de minorias étnicas em “regiões autônomas”, partiu para a radicalização de reformas como a agrária e do direito; reformas encetadas justamente contra as bases econômica e política da então classe dominante Tibetana (3). Aliás, os atuais distúrbios têm como objetivo lembrar o início das revoltas de monges Tibetanos contra as reformas democráticas, em 1959.<br /><br />Abrindo parêntese, Duarte Pereira nos alerta quem em 1956, o atual Dalai Lama – ao discorrer acerca da concentração de renda na região – em sua autobiografia chama atenção ao fato de que no Tibet, o governo local detinha e administrava diretamente 38,9% das terras da região, os mosteiros 36,8%, os aristocratas leigos, 24% e os camponeses 0,3% restantes (4). Foi contra esse estado de concentração econômica e política que as reformas democráticas encampadas pelo governo central, na segunda metade da década de 1950, se dirigiam; com a oposição das mesmas camadas sociais que foram às ruas de Lhasa na semana passada.<br /><br /><span style="color:#cc0000;">Dalai Lama condecorado por Bush<br /></span><br />Retornando, exemplo semelhante reside nos acontecimentos de abril de 1989 também em Lhasa – e alguns meses antes dos lamentáveis ocorridos em Tiananmen –, quando o atual residente chinês, Hu Jintao, então governador da região autônoma, impôs a lei marcial como resposta ao levante. Em 1989, mesmo defendendo o direito da Índia de dispor de bombas nucleares, ironicamente, Dalai Lama, foi condecorado com o Prêmio Nobel da Paz. Além de uma ofensa a qualquer mente pensante deste mundo, tratou-se de uma verdadeira condecoração política circundada pela débâcle do sistema socialista europeu e soviético.<br /><br />Assim sendo, sem medo de ser superficial ou leviano, os interesses saídos do porão por parte dos monges rebeldes da semana passada em nada difere dos interesses defendidos por eles mesmos em meio a distúrbios provocados na posteridade imediata da reocupação chinesa sobre a região no início da década de 1950. Existem, portanto, dois grandes interesses internos ao Tibet em jogo que se entrelaçam por uma questão de maior envergadura residente na luta do imperialismo contra a unidade nacional da última política fronteira a ser aberta pós-1990. Não é nenhuma fantasia as elucubrações da extrema-direita norte-americana da necessidade de se levar adiante a fragmentação da China em sete países. Além disso, é intolerável a existência de um partido comunista no poder num país com a importância e crescente influência da China. Eis o “x” da questão.<br /><br />Neste sentido é muito significativo o fato de George Bush, em setembro de 2007, ter sido o primeiro presidente norte-americano na atribuição de suas funções a receber Dalai Lama na Casa Branca. Não somente isso, em seguida o acompanhou e entrou de mãos dadas com o mesmo no Congresso para a entrega – ao Dalai Lama – da Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos, maior honraria civil do país. Diga-se de passagem, maior honraria civil outorgada ao herdeiro de uma das formas mais brutais e cruéis de governo da história da humanidade. Sob este prisma, interessante é a lembrança feita por Domenico Losurdo (em “Fuga da história?”) de opinião emitida nada mais, nada menos que no “Livro Negro do Comunismo”, para quem em sua página de número 509 pode ser encontrada a seguinte observação: “uma elementar análise histórica é suficiente para destruir o mito unânime alimentado pelos partidários do Dalai Lama”. Pelo andar da carruagem, atualmente, não existe nenhum interesse nesta desconstrução.<br /><br />Voltando, dois elementos devem vir à tona hoje: 1) O Tibet é a região chinesa com índices de desenvolvimento humano e econômico com maior expansão nos últimos cinco anos e acompanhado por um aumento substancial na influência local tibetana sob os assuntos da região e 2) Existe um esgarçamento imperialista internacional sobre os dois principais elos-débeis do sistema, a América Latina (vide Plano Colômbia e a ofensiva contra a política de integração sul-americana) e a própria Ásia (recente aliança militar EUA-Japão, retomada de vendas de armas a Taiwan, mobilização de intelectuais europeus e norte-americanos pelo boicote aos jogos olímpicos de Pequim etc.).<br /><br /><span style="color:#cc0000;">Soberania historicamente irrefutável<br /></span><br />A unidade e a formação territorial chinesa, fruto dos intercâmbios econômicos, políticos e culturais entre a etnia majoritária han e as demais nacionalidades que hoje compõem a plêiade d o conjunto da nação chinesa. A China nunca tivera uma vocação expansionista, sendo que a absorção de territórios e culturas foi um processo marcado por três características: 1) longo tempo histórico entre o contato inicial entre diferentes povos (han com mongóis, Tibetanos, uigures) e a incorporação territorial em si, 2) as mediações e processos que possibilitaram a incorporação de novos povos ao Império Chinês sempre fora marcadas por tratados comerciais e de proteção militar e 3) a anexação de novos territórios somente ocorreu em momentos em que a China fora governada por dinastias estrangeiras (mongol e manchu).<br /><br />O reino tibetano do Tubo foi formado no século 7 d. C., momento aquele em que dois descendentes e soberanos casaram-se com princesas Han, firmaram acordos de variados tipos com o Império Chinês e aceleraram o intercâmbio cultural e econômico entre as duas nacionalidades (5). Prova disso são os telhados das construções existentes no Palácio de Verão em Pequim, onde o tom amarelo dos telhados lembram os dos mosteiros visitados com freqüência por representantes do Império Chinês ao Tibet. Passaram-se cerca de seis séculos entre a formação do reino do Tubo e a incorporação do Tibet ao território chinês pela dinastia mongol (yuan); revoltas de fanáticos religiosos como as de hoje levaram a morte o rei do Tubo no século 9 d. C., fora seguida por quase 400 anos de guerras entre mosteiros e principados.<br /><br />Anotações de Marco Pólo datados da época de sua visita à corte de Kublai Khan (imperador mongol da China) dão conta do Tibet ser uma das 12 províncias que formavam o Império Chinês. Uma série de outras evidências históricas poderiam ser citadas para demonstrar a legitimidade da soberania chinesa na região. O espaço não permite tanto, mas permite lembrar que desde o século 13 nenhum país reconhece o Tibet como território separado da China, assim como desde o século 18 as nomeações de autoridades regionais com status religioso e político (por exemplo, o Dalai Lama e o Panchen Lama) deveriam ser subscritos pelo governo central. Aliás, o próprio entrelaçamento entre poder religioso e público surgiu no Tibet, ainda no século 13, numa arrumação institucional que pudesse contemplar os interesses regionais (muito relacionados à religião) com os ligados ao Império como um todo, é produto da soberania chinesa (6).<br /><br />Nada disso interessa ao status quo internacional atual; o pensamento liberal é essencialmente a-histórico.<br /><br /><span style="color:#cc0000;">Império britânico e da discórdia</span><br /><br />O início do declínio da soberania chinesa sobre o Tibet é concomitante com a perda de sua própria autonomia a partir das Guerras do Ópio ocorridas entre 1839 e 1842 contra a Inglaterra, que naquela época era a porta-voz dos traficantes internacionais de drogas e que fora a guerra pela manutenção das rotas marítimas e terrestres da droga manufaturada na Índia. A China, a partir de então, fora reduzida a uma semi-colônia agredida e dilacerada por potências que hoje, ironicamente, advogam o respeito aos “direitos humanos” e à “independência” do Tibet. Essa observação também não interessa ao status quo internacional atual. Para quê?<br /><br />O enfraquecimento nacional chinês levou, por exemplo, a Rússia czarista a ocupar a porção norte da Mongólia e formar a chamada “Mongólia Exterior”, que posteriormente na década de 1920, após um golpe bolchevique planejado por Lênin, passou a se chamar República Popular da Mongólia; o Japão veio a ocupar o nordeste do país (Manchúria), estabelecimento uma monarquia títere (Qing) posteriormente derrubada pelo movimento republicano de 1911. A própria Inglaterra investia sobre o território chinês tanto pelo litoral sul, quanto pela via de suas então colônias Índia, Nepal e Butão, em direção ao Tibet. Tentativas de invasões ocorreram nos anos de 1888 e 1903, seguidas pelo Tratado de Lhasa, onde os chineses, além de reparações milionárias, tiveram de garantir acesso a rotas comerciais, via Índia, à Inglaterra, além de permitir o estacionamento de tropas inglesas, instalação de postos de correios e telegráficos e a autorização (para a Inglaterra) de manejar as relações exteriores do Tibet (7). O que significa dizer, perda quase completa de soberania sobre a região em prol dos interesses comerciais e políticos ingleses no sul da Ásia. Uma forma de reduzir o Tibet ao status antes proferido à Índia, logo a semente da discórdia em prol de uma independência da região fora lançada, com alcance estratégico sentida ate os dias de hoje. Melhor, nos próprios acontecimentos da última semana.<br /><br />A semente da discórdia plantada pela presença britânica no Tibet pode ser sentida no ódio reservado pelos monges aos estabelecimentos comerciais de chineses da etnia majoritária han. Analogia histórica deve ser feita ao ódio religioso entre hindus e muçulmanos na Índia que transbordou na formação de três países separados (Índia, Paquistão e Bangladesh) após a retirada inglesa na década de 1940. Em ambos os casos, han e tibetanos no Tibet e hindus muçulmanos na Índia, as diferenças viveram com concórdia durante os séculos que antecederam a ocupação real britânica. O império britânico foi um grande fator de desestabilização regional, sentida com dor, sangue e lágrimas até os dias recentes.<br /><br />Volto a repetir: Nada disso interessa ao status quo internacional atual; o pensamento liberal é essencialmente a-histórico.<br /><br /><span style="color:#cc0000;">Pedra no tabuleiro dos interesses norte-americanos</span><br /><br />Enfraquecer o já extenuado exército comunista com a intenção de acelerar uma mudança de governo em Pequim, este era o claro objetivo da inteligência norte-americana com o aumento de sua intervenção política no Tibet após 1947, momento aquele em que já era clara a vitória do PCCh sobre o Kuomintang na guerra civil. Neste contexto é significativo o envio, por Mao Tsetung, de um de seus chefes militares mais experimentados (um tal de Deng Xiaoping) ao sudoeste do país com a intenção de – rapidamente – apoderar-se militarmente do “teto do mundo”.<br /><br />O Tibet aos olhos do imperialismo tem uma importância que evoluiu com o tempo: durante a Guerra Fria, sua independência poderia servir de bastião obscurantista em um continente onde as lutas entre socialismo e capitalismo ocorreram de forma mais sangrenta e, quase, sempre com epílogo em favor dos comunistas. Atualmente, poderia servir, além de base de missões e de bases militares, como um “Estado tampão”, entre os dois gigantes desenvolvimentistas asiáticos, a Índia e a China. Daí a corda dada (bilhões de US$) ao projeto de Dalai Lama de constituição de um “Grande Tibet”, como já citado, incluindo territórios hoje pertencentes a China, a Índia e ao Nepal e a um custo político cujos cálculos mereceriam ser feitos. Não se trata de vasão à teorias conspiratórias ou coisa do tipo. A realidade está aí a nos estatelar com os exemplos de Kosovo e da região da “meia-lua” boliviana, dois lugares onde a inteligência e diplomacia norte-americanas trabalham de forma incessante. Que me provem o contrário.<br /><br />Neste sentido, Domenico Losurdo nos faz saber de um intrigante comunicado enviado ao então presidente dos EUA, Truman no ano de 1947 pelo então encarregado dos negócios dos EUA em Nova Délhi, George Merrel, para quem chama a atenção acerca da “inestimável importância estratégica” da região – teto do mundo: “(...) o Tibet pode, portanto, ser considerado um bastião contra a expansão do comunismo na Ásia ou ao menos como uma ilha de conservadorismo em um mar de desordens políticas. (...) o platô tibetano (...) em época de guerra de mísseis pode revelar-se o território mais importante de toda a Ásia” (8).<br /><br />Aprendemos em filosofia marxista que o todo é reflexo do concreto, que por sua vez pode ser dividido em partes. Mais, na parte em sua essência o todo pode ser perfeitamente observado. Assim, para quem trabalha munido da verdade demonstrada pela história, deve antes de tudo, refletir em primeiro lugar se o imperialismo demoveu-se de seus interesses estratégicos na Ásia, do qual o Tibet é parte (vejamos o tratamento dispensado recentemente por Bush e o Congresso dos EUA a Dalai Lama) e em segundo lugar, se da mesma forma como no final da década de 1950 os ocorridos recentemente em Lhasa não são casáveis com os interesses norte-americanos na região, que envolve a contenção da China pela rota da ocupação do Afeganistão e o Iraque. Impossível melhor localização geográfica que o Tibet para produzir transtornos ao governo popular de Pequim. E dentro da China.<br /><br /><span style="color:#cc0000;">Cultura e avanços sociais<br /></span><br />Muita gente honesta, de esquerda inclusive, poderá aludir a bandeira da presença no Tibet de uma questão nacional, centrada na necessidade da preservação cultural e da identidade nacional tibetana que poderá incluir o direito ao Tibet de gozar de independência. Em primeiro lugar em resposta a este tipo de questão que poderá ser aludida nalgum momento, os defensores da soberania chinesa sobre aquela região deverá reconhecer que inúmeros abusos foram cometidos contra as características culturais tibetanas – principalmente em afronta a seus traços mais obscurantistas – durante a Revolução Cultural (1966-1976). Mas é bom salientar que quem esteve a frente das turbas juvenis durante esta horrível página da história da república popular eram guardas vermelhos de nacionalidade tibetana.<br /><br />Não resiste a prova empírica a “denúncia” feita por Dalai Lama no último domingo (15/03) acerca de um genocídio cultural no Tibet. A bem da verdade toda uma política afirmativa pró-tibetana está em curso na região desde 1990, momento este em que se instituiu a obrigatoriedade de o governador (que era da etnia han até 1990), ser de nacionalidade tibetana, 70% dos funcionários públicos idem, o bilingüismo foi recentemente introduzido com clara preferência a língua tibetana e estimulado e a construção da primeira linha ferroviária ligando o Tibet ao resto do país trouxe novo fôlego econômico à região. Segundo Duarte Pereira, “Hoje quem visita o Tibet, pode ver por toda a parte os estandartes com sutras e os nichos com imagens sagradas. Existem 46 mil monges e freiras, cerca de 2% da população, e aproximadamente 1 mil e 700 mosteiros religiosos foram recuperados. A tradição secular dos festivais religiosos foi retomada e um grande movimento editorial vem publicando as escrituras sagradas e a literatura religiosa do budismo, em alguns casos pela primeira vez. A célebre epopéia tibetana do rei Gásar foi recolhida da tradição oral e está sendo publicada pela primeira vez em vários idiomas” (9).<br /><br />Um longo ensaio poderia ser feito para descrever os avanços sociais obtidos no Tibet nos últimos 50 anos, pronto para escancarar as diferenças entre uma teocracia escravista apoiada pelos imperialismos britânico e norte-americano em contraponto à democracia popular posta em prática na região: seus analfabetos deixaram de ocupar 90% de sua população para menos de 20% em 2005; não existiam escolas públicas de primeiro ou segundo grau em 1950, hoje existem mais de 3.000; não existiam universidades, hoje conta com uma universidade e três grandes centros de pesquisas; não existiam direitos às mulheres, hoje elas ocupam cerca de 20% do funcionalismo publico e 28% das vagas oferecidas na universidade. A população tibetana dobrou no período entre 1950 e 1990, fruto – também – de um aumento da expectativa de vida que variou de 35 anos em 1950 para 65 anos em 1990 (10).<br /><br />Repito mais uma vez: Nada disso interessa ao status quo internacional atual; o pensamento liberal é essencialmente a-histórico.<br /><br /><span style="color:#cc0000;">Progresso x retorno à Idade da Pedra<br /></span><br />Não precisa ser nenhum militante comunista ou nutrir alguma simpatia pela China para perceber que longe da soberania chinesa, nenhum avanço econômico, social e político seria possível num país com as características sociais e geográficas como o Tibet. O caso da Índia é muito instigante: nem um crescimento robusto nos últimos 20 anos tem sido capaz de mudar a situação de milhões de parias sociais e nem garantir que quase 50% de sua população deixe de inflar os dados sobre analfabetismo no país.<br /><br />A questão reside no fato de que a “lei do desenvolvimento desigual e combinado” teria o efeito de uma bomba, se o Tibet se tornasse um país independente. O Tibet é um país cuja maioria de sua população ainda vive de atividades primárias e na linha da sobrevivência. Citada lei (do desenvolvimento desigual e combinado) só pode ter proscrição nos quadros de um planejamento nacional e transferências centro x periferia no interior do país, como na URSS dos primeiros planos qüinqüenais e a China de hoje.<br /><br />A independência da região não garantiria a drenagem de bilhões de US$ em obras infra-estruturais hoje proveniente do governo central, afora outro montante de investimentos em variegados setores como o da geração de energia eólica e o turismo. Seguramente, a independência do Tibet seria a senha ao retorno da região à Idade da Pedra, como ocorreu em diversas localidades da extinta URSS, África e América Central pós-Consenso de Washington (década de 1990).<br /><br />Continuidade do progresso e afirmação nacional decorrentes de tal ou um retorno à Idade da Pedra afiançado pelo imperialismo, eis o dilema tibetano.<br /><br />Finalizando, a “mão invisível do mercado” ou algum “hedge fund” teria condições de alçar o progresso social e material de uma localidade como o Tibet, longe da soberania chinesa? Algum monge profeta de uma futura “independência do Tibet” ou qualquer intelectual orgânico do status quo reinante ou algum (a) jornalista brasileiro correspondente na China aceitariam enfrentar este debate? Alguma consideração fora das palavras de ordem ditadas em algum “instituto de estudos chineses” ou em redações dos jornalões do imperialismo, ambos localizados no centro do sistema?<br /><br /><em><span style="font-size:85%;">Notas:<br /><br />(1) Sobre este projeto do “Grande Tibet”, ler: GOLDSTEIN, Melvin: “The Dalai Lama`s Dilenma”. In, Foreign Affairs. January/February, 1998. pp. 83-97.<br />(2) LOSURDO. D. “Fuga da História?”. Editora Revan, 2004, p. 171. Losurdo baseia-se em dados contidos em: KNAUSS, John Kennedy: “Orphan of the Cold War. America and Tibet Struggle for Survival”. Political Affairs. New York, 1999. A fonte é insuspeita, pois Knauss foi agente da CIA com grande folha de serviços prestados na Ásia.<br />(3) GYAINCAIN. N. & JIAWEI, W.: “The Historical Status of China’s Tibet”. China Intercontinental Press. Beijing, 1995.<br />(4) PEREIRA, Duarte: “A polêmica sobre o Tibete”. In, LIMA, Haroldo (org.): “China: 50 anos de República Popular”, Anita Garibaldi, 1999, p. 105.<br />(5) Idem, p. 100.<br />(6) Ibidem, p. 101.<br />(7) GYAINCAIN. N. & JIAWEI, W.: “The Historical Status of China’s Tibet”. China Intercontinental Press. Beijing, 1995, p. 112.<br />(8) LOSURDO. D. “Fuga da História?”. Editora Revan, 2004, p. 170.<br />(9) PEREIRA, Duarte: “A polêmica sobre o Tibete”. In, LIMA, Haroldo (org.): “China: 50 anos de República Popular”, Anita Garibaldi, 1999, p. 108.<br />(10) Idem, p. 108 e Tibet Statistical Yearbook para todos os anos.<br /></span></em><br /><span style="color:#33cc00;">*Elias Jabbour, é Doutorando e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP, membro do Conselho Editorial da Revista Princípios e autor de ''China: infra-estruturas e crescimento econômico'' 256 pág. (Anita Garibaldi).</span><br /><span style="color:#33cc00;"></span><br /><span style="font-size:85%;color:#000000;"><em><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=34399">retirado do Vermelho</a></em></span>Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7694217044293664600.post-790374592113524782008-03-24T12:47:00.000-07:002008-03-30T15:17:59.079-07:00Confira os mitos e os factos concretos sobre o Tibete19 DE MARÇO DE 2008<br /><br />O jornalista francês Hubert Beuve-Mery, fundador do Le Monde, costumava insistir que ''a missão do jornalista é saber e dizer o máximo possível". Ainda há jornais e jornalistas que seguem esse preceito. Mas cresce o número dos que substituem qualquer esforço investigador pela reprodução acomodada de versões unilaterais e distorcidas dos acontecimentos.<br /><br />Por Duarte Pereira, para a revista <strong><em>Princípios<br /></em></strong><br /><br />A controvérsia sobre o Tibete é um bom exemplo. Livros, reportagens e documentários repetem, monocordicamente, os relatos e as acusações difundidas pelos separatistas tibetanos. Não entrevistam as autoridades actuais da região, nem os monges patriotas que apoiam a unidade da China. Não recorrem às informações e aos documentos oferecidos pelo governo central do país. Não consultam especialistas independentes. Se o fizessem, seria obrigados a reconhecer que a história da China, do Tibete e de suas relações mútuas é muito diferente da propagada pelos separatistas.<br />A polémica envolve três questões básicas. Primeira: o Tibete é um país independente, invadido e ocupado pelos comunistas, à frente do Exército Popular, ou faz parte da China há 700 anos, tendo os comunistas apenas cumprido o dever de libertar e reunificar o conjunto do país?<br />Segunda: antes de 1950, o Tibete era uma terra pacífica e feliz, governada por monges sábios e desprendidos como a mítica Shangri-la do novelista britânico James Hilton, ou penava sob um regime teocrático-feudal, atrasado e cruel?<br />Por último, o que é melhor para as nacionalidades chinesas e para os povos do mundo nas vésperas do século 21: a divisão e o dilaceramento da China, ou a preservação de sua unidade estatal e o progresso conjunto de suas nacionalidades?<br />O teto do mundo<br />A República Popular da China é um país enorme, formado por 23 províncias, cinco regiões autónomas, uma região especial, Hong Kong, e três municipalidades subordinadas directamente ao governo central. O Tibete é uma das regiões autónomas. Cobre uma superfície de 1 milhão e 200 mil quilómetros quadrados, aproximadamente a oitava parte do território chinês, e abrange a capital, Lhasa, seis prefeituras e 76 distritos.<br />Localizado no sudoeste da China, o Tibete limita-se ao norte com a Região Autónoma de Xinjiang, ao nordeste com a província de Qinghai, ao leste com a de Sichuan, ao sudeste com a de Yunnan, e ao sul e ao oeste com os seguintes países, no sentido horário: Myanma ( antiga Birmânia), Butão, Sikkim ( principado de origem tibetana, anexado pela Índia em 1974), Nepal e Índia.<br />O Tibete ocupa a maior parte do planalto que leva seu nome, o mais alto de Terra, com uma elevação média de 4 mil metros. É, por isso, apelidado de Teto do Mundo. É praticamente cercado por cordilheiras: ao norte, a de Kunlun; ao leste, a de Tangula; ao sul e ao oeste, a do Himalaia. Nesta última, na fronteira entre o Tibete, na China, e o Nepal, ergue-se a montanha mais alta do planeta, com 8.848 metros, a Qomolangma Feng, ou ''mãe sagrada das águas, conhecida no Ocidente como monte Everest. No único intervalo entre as cordilheiras, no limite com a província de Sichuan, o Tibete é separado pelo rio Jinsha.<br />Aliás, os rios mais importantes da Ásia nascem no planalto tibetano: para o leste, os rios Amarelo ( Huang-ho) e Azul ( Yangtze Kiang), os principais da China; para o sul, o Mekong, que desemboca na costa do Vietnã, e o Yarlung Zangbo, que passa a chamar-se Brahmaputra na Índia e desagua no golfo de Bengala; para o oeste, o Indo e o Ganges, os principais da Índia.<br />É uma região rica em recursos naturais. Conta com enorme variedade de aves e animais e com mais de 5.700 espécies vegetais, inclusive plantas medicinais de grande renome, base da medicina tibetana tradicional. Já foram localizadas jazidas de 70 tipos de minerais e os recursos geotérmicos são abundantes, chegando a temperatura da água em alguns poços a 92 graus C.<br />Por sua diversidade, o Tibete pode ser dividido em três zonas naturais. A parte norte, onde se concentra a criação extensiva de iaques e ovelhas, tem altitude média de 4.500 metros, clima frio e seco, extensas pradarias e numerosos lagos, como o famoso Nam Co, o segundo maior lago salgado da China.<br />A área oriental é constituída por uma série de montanhas elevadas e vales profundos, com a altitude variando entre 2 mil e 6 mil metros. É a zona mais inóspita. A neve perpétua nos cumes de suas montanhas é responsável pelo outro apelido, atribuído ao Tibete, de Terra das Neves.<br />Nos vales do sul, cortados pelos rios Yarlung Zangbo e afluentes, a altitude média é inferior a 4 mil metros, o clima é temperado, a precipitação pluvial é copiosa e a vegetação arbórea, exuberante. Nessa área é que se concentram a população e as actividades agrícolas. É, por isso, conhecida como o celeiro do planalto.<br />Apesar da altitude, do ar rarefeito e do clima severo, o planalto tibetano começou a ser povoado no período neolítico. Por essa época, uma população já considerável se espalhava nas planícies centrais da China, entre os rios Amarelo e Yangtze.<br />China, um país milenar e multinacional<br />Para deslindar a controvérsia sobre o Tibete, é preciso entender a formação histórica da China. Trata-se de um país milenar, o único com aproximadamente 4 mil anos de história contínua, e também multinacional, integrado por 56 nacionalidades.<br />A China não é, portanto, uma construção exclusiva da nacionalidade han, a maioritária. É um produto histórico da luta e do trabalho conjunto de todas as nacionalidades que a integram. Com uma trajectória tão longa, a China não podia escapar aos conflitos entre suas dinastias, nacionalidades e classes. Por mais de uma vez, foi unificada, dividida e reunificada.<br />Se a convergência prevaleceu e se as nacionalidades chinesas estreitaram seus vínculos ao longo dos séculos, é porque perceberam, diante das ameaças exteriores, que só garantiriam sua independência comum e o desenvolvimento de suas economias e de suas culturas se aprofundassem as relações de unidade e cooperação.<br />Os vínculos entre as nacionalidades han e tibetana, por exemplo, remontam a tempos muito antigos. Uma prova indelével se encontra no idioma das duas nacionalidades: pertencem à mesma família linguística, significativamente classificada como sino-tibetana. O próprio budismo, que iria marcar tão profundamente a cultura tibetana, foi introduzido na região pelo norte da Índia e pelo Nepal, mas também pela Mongólia e pela China central.<br />No século 7, quando as tribos do planalto tibetano formaram seu primeiro Estado unificado, o reino de Tubo, dois de seus soberanos casaram-se com princesas de origem han, firmaram uma aliança política com a dinastia Tang, das planícies centrais da China, e intensificaram o intercâmbio económico e cultural entre as duas nacionalidades.<br />O reino de Tubo desapareceu em meados do século 9, quando o rei Langdama foi assassinado por fanáticos religiosos. Durante 400 anos, o planalto tibetano foi sacudido por separatismos e por guerras, com principados e mosteiros lutando entre si. Por coincidência, na mesma época, as planícies centrais e o sul da China eram conflagrados por disputas dinásticas intermináveis.<br />Ainda assim, o intercâmbio entre as duas nacionalidades não se interrompeu, desenvolvendo-se inclusive uma nova modalidade de comércio, a troca de chá chinês por cavalos tibetanos. E quando, no século 13, o mongol Kublai Khan reunificou a China e fundou a nova e poderosa dinastia Yuan, o Tibete foi incorporado ao Império do Meio como uma de suas províncias. O italiano Marco Polo, que visitou a corte de Kublai Khan e registrou as observações de sua viagem, descreve o Tibete como uma das 12 províncias do império.<br />O Tibete, parte da China<br />Desde então, há 700 anos, o Tibete faz parte da China. Assim permaneceu nas dinastias Ming e Qing, que se seguiram. Quando a República foi proclamada, seu primeiro presidente Sun Yat-sen, declarou no discurso de posse em primeiro de Janeiro de 1912: ''O fundamento desta República baseia-se no povo, que integra todas as zonas hans, manchus, mongóis, huis e tibetanas num único Estado. A República Popular, proclamada em 1949, estendeu o reconhecimento às demais nacionalidades.<br />A subordinação do Tibete aos sucessivos governos da China, desde o século 13, evidencia-se na presença de representantes do poder central em Lhasa; na nomeação e julgamento de funcionários locais; no envio de tropas para defender as fronteiras e manter a ordem interna; na condução centralizada das relações exteriores; na imposição de leis, decretos e regulamentos; na realização de censos demográficos; na cobrança de tributos; na redefinição de órgãos e divisões administrativas internas. É importante ressaltar também que, desde o século 13, nenhum país reconhece o Tibete como um Estado separado da China.<br />Outra prova da incorporação do Tibete à China é a participação de delegados tibetanos em órgãos executivos e legislativos do poder central, desde a dinastia Yuan. O próprio entrelaçamento entre o poder político e o poder religioso no Tibete nasceu com sua integração na China, quando Kublai Khan, para facilitar a pacificação do planalto tibetano, aliou-se com a influente seita budista de Sagya, tendo o cuidado, no entanto, de repartir cargos e títulos equitativamente entre lamas e nobres leigos.<br />Durante a dinastia Ming, cresceu a influência da seita Kargyu, ou Branca, sobrepujada durante a dinastia Qing pela seita Gelug, ou Amarela, quando os abades dos mosteiros de Drepung, em Lhasa, e de Trashilhunpo, em Xigaze, desta seita, tiveram seus títulos e atribuições de Dalai-Lama e de Panchen-Erdeni confirmados pela corte imperial.<br />Finalmente, em meados do século 18, a corte Qing determinou que o sétimo Dalai-Lama assumisse a liderança do governo local do Tibete. Porque o Dalai-Lama e o Panchen-Erdeni acumulam funções religiosas e políticas, a escolha de seus sucessores passou a depender de confirmação final pelo governo central da China. A escolha e a entronização do actual Dalai-Lama foram confirmadas pelo governo nacionalista da República da China em 1940.<br />É sabido que a China passou por fases de divisão e enfraquecimento do poder central, quando os governos locais, não só o do Tibete, adquiriam grande autonomia, muitas vezes estimulados por potências estrangeiras, interessadas em arrebatar fatias do território chinês.<br /><br />Foi assim que a Rússia czarista ocupou uma parte da Mongólia e a dividiu em Mongólia Exterior e Mongólia Interior. Ou que o Japão invadiu a Manchúria e tentou restabelecer, sob seu controle, a dinastia Manchu dos Qing, derrubada pelo movimento republicano. Da mesma forma, a Grã-Bretanha, já senhora da Índia, do Butão do Sikkim e do Nepal, combinou seus ataques ao litoral chinês com a invasão do Tibete em 1888 e 1903 e com as tentativas de impor à China o Tratado de Lhasa e a Convenção de Simla.<br />A propaganda separatista, tão estridente contra a China, silencia sobre essas agressões britânicas e os saques perpetrados pelas tropas de Sua Majestade, assim como não menciona a tentativa indiana de invocar a Convenção de Simla para arrebatar da soberania chinesa uma parcela do planalto tibetano, o que levou em 1962 a um conflito fronteiriço entre os dois países.<br />A ocupação britânica do Tibete não vingou, mas a grande potência imperialista arrancou concessões e passou a estimular, entre lamas e nobres tibetanos, um movimento pela independência, isto é, pela separação do Tibete, para colocá-lo sob controle ocidental. Após a Segunda Guerra Mundial e com a avanço da revolução popular na China, os Estados Unidos aderiram aos intentos britânicos, reforçando o movimento separatista com agentes, armas, treino, propaganda e apoio diplomático.<br />O Partido Comunista e o governo popular, instalado em Pequim em primeiro de Outubro de 1949, tinham o dever, portanto de concluir a libertação e a reunificação da China, defendendo, como no passado, as fronteiras históricas do país.<br />Ainda assim, não se pode acusá-los de agir precipitadamente. Entre Outubro de 1949 e Outubro de 1950, fizeram repetidas gestões para que o governo local negociasse as condições de libertação pacífica do Tibete. Mas o governo tibetano, dominado pela facção pró-ocidental, preferiu concentrar tropas na margem do rio Jingsha. Diante da intransigência, o governo central determinou que o exército popular transpusesse o rio e entrasse no Tibete, travando-se a batalha de Qamdo entre 6 e 24 de Outubro de 1950, a única na libertação do Tibete. Derrotadas as tropas locais, o Exército Popular interrompeu seu avanço, enquanto o governo de Pequim insistia nas negociações.<br />O confronto, no governo e na classe dominante do Tibete, entre a facção pró-ocidental e o sector favorável à negociação se aprofundou, o regente foi afastado, o décimo quarto Dalai-Lama, ainda menor de idade, assumiu a liderança e nomeou negociadores. Em contrapartida, retirou-se para Yadong, na fronteira com a Índia.<br />Alguns meses depois, em 23 de Maio de 1951, em Pequim, os delegados do governo central e local assinaram o Acordo dos 17 Artigos, que reconhecia a unidade da China e a autoridade do governo popular sobre todo o território nacional, mantendo temporariamente os governantes e as instituições do Tibete até que fosse negociada a reforma democrática pacífica da região. Em 24 de Outubro de 1951, o décimo quarto Dalai-Lama telegrafou ao presidente Mao Tsé Tung, aprovando pessoalmente o acordo, e retornou a Lhasa.<br />O Exército Popular entrou na capital tibetana em 26 de Outubro de 1951, após o regresso do Dalai-Lama e com seu consentimento. O montanhista austríaco e militante nazista Heinrich Harrer, autor de Sete anos no Tibete, geralmente muito tendencioso em seus relatos, reconhece: ''Deve-se dizer que durante essa guerra as tropas chinesas se mostraram disciplinadas e tolerantes e os tibetanos que foram capturados e depois libertados diziam que haviam sido bem tratados.''<br />Em 1954, o décimo quarto Dalai-Lama participou da primeira Assembleia Nacional Popular da China, que elaborou a Constituição da República Popular, tendo sido eleitos um dos vice-presidentes do Comité Permanente dessa Assembleia. Na ocasião, pronunciou um discurso afirmando: ''Os rumores de que o Partido Comunista da China e o governo popular central arruinariam a religião do Tibete, foram refutados. O povo tibetano tem gozado de liberdade em suas crenças religiosas.'' Em 1956, assumiu a presidência do comité provisório encarregado de organizar a região autónoma do Tibete. As relações entre os governos central e local estavam, portanto, normalizadas.<br />O levante contra a reforma democrática<br />O conflito ressurgiu quando se cogitou em promover a reforma democrática do Tibete, separando a religião do Estado, abolindo a servidão rural e a escravidão doméstica e redistribuindo a propriedade das terras e dos rebanhos, monopolizada pela aristocracia civil e pelos mosteiros. A facção pró-ocidental, aproveitando-se da insatisfação entre lamas e nobres, retomou a ofensiva. Agitando as bandeiras separatista e religiosa, e apoiada pela CIA cada vez mais desinibidamente, como hoje se reconhece, essa facção fundou uma organização política, a ''Quatro Rios e Seis Montanhas”, e uma organização militar, o ''Exército de Defesa da Religião'', e iniciou em 1956 ataques armados a funcionários e prédios públicos, a obras de infra-estrutura e até mesmo a tibetanos que apoiassem o movimento democratizador.<br />Reagindo com prudência, o governo central propôs adiar a reforma democrática, até que se chegasse a um acordo satisfatório sobre prazos e requisitos para sua implementação. Mas a facção contra-revolucionária intensificou os ataques e, aproveitando-se de um festival religioso em Lhasa, desfechou uma insurreição na capital em 10 de Março de 1959, retirou o Dalai-Lama para a Índia e generalizou os conflitos.<br />O governo central considerou, então, rompido o acordo de 1951, destituiu o governo teocrático, transferiu suas atribuições para o Comité Organizador da Região Autónoma e determinou ao Exército Popular que restabelecesse a ordem no planalto.<br />A guerra que se seguiu, entre 1959 e 1961, não se travou entre dois países, mas entre duas coligações sociais. De um lado, as forças imperialistas, interessadas na divisão da China, e a facção de lamas e nobres empenhados na preservação do regime teocrático-feudal; de outro lado, o governo popular central e os monges, nobres, servos e escravos comprometidos com a unidade nacional da China e com a reforma democrática do Tibete. Não foi uma guerra nacional, nem religiosa, mas um conflito semelhante à guerra civil que opôs, nos Estados Unidos, o norte abolicionista ao Sul escravocrata. Ninguém recusa ao governo de Washington o direito de ter recorrido às armas para salvaguardar a unidade nacional e garantir o fim da escravidão.<br />Muitos têm dificuldade para entender a natureza social do conflito, porque não prestam atenção no regime político-económico que vigorava no Tibete e nas áreas tibetanas das províncias vizinhas. Aliás, o décimo quarto Dalai-Lama e seus adeptos falam o menos possível do regime antigo.<br />O feudalismo se generalizou após o colapso do reino de Tubo, em meados do século 9; a teoria budista se consolidou em meados do século 18. Mas, ainda em 1959, os lamas da camada superior, os nobres leigos e seus agentes representavam 5% da população; os servos e os escravos correspondiam a 95%. Os primeiros, especialmente os membros das 400 famílias mais importantes, viviam no fausto; a maioria dos lavradores, pastores e serviçais sobrevivia em extrema penúria. O contraste entre ricos e pobres penetrava nos próprios mosteiros, conforme descreve uma testemunha insuspeita, o décimo quarto Dalai-Lama, em sua autobiografia.<br />Das terras agricultáveis, segundo levantamento de Junho de 1959, o governo local detinha e administrava directamente 38,9%; os mosteiros, 36,8%; os aristocratas leigos, 24%. A pequenos camponeses cabiam os 0,3% restantes. Os nobres e os mosteiros possuíam também a maior parte dos rebanhos. Para lavrar as terras e cuidar dos rebanhos, nobres, mosteiros e funcionários recorriam ao trabalho de servos.<br />Para ter acesso à terra arável e às pastagens, os servos, 90% da população, eram forçados a pagar aos nobres e mosteiros uma renda, principalmente sob a forma de corvéia ou renda em trabalho, secundariamente sob a forma de renda em produtos, e às vezes em dinheiro. Arcavam também com pesados tributos e taxas, pagos em serviços e em dinheiro. Sem recursos suficientes, endividavam-se com os nobres e, principalmente, com os mosteiros, pagando elevados juros. Se morriam sem saldar a dívida, ela passava aos descendentes ou aos vizinhos.<br />Para os escravos, 5% da população, provavelmente uma sobrevivência do passado pré-feudal, ficavam os serviços domésticos e públicos mais pesados, como a limpeza, o despejo de fezes, o transporte de carga e o transporte de nobres e funcionários, em liteiras ou nas próprias costas. Os filhos de servos e escravos não eram registrados em cartórios públicos, mas nos livros de seus senhores, a quem competia também autorizar os casamentos. Servos e escravos podiam ser trocados, doados, emprestados ou mesmo vendidos. Para os pobres, não havia hospitais, nem escolas. As guerras e epidemias dizimaram a população.<br />As leis confirmavam essa estrutura desigual, dividindo a população em três estratos e nove graus, com direitos e deveres distintos. Não havia, portanto, igualdade jurídica, nem mesmo para as mulheres do estrato dominante. Se um nobre matava um servo ou um escravo, pagava uma indemnização. Mas, para servos e escravos que agredissem um nobre ou furtassem um bem, os códigos previam penas cruéis, como espancamentos brutais, mutilação de mãos ou pés, extracção dos olhos. Até entre os monges, a disciplina era mantida à custa de chicotes e surras, como relata o Dalai-Lama em sua autobiografia. Além de uma prisão pública e precária em Lhasa, havia guardas, tribunais e cárceres privados nos mosteiros e nas grandes propriedades.<br />Os monges da camada superior e os nobres mais influentes monopolizavam os direitos políticos. O Dalai-Lama encabeçava o governo desde meados do século 18. Os demais cargos eram repartidos entre lamas e nobres leigos. A Seita Amarela, do Dalai-Lama, era privilegiada em relação às demais seitas e o budismo tibetano, em relação às demais religiões.<br />O Tibete antigo não tinha nada de idílico, portanto. É espantoso que se invoquem os ''direitos humanos'' para defender esse regime opressivo e cruel, em que a maioria da população, formada por servos e escravos, não gozava de liberdade pessoal, nem dispunha de qualquer direito político.<br />A unidade, garantia do avanço<br />Rompido o acordo de 1951 pelo décimo quarto Dalai-Lama e seus adeptos separatistas, o governo central aboliu o regime teocrático, revogou as leis e códigos desiguais, fechou os tribunais e cárceres privados, emancipou os servos e os escravos, cancelou as dívidas que os sufocavam e procedeu à redistribuição gradativa e cuidadosa das terras e dos rebanhos, indemnizando os proprietários que apoiassem a reforma democrática.<br />Restabelecida a ordem e concluída a reforma agrária, foi iniciada a implantação do sistema de assembleias e comités populares, com a eleição das assembleias distritais em 1964. Estas elegeram as assembleias municipais, que por sua vez escolheram a Assembleia Regional Popular em 1965, instituindo-se a Região Autónoma do Tibete. Dos 301 delegados à primeira assembleia, 226 eram tibetanos, a maioria servos e escravos emancipados, mas havia também monges, ex-nobres patriotas e, pela primeira vez em cargos públicos, mulheres. Desde então, a Região Autónoma do Tibete já teve quatro presidentes leigos, todos tibetanos.<br />Os erros cometidos pela chamada Revolução Cultural entre 1966 e 1976, no Tibete como em toda a China, suscitaram novos atritos, de que se aproveitaram os separatistas para promover distúrbios violentos em Lhasa, entre 1987 e 1989, numa iniciativa orquestrada com as manifestações antigovernamentais em Pequim e com a crise dos países socialistas na Europa Oriental. Mas o Partido Comunista e o governo popular da China venceram essas duras provas, preservando as conquistas revolucionárias, corrigindo os erros e restabelecendo as políticas de liberdade religiosa, de frente única com todos os sectores patrióticos e de respeito mútuo entre as nacionalidades. É claro que a China ainda é um país pobre e que o Tibete é uma de suas regiões menos desenvolvidas. É indiscutível também que ainda existe muito que aprender no aprimoramento das democracias socialistas e no desafio de conjugar a preservação das culturas tradicionais com o desenvolvimento de culturas novas e progressistas. Contudo, quem investiga com isenção, não pode deixar de reconhecer os avanços políticos, económicos e culturais obtidos com a libertação e a reforma do Tibete nas últimas décadas.<br />Essa experiência positiva, contraposta ao colapso da União Soviética e ao dilaceramento da Jugoslávia, confirma que a união, não a divisão, é que pode assegurar o desenvolvimento conjunto das nacionalidades integrantes de países como a China. Rompida a unidade, abandonado o caminho socialista, na União Soviética e na Jugoslávia, perderam-se também as conquistas democráticas, reacenderam-se as chamas de conflitos étnicos e religiosos, reabriu-se o perigo de propagação de guerras devastadoras.<br />Certo estava o nono Panchen Erdeni, o segundo lama na hierarquia do budismo tibetano, quando escreveu em 1929: ''Por suas relações históricas e geográficas, nem o Tibete pode ser independente da China, nem a China do Tibete. Assim, ambos serão beneficiados se permanecerem unidos, enquanto a separação prejudicará a ambos.''<br /><br />Bibliografia<br /><br />DALAI-LAMA, Liberdade no exílio: uma autobiografia, trad. Raul de Sá Barbosa, S. Paulo, Siciliano, 1992.<br />HEINRICH HARRER, Sete anos no Tibete, trad. Betina Becker, P. Alegre, L&PM, 1997<br />CD, Sacred Tibetan Chants, “Introduction”, from the Great Prayer Festival, by Monks of the Drepung Loseling Monastery, recorded December 30, 1991 at Clapp Recital Hall, University of Iowa, Berkeley, USA, 1992.<br />FOLHA DE S. PAULO, Nova Enciclopédia Ilustrada Folha, com o melhor das enciclopédias Larousse, Cambridge, Oxford e Webster, S. Paulo, 1996, 2 vols., vários verbetes.<br />VÁRIOS AUTORES, Grande Enciclopédia Larousse Cultural, S. Paulo, Editora Nova Cultural, 1998, 24 vols., vários verbetes.<br />GEOFREY BARRACLOUGH e GEOFREY PARKER ( editores), Atlas da História do Mundo, The Times Books & Folha de S. Paulo, 1995.<br />FOLHA DE S. 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Em Julho de 2007 estava pouco acima dos 5 dólares e no princípio de Fevereiro de 2008, atingiu o valor de 10,33 dólares.<br /><br />Este aumento tem consequências no custo de diversos produtos alimentares, nomeadamente os da indústria de panificação e a ele não será estranho uma preferência dos produtores de cereais pela produção de milho.<br /><br />No caso do milho, as razões para o aumento da sua produção e do seu preço, têm a ver com o incremento da sua procura em países como a China e a Índia e principalmente, o interesse dos produtores de biocombustiveis na sua utilização.<br /><br />O aumento do preço do milho tem como resultado directo o aumento do preço dos alimentos em cuja composição entra, o que acaba por influenciar o preço do leite e da carne, especialmente de bovino.<br /><br />Em Portugal, os últimos dados apontam para um aumento de cerca de 15% no preço do leite nos últimos meses.<br /><br />Parece que ganham fundamento os avisos daqueles que chamaram a atenção de que os biocombustiveis, não viriam resolver os problemas energéticos da humanidade, bem pelo contrário, iriam contribuir para o aumento dos preços dos alimentos, provocar a fome e contribuir para graves desastres ambientais, com a criação de grandes extensões cultivadas com produtos para a industria dos biocombustiveis.Olaiohttp://www.blogger.com/profile/01288590263484521555noreply@blogger.com0