quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Breve história da Geórgia

Entre os séculos XVI e XVIII, a Geórgia foi cenário de lutas entre o Irão e a Turquia para o domínio da Transcaucasia (actuais Geórgia, Arménia e Azerbeijão).

Em 21 de Dezembro de 1782, o Rei georgiano Irakli II pediu à Imperatriz Russa Catarina a Grande protecção estabelecendo um protectorado sobre a Geórgia.

Em Julho de 1783, Geórgia e Rússia firmaram na fortaleza de Gueorguievsk um tratado segundo a qual Irakli II reconhecia o poder da Rússia.

A 24 de Janeiro o tratado entrou em vigor. O documento teve o nome de “tratado de Gueorguievsk”.


As cláusulas fundamentais do contrato eram:
- A Rússia comprometia-se a defender a Geórgia em caso de guerra e o Rei Irakli II a manter relações de paz com o rei Solomón de Geórgia Ocidental (actual Geórgia). Em caso de litígio, o imperador russo actuaria como mediador. A Rússia comprometia-se a manter na Geórgia dois batalhões de infantaria para reforçar a defesa e em caso de guerra devia prestar ajuda adicional.

Em 1801, o imperador russo Alejandro I decretou a abolição do reino ocidental georgiano de Kartli-Kajetia e inclui a Geórgia Oriental no império russo. O reino da Geórgia Oriental foi declarado “província georgiana”.

Em 1810, o reino de Imeretia (Geórgia Ocidental) também passou a fazer parte do Império Russo.

O Império russo promove a ida de colonos russos para todas as cidades georgianos, o que explica a força que tiveram os movimentos revolucionário nesta região, com o surgimento de grupos nacionalistas, populistas e sociais-democratas marxistas. Aqui iniciou a sua carreira politica Iosif Dzhugashvili, mais conhecido pelo pseudónimo de Stalin. Os georgianos desempenharam um importante papel na revolução de 1905 que abalou o Império russo.

Após o triunfo da revolução Bolchevique, o poder na Transcaucasia ficou nas mãos dos Mencheviques. Em Abril de 1918, em Tiflis (Tbilisi), o governo unificado da Transcaucasia anunciou a sua separação da Rússia Soviética. Em 26 de Maio de 1918 a Geórgia proclamou a sua independência que Moscovo reconhece dois anos depois.

Entre 1918 e 1920 entraram na Geórgia tropas alemãs, turcas e inglesas que procuravam derrubar o regime socialista na Rússia.

Em Fevereiro de 1921, o exército vermelho ocupou o território e estabeleceu o poder soviético.
Em 25 de Fevereiro foi proclamada a Republica Socialista da Geórgia, com a Republica Autónoma da Abkasia formando parte desta. A Turquia cedeu Batumi e a parte norte da Adzharia, que foi integrada como Republica autónoma.

Em Março de 1922, Geórgia, Azerbeijão e Arménia formam a federação da Transcaucasia. Um mês depois formou-se a Região Autónoma da Ossétia do Sul, como parte da Geórgia.

Em 5 de Dezembro de 1936 dissolveu-se a Federação da Transcaucasia e a Geórgia passou a integrar as 15 Repúblicas da União Soviética

Em 1972 Eduard Shevardnadze fica à frente do Governo e do Partido comunista da Geórgia.

Em 1985 Shevardnadze é designado Ministro da relações Exteriores da URSS, no governo de Gorbachov.

Em 28 de Outubro de 1990 há eleições para o Soviete da RSS da Geórgia, tendo obtido a vitória o bloco de partidos “Geórgia Livre”. Gamsacurdia, um opositor político do regime soviético, tornou-se líder desse bloco. A RSS da Geórgia muda de nome para República da Geórgia.

A região Autónoma da Ossétia do Sul proclama-se República. O Soviete da Geórgia anula essa decisão, decreta o estado de emergência e organiza o bloqueio da região. Iniciam-se os confrontos entre a Ossétia e tropas georgianas.

Em Abril de 1991 a Geórgia declara a independência. A 27 de Maio Gamsacurdia é eleito presidente.

Depois de sucessivas manifestações, a 6 de Janeiro de 1992 soldados sob o comando de Kitovani assaltam a sede do governo e tomam o poder. No final de Janeiro falha uma tentativa para pôr fim ao conflito na Ossétia.

Em Março de 1992 Eduard Shevardnadze regressa ao país para assumir a presidência. A 28 de Junho é assinado um cessar-fogo na Ossétia do Sul, supervisionado por militares russos, georgianos e ossetinos

As autoridades da Abkasia, com capital em Sujumi, adoptam uma decisão que limita a jurisdição do governo central da Geórgia. Em 14 de Agosto as tropas governamentais entram na Abkasia e ocupam Sukhumi. As autoridades locais refugiam-se na cidade de Gudauta que se converte em foco de resistência.

No princípio de 1993 a força aérea russa bombardeia as tropas da Geórgia na Abkasia. Em 28 de Junho entra em vigor um armistício, mediado pela Rússia.

Em Novembro de 1993 partidários do ex-presidente Gamsacurdia lançam uma ampla ofensiva, mas foram derrotados graças à intervenção das tropas russas, nesse mesmo mês a Geórgia ingressa na CEI (Comunidade de Estados Independentes).

No começo de 1994 morre Gamsacurdia que segundo a versão oficial se suicidou. Em Fevereiro a Geórgia assina um tratado de amizade com a Rússia e em Abril é assinado em Moscovo um tratado de paz com os rebeldes Abkazes.

Entre 20 e 23 de Novembro de 2003 dá-se a chamada “Revolução das Rosas” que retira Shevardnaze do poder e acaba por conduzir Mikheil Saakashvili à presidência da Geórgia em 2004. A partir dessa data, o governo georgiano inicia uma linha de afastamento da Rússia e de aproximação aos EUA e à NATO, ao mesmo tempo que cresce a pressão sobre as regiões separatistas no sentido de acabar com as autonomias.

Durante o ano de 2008 registam-se confrontos esporádicos entre forças das regiões secessionistas e georgianas, acabando o exército da Geórgia por ocupar a Tskinvali, capital da Ossétia do Sul no dia 8 de Agosto, levando à intervenção do exército russo em defesa dos ossetas
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O maior pecado de Mugabe

Nas últimas Conferências da OIT, a situação do Zimbábue tem sido um dos pontos de acirrada discussão na Comissão de Normas. O Vermelho reproduz aqui os principais trechos do artigo do economista William Engdahl*, editor e colaborador do site canadense Global Research, traduzido por Maria Pimentel, da Secretaria de Relações Internacionais da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), que tem sistematicamente solidarizado com a luta deste valoroso povo africano, que com heroísmo defende sua soberania e suas riquezas.

Robert Mugabe, o Presidente do Zimbábue, preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo, a região do Great Dyke, com uma faixa geológica que atravessa todo o território do nordeste ao sudoeste. O motivo real da piedosa preocupação da Administração Bush durante estes últimos anos pela situação dos direitos humanos no Zimbábue não se deve à suposta fraude na eleição de Mugabe ou às expropriações realizadas nas fazendas dos colonos brancos. O que parece ser seu pecado tem mais a ver com suas tentativas de escapar da dependência e do servilismo neocolonial anglo-estadunidense e buscar um desenvolvimento econômico nacional independente do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Seu pecado autêntico parece ser o fato de que tem se voltado para uma nação que oferece créditos governamentais e empréstimos brandos sem condicionamentos, para o desenvolvimento econômico: a República Popular de China.

O Presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, é um homem muito, muito mau. Isso é o que todos deduzimos quando lemos os jornais ou escutamos os pronunciamentos de George W. Bush, do anterior Primeiro Ministro britânico Tony Blair e, mais recentemente, de Gordon Brown. Acusam-lhe de ser um ditador; de que expropriou, freqüentemente com violência, as fazendas dos brancos como parte de uma reforma agrária; proclamam também que forçou sua reeleição mediante o voto fraudulento e a violência, e que tem arruinado a economia do Zimbábue.

Porém, se Robert Mugabe merece estar na lista de honra de "vilões" de Washington junto com Fidel Castro, Saddam Hussein, Milosevic, Ahmadinejad e Adolfo Hitler, não é essa a razão pela qual Washington e Londres têm feito da mudança de regime no Zimbábue a prioridade número um de sua política para a África.

O legado de Cecil Rhodes

Zimbábue é o nome do que se chamou Rodésia durante a era do imperialismo britânico de um século atrás. O nome de Rodésia provinha do estrategista imperial britânico e mineiro Cecil Rhodes, fundador das bolsas Rhodes para Oxford, e autor de um plano para que a Rainha de Inglaterra exercesse seu controle privadamente sobre uma imensa zona africana que iria desde Egito à África do Sul. Cecil Rhodes criou a Companhia Britânica de Sul-áfrica, seguindo o modelo da Companhia das Índias Orientais, junto com o seu sócio, L. Starr Jameson, da Jameson Raid, de tão infausta lembrança, para explorar as riquezas minerais de Rodésia. Controlava o que se denominou depois de Rodésia do Norte (Zâmbia) e Rodésia do Sul - Nyasaland. O modelo implicava que o governo britânico assumiria todos os riscos para defender militarmente o saqueio de Rhodes, enquanto este e seus banqueiros londrinos, sobre tudo Lord Rothschild, que era um sócio muito chegado, levariam todos os lucros do negócio.

Rhodes, um experimentado geólogo, sabia bem que havia uma falha geológica notável que ia desde a desembocadura do Nilo, no Golfo de Suez, em direção ao sul a través do Sudão, Uganda, Tanzânia, do que hoje se chama Zimbábue, até chegar à África do Sul. Rhodes tinha instigado já várias guerras para conseguir o controle dos diamantes de Kimberley e o ouro de Witwatersrand na África do Sul. E havia descoberto esse fenômeno geológico na década de 1880, junto com exploradores de empresas alemãs. E o chamaram de Valle de Great Rift.

Rodésia, do mesmo jeito que a África do Sul depois das sangrentas guerras Boer, foi ocupada por colonos brancos para assegurar os futuros lucros minerais para os interesses aliados da City de Londres, principalmente os da poderosa família Oppenheimer e suas empresas de ouro e diamantes na região.

Em 1962, quando a África viveu o impulso pela libertação nacional do domínio colonial - uma onda calculadamente apoiada pela "potência não colonial" de Washington - Rodésia foi um dos últimos bastiões, junto com a antiga colônia britânica da África do Sul, de domínio do Apartheid branco. Os brancos na Rodésia constituíam só 1-2% da população total, por isso seus métodos para se manter no poder eram absolutamente desapiedados.

O Primeiro Ministro da supremacia branca, Ian Smith, preferiu declarar em 1965 a independência de Rodésia em relação à Grã Bretanha antes que chegar ao mais leve compromisso para compartilhar o poder com os nacionalistas negros. Grã Bretanha conseguiu sanções comerciais das Nações Unidas para forçar a Smith a dobrar os joelhos. Apesar das sanções, Smith teve um considerável apoio por parte dos interesses comerciais conservadores em Londres. O britânico Tony Rowland, chefe do conglomerado mineiro Lonrho, se assegurou o grosso de seus benefícios africanos das minas de cobre de Rodésia e das empresas sob o regime de Smith. A City de Londres sabia muito bem das riquezas que guardava Rodésia. A questão era como assegurar um controle duradouro. Os patrocinadores de Smith na Rodésia tinham pouco interesse em entregar tudo a Londres.

Em 1980, após uma longa e sangrenta luta, o dirigente da Coalizão da Frente Popular Africana Negra, Robert Mugabe, venceu de forma esmagadora as eleições como Primeiro Ministro de um novo Zimbábue. Vinte e oito anos depois, o mesmo Robert Mugabe está sendo cada vez mais atacado por Ocidente, especialmente pelo antigo amo colonial do Zimbábue, a Inglaterra, incluindo fortes sanções econômicas desenhadas para levar o país à beira do colapso e para obrigá-lo a abrir a economia ao investimento estrangeiro (leia-se anglo-estadunidense e aliados). Ironicamente, a questão não parece muito distinta daquela da era de Ian Smith: o controle dos recursos por parte de Londres e EUA e os esforços do Zimbábue para resistir a esse controle.

O great dyke

No Zimbábue, uma parte do rico Great Rift é o chamado Great Dyke, uma zona intrusiva** que é um tesouro geológico que se estende ao longo de 530 quilômetros desde o nordeste ao sudoeste do país, e que em alguns lugares tem até 12 quilômetros de largura. Um rio corre ao longo da falha e a região é vulcanicamente ativa. Ali jazem também imensos depósitos de cromo, cobre, platina e outros metais.

O Departamento de Estado dos EUA, assim como Londres, é consciente dos imensos minerais e outras riquezas do Zimbábue. Num recente informe sobre o país se afirma:

"O Zimbábue conta com ricos recursos minerais. As exportações de ouro, asbestos, cromo, carvão, platina, níquel e cobre poderiam levar um dia a uma recuperação econômica… O país está ricamente dotado de uma bolsa de gás metano que está ainda por esplorar.

Com atrativos internacionais como as Cataratas Vitória, as ruínas de pedra do Grande Zimbábue, o Lago Kariba, e uma imensa vida selvagem, o turismo tem sido historicamente um segmento importante da economia e tem contribuído para a entrada de divisas. Porém, o setor se contraiu de forma aguda desde 1999, devido à imagem internacional de decadência do país" (sic).

Recursos energéticos

"Com um considerável potêncial de energia hidroelétrica e abundantes depósitos de carvão para centrais de energia térmica, o Zimbábue depende menos do petróleo como fonte energética que a maioria de outros países de semelhante industrialização, mas ainda importa dos países vizinhos 40% da energia elétrica que necessita, sobre tudo de Moçambique. Só cerca de 15% do consumo energético total do Zimbábue se resolve a través do petróleo que é em sua totalidade importado – Importa cerca de 1,2 bilhões de litros de petróleo ao ano. O Zimbábue tem também importantes reservas de carvão que é utilizada para gerar energia e, os depósitos de bolsas de metano recentemente descobertos na província de Matabeleland são os maiores campos de gás até agora conhecidos no Sudeste da África. Em anos recentes, a deficiente administração econômica e as escassas reservas de divisas tem provocado sérias carências de combustível".

Em resumo, cromo, cobre, ouro, platina, um imenso potêncial de energia hidroelétrica e imensas reservas de carvão é o que está em jogo no Zimbábue para Washington e Londres. O país tem também reservas de urânio ainda não quantificadas - mineral de grande demanda, atualmente, na produção de energia nuclear.

Ultimamente ficou muito claro que enquanto o tenaz Mugabe controle as coisas, os sócios comerciais preferidos do Zimbábue não são os anglo-estadunidenses, mas os chineses. Esse parece ser o pecado maior de Mugabe. Não está seguindo o programa traçado por George W. Bush e seus amigos. Seu pecado real parece ser o de ter se voltado para o Oriente, em vez do Ocidente, em busca de ajuda econômica e para investimentos.

Durante a Guerra Fria, a China reconheceu e apoiou Robert Mugabe. Em anos recentes, ao mesmo tempo em que a busca da China por matérias primas seguras fez com que sua diplomacia se intensificasse, as relações entre ambos países foram se fortalecendo cada vez mais. Segundo os meios de comunicação chineses, a China tem investido no Zimbábue mais que em qualquer outra nação.

Retrocedendo à julho de 2005, enquanto Tony Blair apertava ainda mais as sanções contra o Zimbábue, Mugabe foi a Pequim para se reunir com os altos dirigentes chineses, onde, segundo se informou, solicitou um empréstimo de emergência pelo valor de 1 bilhão de dólares e pediu que se incrementasse a participação chinesa na economia.

Essa colaboração começou rapidamente a dar frutos. Em junho de 2006, empresas de propriedade estatal do Zimbábue assinaram uma série de acordos nos campos da energia, mineração e agricultura com empresas chinesas pelo valor de bilhões de dólares. O maior acordo foi assinado com a China Machine-Building International Corporation, com um contrato pelo valor de 1,3 bilhões de dólares em minas de carvão e geradores de energia térmica no Zimbábue, com a finalidade de reduzir as carências elétricas do país. A companhia chinesa já tem construído centrais térmicas na Nigéria e no Sudão e tem participado em projetos minerais no Gabão.

Em 2007, o governo chinês doou maquinaria agrícola ao Zimbábue pelo valor de 25 milhões de dólares, incluindo 424 tratores e 50 caminhões, como parte de um empréstimo de 58 milhões de dólares ao governo do Zimbábue. A administração de Mugabe tinha anteriormente expropriado as fazendas de propriedade branca e entregado aos negros, sendo o maquinário danificado durante o processo. Em troca do equipamento e dos empréstimos, o governo do Zimbábue enviará 30 milhões de quilogramas de tabaco para a República Popular de China.

Os acordos entre o Zimbábue e a China incluíam um entre a Zimbábue Mining Development e a China's Star Communications, para formar uma empresa mista no setor da mineração de cromo, financiada pelo Banco de Desenvolvimento da China. O Zimbábue também acertou importar equipamento agrícola, para construir estradas e para regado, da China National Construction e da Agricultural Machinery Import and Export Corporation e do China Poly Group. O Zimbábue também importa da China equipamento para tele-comunicações, hardware militar e muitos outros aspectos importantes que já não pode importar do Ocidente devido às sanções auspiciadas pelos britânicos.

Em abril de 2007, o presidente da alta instituição de assessoria política da China, Jia Qinglin, diretor do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política Popular da China, voou a Harare para se reunir com Mugabe. Seguiu-se a essa reunião a Cúpula de Cooperação China-África em Pequim em 2006, na qual o governo chinês convidou os presidentes de mais de quarenta estados africanos para discutir suas relações.

A mineração gera a metade dos recursos por exportações do Zimbábue. É o único sector do país que ainda tem investimentos estrangeiros depois do colapso do importante setor agrícola. As companhias ocidentais com concessões mineiras no Zimbábue não as estão explorando.

Em dezembro de 2007, a empresa chinesa Sinosteel Corporation, adquiriu uma participação de 67% dos Holdings Zimasco, o principal produtor e exportador de ferro-cromo do Zimbábue. Os Holdings Zimasco são o quinto maior produtor de ferro-cromo carburado do mundo e estão produzindo 210.000 toneladas de ferro-cromo com alto conteúdo em carvão por ano, quase todo ele obtido do Great Dyke, até representar 4% da produção global de ferro-cromo.

Zimasco tem também as segundas maiores reservas de cromo do mundo, depois da África do Sul. Foi anteriormente propriedade da Union Carbide Corporation, e agora é parte da Dow Chemicals Corp.

Controlar o avanço econômico da China é uma prioridade estratégica não declarada da política militar e exterior dos Estados Unidos e desde antes de 11 de Setembro de 2001. Mas a batalha pelas matérias primas está no coração da luta, e, segundo se relata, é a razão real da recente decisão de Washington de formar no Pentágono um Comando separado para África.

A China se nega a seguir as normas do jogo neocolonial anglo-estadunidense. Não busca a aprovação do FMI ou do Banco Mundial antes de negociar com os países africanos.

As riquezas minerais têm colocado uma vez mais a África no centro do cenário da batalha entre Oriente e Ocidente. Porém, nesta ocasião e à diferença da era da Guerra Fria, Pequim joga com melhores cartas e Washington vai atrás, bem de longe.

* F. William Engdahl é autor de "A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order (Pluto Press), e "Seed of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation (
www.globalresearch.ca). Pode-se entrar em contato com ele em sua página de Internet: www.engdahl.oilgeopolitics.net.

**Zona intrusiva - zona de riquezas minerais consolidadas em partes profundas.

domingo, 6 de julho de 2008

Sobre o Presidente da Colômbia, Alvaro Uribe

Parte de um documento oficial americano sobre o passado de Álvaro Uribe e de muitos outros do seu governo. O documento pode ser consultado aqui.

O sindicalismo na Colômbia

"Detenções, torturas, assassínios: 2006 foi o ano mais violento para os sindicalistas, com 144 a serem mortos devido à sua actividade. Um relatório da Confederação Internacional de Sindicatos (CSI) revela um aumento de 25% no número de assassínios em relação a 2005. Como nos estudos anteriores, a Colômbia, com 78
mortes, foi o país mais violento."Os trabalhadores que procuram melhorar a vida através de actividades sindicais confrontam-se cada vez mais com a repressão", afirmou o britânico Guy Ryder, secretário-geral da CSI, no prefácio do relatório. O documento, que analisa a situação em 168 países, aponta a Colômbia como o caso mais preocupante. "O Presidente Álvaro Uribe procura convencer o mundo de que a situação está a melhorar, mas é mentira", disse Ryder. A maioria dos 78 sindicalistas mortos naquele país da América Latina foram vítimas dos paramilitares. "

in DN de 19.9.2007

Como milhares de militantes foram liquidados na Colômbia

por Iván Cepeda Castro e Cláudia Giron Ortiz
in Le Monde Diplomatique, Maio de 2005

(texto em português do Brasil)

Vida e morte da União Patriótica

A exterminio dos membros da União Patriótica chama a atenção para uma das causas que explicam a duração e a crueldade do interminável conflito armado colombiano: uma democracia formal que camufla técnicas sofisticadas de eliminação dos opositores. Fora da Colômbia, sabe-se muito pouco sobre a repressão sistemática que golpeia os movimentos de oposição.
No âmbito de um conflito armado que já se eternizava, em 28 de março de 1984, durante o mandato do presidente Belisario Betancur, os representantes do Estado e a direção das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) assinaram os Acordos do Uribe. Estes estipulavam o compromisso do governo na promoção de reformas políticas, sociais e econômicas, condenavam os seqüestros e o terrorismo imputáveis ao grupo guerilheiro, com ambas as partes exprimindo sua vontade de pôr um fim a esse tipo de prática. Os acordos definiam ainda que, um ano após o início das negociações de paz, seria preciso fornecer as condições que permitissem ao grupo guerrilheiro "organizar-se politica, econômica e socialmente". Desse acordo nasceu, em maio de 1985, um partido político: a União Patriótica.

Fora da Colômbia, sabe-se muito pouco sobre a repressão sistemática que, tanto ontem como hoje, golpeia no país os movimentos de oposição. Uma perseguição permanente é ali exercida, abertamente ou de maneira dissimulada, por setores do poder do Estado, por meio das forças militares, de corpos de segurança ou com a cumplicidade dos grupos paramilitares.

De onde vem a violência

Há 50 anos, o Estado combina mecanismos legais e dispositivos ilegais que permitem o emprego arbitrário e excessivo da força.

Devido a estratégias de impunidade particularmente eficazes, e à imagem confusa que os meios de comunicação social oferecem do conflito colombiano, é difícil identificar quem são os autores dos atos de violência. Os grupos ilegais (guerrilhas, paramilitares)? Os narcotraficantes? Em todos os casos, o Estado parece de fora. Ora, há 50 anos, o próprio Estado combina os mecanismos legais e os dispositivos ilegais que permitem um emprego arbitrário e excessivo da força.

Assim, leis (sob pretexto de estado de exceção) permitem delegar às forças armadas funções da polícia judicial. A face escondida dessa política é constituída pelos dispositivos da "guerra suja": grupos paramilitares, atuações ilegais do exército nacional por meio de operações secretas das "brigadas de informações", ações de "guerra psicológica" etc.

Em 1985, setores que têm como objetivo comum o estudo da reconciliação nacional pelo viés de transformações estruturais da sociedade participam na criação da UP. Em sua qualidade de formação pluralista de oposição, esta emite propostas inovadoras após décadas de hegemonia liberal e conservadora no país1. O seu programa propõe uma abertura para formas de democracia mais reais e profundas, incluindo mudanças sociais que visam ultrapassar a falta de eqüidade característica da sociedade. Considera igualmente a elaboração de uma nova carta constitucional (a proposta se tornaria realidade em 1991, por meio da convocação da Assembléia Nacional Constituinte que redigiria a nova Constituição).

Política de eliminação

O método do "desaparecimento" forçado é utilizado para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros da União Patriótica.

Contudo, alguns meses após a apresentação pública do novo movimento, várias violações dos acordos conduziram ao malogro da negociação. A guerrilha concentrou-se nas suas zonas de influência e a União Patriótica manteve-se no espaço público.

Embora o Estado tenha se comprometido a favorecer sua ação política, os primeiros homicídios atingiram o movimento a partir de meados de 1985. Desde então, uma intenção criminosa se manifesta, visando destruir a UP: uma combinação de atos criminosos e de perseguição e de esfacelamento que tendem a provocar a eliminação total ou parcial do grupo opositor.

Centenas dos seus membros e simpatizantes foram assassinados em massacres2. Em 11 de novembro de 1988, por exemplo, quarenta militantes foram executados publicamente na praça central de Segóvia, departamento de Antioquia. Produzindo-se de maneira simultânea, estes homicídios coletivos prolongam-se no tempo por meio de crimes individuais que visam destruir comunidades determinadas. Famílias inteiras são perseguidas, à imagem dos Cañon-Trujillo – que, devido a sua militância, viram, desde 1986, quatro dos seus familiares assassinados. O método do "desaparecimento" forçado é utilizado igualmente para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros do movimento.

Silêncio imposto

As testemunhas são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça.

Contra os eleitos e os líderes do grupo, é empregado o método do assassinato seletivo. Dois candidatos às eleições presidenciais, Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa, foram assim eliminados, respectivamente, em 1987 e 1990. Em 1994, a UP perde o seu último membro do Parlamento, com o assassinato do senador Manuel Cepeda Vargas. Anteriormente, oito parlamentares foram vítimas de atentados mortais, quase sempre em seu domicílio. Centenas de prefeitos e representantes dos poderes locais foram mortos. Por vezes, assistiu-se ao assassinato sucessivo de quatro prefeitos integrantes do movimento numa mesma localidade. As sedes da UP sofreram mais de trinta atentados à bomba. Quanto às testemunhas, são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça.

O resultado desta estratégia multiforme de perseguição foi a morte violenta de mais de 3 mil pessoas e o deslocamento ou o exílio forçados de um número indeterminado – a base social desta coletividade política. Tais números têm um caráter provisório. Ainda hoje multiplicam-se perseguições, ameaças e execuções. A grande maioria dos casos permanece coberta por uma impunidade total. Num relatório especial, o Escritório do Ombudsman assinalou que dos numerosos atos de violência cometidos contra a UP entre 1985 e 1992, a Justiça ordenou sentenças condenatórias em apenas quatro casos.

O Estado colombiano sempre se recusou a reconhecer sua responsabilidade nesta eliminação sistemática. Eximiu-se de adotar qualquer medida que tendesse a admitir que os autores de tais atos são membros da força pública que agem freqüentemente em companhia de paramilitares, e deu a entender que o que aconteceu com a UP seria o resultado de "fatos individuais e sem relações" cometidas por narcotraficantes durante vinganças locais ou por delinqüentes comuns.

Legitimação da violência

Tenta-se justificar os massacres no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.

Legitimando a violência exercida, certos funcionários do Estado sustentaram que, em última instância, o destino sofrido pela UP era "previsível", por se tratar de um movimento nascido de acordos com a guerrilha. Do mesmo modo, procuraram minimizar os massacres cometidos, "feitos entre tanto outros", no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.

Mesmo o atual presidente da república, Álvaro Uribe Vélez, afirmou, quando de sua campanha eleitoral, que "o erro" cometido com a UP era compreensível, porque não se pode "combinar a política com os fuzis3". O silêncio de influentes setores da sociedade colombiana – como a alta hierarquia da Igreja Católica – perante a legitimação pública desta onda de criminalidade contribuiu para a consolidação de um ambiente de permissividade generalizada diante da cadeia ininterrupta de atos de violência.

A campanha de extermínio foi selada por uma medida administrativa que privou o grupo de oposição de qualquer estatuto legal, quando o Conselho Nacional Eleitoral afirmou que a UP "não reúne o número de sufrágios eleitorais necessários" para a renovação da sua personalidade jurídica. Esta medida não somente constitui um obstáculo legal à ação pública dos sobreviventes do movimento, mas tem também um evidente significado simbólico: após a destruição física do grupo político pelo poder de Estado, este legaliza o seu "falecimento" através de uma decisão oficial.

Genocídio político

As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo caráter de "genocídio" com motivos políticos.

A destruição desta corrente de oposição provém da tradição de exclusão e sectarismo político historicamente enraizada na Colômbia. Durante a segunda metade do século passado, a violência política custou a vida de opositores de diversas tendências e origens. Nos anos 1940 e 1950, milhares de partidários e simpatizantes do movimento de Jorge Eliécer Gaitán – líder do liberalismo popular, assassinado em 1948 – foram vítimas de atentados ou de massacres executados por grupos paramilitares promovidos pelos governos conservadores4. Do mesmo modo, os opositores à hegemonia dos partidos liberal e conservador, ou seus dissidentes, se viram tradicionalmente confrontados com perseguições sistemáticas. Tais crimes ocorreram não somente em situação de conflito armado, mas também no âmbito da negociação ou da aplicação de acordos de paz. Em cada um desses processos, a norma foi o assassinato do porta-voz dos grupos armados de oposição, seja durante os períodos de negociação ou quando da sua reintegração à vida legal.

Confrontados com a ausência de garantias para obter justiça, as vítimas e os sobreviventes da UP recorreram a instâncias internacionais e, em especial, aos mecanismos propostos para esse efeito pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Neste quadro, a Comissão Interamericana dos Direitos do Homem (CIDH) admitiu o caso "11.227" no qual é examinada a exterminação da UP, a pedido da associação “Reiniciar” e da Comissão Colombiana dos Juristas. As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo um caráter de "genocídio" com motivos políticos.

A Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948) estipula que se pode falar em genocídio apenas quando a ação de destruição é dirigida contra grupos de caráter nacional, étnico, racial ou religioso. Contudo, o debate contemporâneo sobre a doutrina do direito internacional e as ciências sociais responsáveis pelo estudo desta forma de violência extrema tende a reforçar a convicção de que é necessário alargar o âmbito da aplicação deste conceito aos massacres globais cometidos contra coletividades que se identificam pelos ideais políticos.

Sob o comando do Estado

Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado.

Em 1985, Benjamin Whitaker, relator especial da ONU sobre questões de genocídio, reconhecia no seu relatório a necessidade de incluir outros grupos (sociais, sexuais, políticos) na definição da Convenção contra o genocídio. Em novembro de 1998, o Tribunal Nacional Espanhol reviu suas competências para julgar os membros da junta militar argentina. Numa decisão unânime, declarou-se habilitado a convocar por delito de genocídio os militares que, entre 1976 e 1983, tentaram eliminar um grupo devido às suas convicções políticas. A sentença assinala: "o que caracteriza o genocídio é o extermínio de um grupo por razões raciais, religiosas, políticas ou outras". E o Tribunal acrescenta que, no caso em questão, houve tentativa de "depuração ideológica" dos que "não tinham lugar no projeto de reorganização nacional5".

No âmbito do sistema regional de proteção dos direitos humanos, os conselheiros jurídicos do Estado colombiano têm entendido inicialmente que o caso da UP não podia ser recebido pela Comissão Interamericana, pois se trata de fatos de violência "não ligados entre si". Do seu lado, a CIDH assinala no relatório 5/97 sobre a admissibilidade deste caso que "os requerentes apresentaram argumentos que visam estabelecer uma prática de assassinatos políticos de massa e a perseguição extrema dos membros da União Patriótica com a intenção de eliminar fisicamente o partido e de diluir a sua força política". Neste mesmo relatório, a instância internacional pronuncia-se em prol da análise do caso com base na existência de elementos suficientes para determinar "uma norma de perseguição6".

A colocação em evidência das ações sistemáticas permitiria demonstrar que os casos da UP, aparentemente isolados, corresponderiam a um esquema de extermínio dirigido de maneira orquestrada. Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado. Os planos de extermínio regional "Esmeralda" (1988) e "Retorno" (1993) teria tido como objetivo fazer desaparecer várias seções regionais da UP. De amplitude nacional, a "Operação Condor" (1985) e os planos "Baíle Rojo" (1986) e "Golpe de Gracia" (1992) teriam visado minar as estruturas de direção do movimento e assassinar ou seqüestrar seus líderes eleitos das estruturas de Estado(7.)

Em busca de um acordo

No âmbito do processo perante a CIDH, atualmente é discutida uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP.

Conseqüência da pressão das vítimas e dos sobreviventes, o código penal colombiano atualmente em vigor reconheceu a figura do genocídio por motivos políticos crime atroz, que este sumário normativo define como fato "de destruir total ou parcialmente um grupo por razões políticas" e provocar a morte dos seus membros "por pertencer a este último".

No âmbito do processo levado a efeito perante a CIDH, atualmente são discutidos os termos de uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP. Esta diligência deve conduzir a um eventual acordo que considera o direito à verdade e à justiça. Caso contrário, induziria a continuação do processo, levando a uma possível condenação do Estado colombiano.

Em 9 de fevereiro de 2004, por meio de uma declaração do vice-presidente da República, Francisco Santos, o governo anunciou que estava disposto a avançar na busca de uma solução amigável. Nesta declaração pública foi afirmado que os crimes maciços cometidos contra a UP constituem-se em "uma página vergonhosa da história do nosso país". Contudo, algumas horas após este anúncio oficial, Santos recomeçava a eximir a responsabilidade do Estado. Diante dos meios de comunicação, e utilizando os militantes do movimento como bodes expiatórios, o vice-presidente afirmou que os crimes seriam obra dos narcotraficantes que, num contexto de polarização, teriam realizado "acertos de contas" com guerrilhas.

O pretexto antiterrorista

Sob pretexto de ação antiterrorista, militantes são presos e exibidos diante das câmaras de TV, apresentados como membros de organizações armadas subversivas.

Como não duvidar da sinceridade do poder? Sem obstáculos nem reações, atrocidades continuam a ser cometidas contra a UP. Elementos da política de "segurança democrática" instaurada pelo presidente Álvaro Uribe Vélez incentivam o extermínio e a perseguição judicial dos sobreviventes do movimento. Sob pretexto de ação antiterrorista, muitos de seus militantes foram presos em batidas maciças e exibidos diante das câmaras de televisão, apresentados como membros das organizações armadas subversivas.

Sob o atual governo, mais de 150 militantes da UP foram vítimas de homicídios ou de "desaparecimentos" em várias regiões do país. Constatou-se igualmente deslocamentos maciços em zonas onde a oposição política ainda exerce influência. Após desarticular as estruturas do movimento, entra-se numa fase que se propõe incontestavelmente eliminar os sobreviventes.

Estas novas denúncias não provocaram nenhuma ação notável do Estado para prender e julgar os organizadores das ações criminosas. Em contrapartida, assiste-se a novos procedimentos vexatórios contra as vítimas. Assim, o corpo sem vida de Alirio Silva – líder regional da UP assassinado em 1 de março de 2004, na região do Putumayo – foi submetido a uma cadeia de "procedimentos administrativos" que tornaram impossível o seu transporte para Bogotá antes que fosse feita uma autópsia com o objetivo de verificar se não se tratava de um "cadáver-armadilha" preparado pela guerrilha para um atentado.

Obstáculo à democracia

O ceticismo em relação à viabilidade de uma ação política de forma cidadã reforça a crença na via da violência para resolver os problemas do país.

Por outro lado, desde 27 de novembro de 2002, o governo do presidente Uribe iniciou uma "reintegração à sociedade" dos grupos paramilitares. Uma parte desta política de reintegração parece querer apoiar-se em medidas legislativas e administrativas capazes de garantir a impunidade e o perdão incondicional dos paramilitares. Isso significaria que vários dos principais autores do genocídio contra a UP seriam isentos automaticamente de qualquer responsabilidade, e que o processo de esclarecimento e reparação das vítimas seria assim seriamente prejudicado.

O conjunto dos atos de terror e de violência perpetrados contra a UP constituiu um obstáculo na perspectiva de democratização da sociedade colombiana. E não é a única conseqüência. Reforçando o medo de exprimir livremente a sua oposição, provocando um profundo ceticismo em relação à viabilidade de levar a cabo uma ação política de maneira cidadã, reforçaram a convicção dos que crêem apenas na via da violência para resolver os problemas do país.

(Trad.: Marcelo de Valécio)

1 - O Partido Liberal e o Partido conservador compartilham o poder desde 1958.
2 - Por "massacre" entende-se o assassinato de mais de três pessoas.
3 - Álvaro Uribe Vélez, “ Manifiesto democrático. 100 puntos del programa de Gobierno”
4 - Conhecido sob o nome de "La Violencia", este período de guerra civil provocou a morte de 300 mil pessoas.
5 - “Auto de la Sala de lo Penal de la Audiencia Nacional confirmando la jurisdicción de España para conocer de los crímenes de genocidio y terrorismo cometidos durante la dictadura argentina ”, Madrid, 4 novembre 1998.
6 - Referência e data do relatório 5/97.
7 - Jahel Quiroga-Carrillo, “ La Unión Patriótica: el exterminio de una esperanza ”, in “Memorias del Seminario sobre el Proceso de Búsqueda de Solución Amistosa en el Caso de la Unión Patriótica que se adelanta ante la CIDH”, Procuraduría General de la Nación – Embajada de Suiza en Colombia, 2003, p.137.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Marulanda, Herói da América Latina

Neste artigo Miguel Urbano Rodrigues recorda a trajectória revolucionária do comandante Manuel Marulanda e as circunstâncias em que conheceu na selva o dirigente das FARC, no qual identifica um herói da América Latina.

Sucessivos governos da Colômbia anunciaram a sua morte vinte vezes. As cadeias de televisão e a grande imprensa da Europa e dos EUA comentaram esse acontecimento e, com poucas excepções, insultaram e caluniaram o combatente. Depois divulgaram desmentidos para o ressuscitar. Porque Manuel Marulanda continuava vivo, lutando nas montanhas e selvas do seu país.

Ele sabia que não era eterno. Faleceu no dia 26 de Março. Mas, para decepção do fascismo colombiano e do imperialismo não foram as bombas e mísseis que abateram o comandante-chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-FARC. Marulanda morreu de um enfarte, algures na selva, com a sua companheira ao lado, rodeado de camaradas.

É necessário subir até Bolívar para encontrar na história da América Latina alguém com uma trajectória comparável. Ambos lutaram no mesmo cenário; ambos realizaram feitos que trazem à memória heróis mágicos da Ilíada de Homero. Mas, ao contrário do Libertador, Marulanda nasceu pobre numa família de camponeses do Quindio. Foram o espectáculo da miséria das populações rurais da Cordilheira e o sentimento de revolta contra a repressão de que elas eram alvo que fizeram dele um revolucionário. O guerrilheiro que aprendeu a ler já adulto tornou-se comunista ao compreender que a autodefesa dos camponeses era inseparável de uma luta maior, de dimensão planetária, contra a engrenagem de poder responsável pela violência que os esmagava e pela situação semi-colonial da sua pátria.

Quando a oligarquia bogotana e antioquenha identificou uma ameaça naquela «rebelde» que recusava amnistia e não se submetia, mobilizou um exército de 10.000 homens para destruir o grupo guerrilheiro que na remota Marquetália não entregava as armas.

Marulanda contava somente com 46 combatentes. Ocorreu então um dos muitos impossíveis que iriam marcar a sua vida de lutador. A guerrilha, combatendo quase diariamente, rompeu o cerco. Essa saga esteve na raiz das FARC. A guerrilha de Marquetália, armada com uma ideologia humanista e revolucionária, transformou-se com o rodar dos anos no Exército Revolucionário do Povo, uma força avaliada em 15.000 combatentes, que se bate hoje, 44 anos após a sua criação, contra o Exército de Uribe em 60 Frentes.

O escritor Arturo Alape, num livro belo, recorda situações e factos que, pela atmosfera de excepcionalidade, mais parecem coisa de magia.
Mas foram reais.
Marulanda atravessou muitas vezes os Andes, combatendo. Na Colômbia a Cordilheira ciclópica divide-se em três ramificações, separadas por vales profundos. E uma coluna das FARC, sob o seu comando, repetiu o que era considerado absolutamente impossível. Cruzou a Cordilheira Central, de Ocidente para Oriente, através de desfiladeiros ocupados pelo exército, rompendo sucessivos cercos numa campanha que leva Arape a concluir que Marulanda como estratego somente encontra precedentes em Alexandre, Aníbal e Napoleão.

ENCONTRO COM TIRO FIJO

A vida proporcionou-me a oportunidade de encontrar uma vez Marulanda. Foi em Junho de 2001 na aldeia amazónica de La Macarena, após um almoço oferecido pelas FARC a delegações da Cruz Vermelha e de diferentes países que tinham acompanhado o processo de intercâmbio humanitário de prisioneiros. As FARC, em gesto unilateral, tinham libertado naquela manhã uns 300 prisioneiros quase todos militares capturados em combate.

Foi o comandante Raúl Reyes, de quem eu era convidado, que me apresentou ao comandante-chefe das FARC, o então já legendário Tiro Fijo, como era conhecido pela sua pontaria. Durou escassos minutos a troca de palavras porque Marulanda estava rodeado de embaixadores de países europeus.

Chovia torrencialmente e a água que se despenhava do céu em cataratas sobre a cobertura de plástico que protegia o terreiro do almoço produzia um ruído tão forte que dificultava as conversas. Mas não esqueci que os diplomatas se dirigiam com muito respeito ao dirigente revolucionário, disputando-lhe a atenção.

Nenhum dos presentes poderia naquele dia prever que a União Europeia, cedendo a pressões de Washington, iria definir as FARC como organização terrorista e que o futuro governo de Uribe colocaria a prémio, por milhões de dólares, a cabeça de Manuel Marulanda.

Recordo também ter pedido ao comandante-chefe que me concedesse uma entrevista.

Quase lhe escuto ainda a sua resposta ao pedido, pronunciada com a lentidão que lhe tornava a voz inconfundível. Sugeriu uma data posterior ao meu regresso a Havana, cidade onde então eu residia.

Pedi-lhe então que respondesse apenas a três perguntas que enviaria por uma colega cubana, que, essa sim, poderia entrevistá-lo no dia proposto. Marulanda concordou e cumpriu. A entrevista foi publicada no Avante!

A LUTA DAS FARC PROSSEGUE

Desde essa jornada na Macarena, o governo da Colômbia anunciou várias vezes que Marulanda falecera ou estava moribundo. Mentia. Como mentiu ao repetir em diferentes ocasiões que as FARC tinham recebido golpes tão duros que estavam à beira da desagregação.

Não obstante aparecerem, com os seus 380.000 homens, como as mais poderosas da América Latina – equipadas com armas que Washington somente fornece a Israel – as Forças Armadas da Colômbia acumularam derrotas em todas as ofensivas que tinham por objectivo o aniquilamento das FARC. O resultado decepcionante do Plano Patriota nos Departamentos do Caquetá e do Meta ficou, aliás, transparente na renúncia de meia dúzia de generais do Exército.

O povo colombiano tem hoje consciência de que a escalada belicista de Uribe fracassou e que não há solução militar para a guerra civil.

Mas o governo neofascista de Bogotá fecha as portas ao intercâmbio humanitário de prisioneiros nas bases propostas pelas FARC que implicariam a retirada prévia de todas as forças militares dos municípios de Florida e Pradera.

As FARC numa demonstração de boa vontade, entregaram, entretanto, à Cruz Vermelha Internacional alguns prisioneiros em gesto unilateral. Mas Uribe respondeu inviabilizando a mediação de Hugo Chávez e da senadora liberal Piedad Cordoba.

A campanha, de matizes farisaicos que exige incondicionalmente a libertação de Ingrid Betancourt veio porém criar, paradoxalmente uma situação muito incómoda para Uribe. Ao tomar conhecimento de contactos entre o comandante Raúl Reyes e o governo francês, o presidente colombiano concebeu e executou – com a cumplicidade da Casa Branca e do Pentágono – o plano cujo desfecho foi o assassínio daquele comandante das FARC e de mais vinte dos seus camaradas na acção criminosa que violou a soberania do Equador.

A morte de Marulanda ocorreu a 26 de Março no auge da campanha de desinformação promovida pelo fascismo uribista – depois da manipulação dos computadores de Raúl Reyes – com o fim de comprometer os presidentes da Venezuela e do Equador e de apresentar as FARC como envolvidas em negócios do narcotráfico e de armas.

Tornar publico o falecimento de Marulanda nos dias em que Uribe proclamava, triunfalista, que as FARC estavam em processo de destruição como força de combate permitiria ao presidente neofascista utilizar o acontecimento para promover a confusão e a desinformação.

A divulgação da notícia foi assim atrasada durante muitas semanas até chegar ao conhecimento do governo de Bogotá.

A partir de então ocorreu o que se previa. Para além da torrente de calúnias da propaganda oficial, os epígonos do uribismo não se limitaram a festejar a morte de Marulanda, apresentando-o como bandoleiro e assassino. De especulação em especulação identificaram no desaparecimento do comandante-chefe da organização guerrilheira o prólogo do seu fim iminente. As Forças Armadas chegaram ao absurdo de afirmar que teria morrido possivelmente durante um bombardeamento do seu acampamento.

Perante as proporções da orquestração reaccionária, o secretariado do Estado-Maior Central das FARC considerou chegado o momento de tornar pública a morte de Manuel Marulanda. A notícia foi divulgada através de um comunicado lido pelo comandante Timoleón Jimenez e transmitido em primeira-mão pela Telesur venezuelana. Nesse documento a direcção das FARC informa que o novo comandante-chefe é o Comandante Alfonso Cano. E prestando comovida homenagem a Marulanda, pela sua capacidade de liderança, lucidez ideológica e talento como estratego militar, sublinham a decisão inquebrantável de prosseguir em todas as Frentes até â vitória final a luta pelo «poder político, por uma sociedade de justiça social e pelo socialismo».

As campanhas de calúnias contra as FARC vão continuar, paralelas à guerra cujo objectivo é o seu aniquilamento.

O fim desta guerra não tem data no calendário. Mas o povo da Colômbia já percebeu que Uribe e os seus ministros somente deixaram marcas na História pelos seus crimes. E está consciente de que Manuel Marulanda conquistou já a eternidade, ocupando lugar ao lado de Bolívar no panteão dos heróis autênticos da América Latina.

Serpa, 27 de Maio de 2008

Via O diario.info

domingo, 25 de maio de 2008

Sobre Marulanda

Marulanda foi vítima de um ataque do coração, no dia 26 de Março, aos 77 anos. É a terceira grande perda seguida na cúpula das Farc — apenas em 2008, já morreram o número 2 da guerrilha, Raúl Reyes, em ataque colombiano em território equatoriano, e Iván Rios, assassinado por seu próprio segurança.


Quem foi Marulanda


Pedro Antonio Marin — conhecido como Manuel Marulanda Vélez ou Tirofijo (tiro certeiro, em espanhol) — nasceu em 12 de Maio de 1930 em Génova, departamento de Quindío. Antes de deixar o povoado, ''expulso pela violência'', foi açougueiro e lenhador. Segundo alguns de seus biógrafos, ganhou o apelido de Tirofijo pela boa pontaria — dizia-se que, ''onde punha o olho, punha a bala''.

Sua vida ficou profundamente marcada pelo assassinato, em 1948, do líder do Partido Liberal, Jorge Eliécer Gaitán. Marulanda passou a ser perseguido pelo governo de Ospina Pérez. Desde essa época, viveu foragido. O baptismo de fogo como guerrilheiro teve lugar em Setembro do ano seguinte — quando, acompanhado de vários irmãos e primos, atacou seu povoado natal após um ataque frustrado da polícia. Passou, então, a organizar grupos de resistência nas montanhas da região, onde ainda se escondia.

Nos anos 60, com Luis Alberto Morantes, foi um dos fundadores, das Farc, depois que o Exército colombiano desfechou uma grande operação para desmantelar a “República de Marquetalia” — um enclave rural no centro do país mantido por grupos armados de ideologia próxima ao comunismo agrário. O dia 27 de Maio de 1964 é considerado a data oficial do nascimento da guerrilha de esquerda, que se estendeu a boa parte do país.


Assim como Marquetalia, outros enclaves se formaram na Colômbia durante o período conhecido como “La Violência”, de 1948 a 1958, quando os dois principais partidos do país — o Conservador e o Liberal — formaram milícias e se envolveram em sangrentos confrontos armados. Com a trégua entre as duas forças, os militares decidiram pôr fim aos redutos, obrigando Marulanda e seus aliados comunistas a se refugiarem nas montanhas.


Até 1966, as Farc eram conhecidas apenas pelo nome de ''Bloco Sul''. Seu crescimento foi modesto entre 1974 e 1982, centrado sobretudo nas zonas camponesas distantes dos grandes centros urbanos. No período, seu contingente era estimado em até 15 mil homens, espalhado por todas as partes da Colômbia e ameaçando o poder central.


Mudança de táctica


O governo de Belisario Betancur (1982-86) promoveu uma ampla negociação de paz que terminou por incluir os guerrilheiros das Farc no cenário político legal do país, ao lado de outros grupos de esquerda, sob a legenda da União Patriótica (UP). Fracassadas as negociações com o governo, o grupo se estendeu a outras regiões da selva amazónica e do planalto colombiano.

A UP e a trégua na política colombiana acabou com a campanha de assassinatos — por parte de paramilitares —, que custou a vida de um número estimado de 3 mil membros do partido. Marulanda ordenou o reagrupamento das Farc, que iniciaram ofensivas maciças em todo o interior da Colômbia. Intensificaram-se os sequestros de policiais e soldados, assim como atentados a políticos e incursões a cidades e vilas inteiras. Em quase quatro décadas, estima-se que o conflito civil no país tenha deixado mais de 30 mil mortos.

Uma nova tentativa de paz surgiu em 2001, quando o presidente Andrés Pastrana ordenou a desmilitarização de uma área equivalente à da França no sudoeste do país para servir de sede para negociações com as Farc. Marulanda fez, então, a maior parte de suas raras aparições públicas. No entanto, a iniciativa novamente não prosperou.

Desde os anos 80, Marulanda manteve, ao mesmo tempo, a influência sobre os comandantes da guerrilha e a conduta pessoal discreta. Alguns dos companheiros destacam sua aparência de “camponês bonachão”. Para muitos analistas, o carisma que levou Marulanda à máxima liderança da guerrilha decorria da capacidade de conciliar posições entre a ala política e o braço militar do “secretariado” (a instância administrativa) das Farc.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Timor-Leste: Conspiração acentua-se quando ocorre a rendição do líder duma alegada tentativa de “golpe”

Depois da negociação da sua prisão com as forças ocupantes da Indonésia, Xanana Gusmão não para de descer o plano inclinado em que então mergulhou. Agora, com a divulgação de notícias sobre a morte do ex major Reinado e os subsequentes acontecimentos políticos, avolumam-se interrogações sobre as circunstancias que envolveram o atentado contra Ramos Horta.É igualmente muito estranho o pesado silêncio do Governo e dos media portugueses sobre a evolução dos acontecimentos em Timor

Patrick O’Connor - 15.05.08


Gastão Salsinha, o alegado co-líder do que foi rotulado «tentativa de assassínio contra o Presidente José Ramos Horta e o Primeiro-Ministro Xanana Gusmão» em 11 de Fevereiro, rendeu-se às autoridades em Dili na Terça-feira. Salsinha é especificamente acusado de atacar o veículo de Gusmão depois do antigo major Alfredo Reinado ter sido morto a tiro por soldados, na residência de Ramos-Horta. O antigo tenente das forças armadas nega essas acusações e insiste que nem ele, nem Reinado, tentaram orquestrar um golpe ou um assassínio.

A rendição de Salsinha veio, conjuntamente, com o temor de mais revelações que colocam mais dúvidas sobre a explicação oficial para os acontecimentos lamacentos de 11 de Fevereiro, e apontam mais uma vez para a possibilidade de o próprio Reinado ter caído numa cilada de assassínio.


Salsinha tinha andado em fuga, com cerca de doze dos seus homens, nos distritos do oeste de Timor desde os alegados ataques contra Gusmão. Anteriormente, liderou os 600 soldados conhecidos como “peticionários”. O seu motim em 2006 precipitou uma ampla violência do que resultou a fuga de 150.000 timorenses das suas casas. O conflito foi seguido de uma intervenção militar Australiana e do derrube do governo da Fretilin, liderado por Mari Alkatiri.


Salsinha concordou formalmente em render-se na passada sexta-feira, e passou os dias seguintes em negociações na cidade do oeste de Gleno. Mas, ele rendeu-se, oficialmente, em Dili, na terça-feira juntamente com 12 camaradas, ex-soldados, incluindo Marcelo Caetano, que alegadamente terá baleado Ramos-Horta.


Ramos-Horta encontrou-se publicamente com os soldados amotinados em Dili quando entregaram formalmente as armas e se submeteram à polícia timorense numa cerimónia realizada no Palácio do Governo. Com o Primeiro-Ministro Gusmão, em Jacarta, para conversações com o governo Indonésio, o Vice-Primeiro-Ministro José Luis Guterres presidiu à rendição e declarou ela constituía “momento histórico” para Timor-Leste.

No mês passado, Salsinha deu uma entrevista telefónica ao programa “Dateline” da televisão da Austrália, SBS. Nessa entrevista, Salsinha afirmou: “Há muitas acusações contra nós, sobre da morte do Major Alfredo e do presidente ter sido ferido e também sobre o ataque ao primeiro-ministro.” “Dizem todos que estávamos a planear um golpe, mas estão a mentir. Seja o que for que digam estão a tentar manchar a nossa reputação.... Estive lá mas não tinha qualquer intenção de fazer um golpe ou prejudicar o primeiro-ministro. Se tivéssemos planeado atacar o primeiro-ministro, ele não teria chegado a Dili.”

Salsinha disse ao “Dateline” que, manhã cedo, a 11 de Fevereiro, Reinado, “estava bêbado”, e ordenou aos seus homens para o acompanharem a Dili onde se ia encontrar com Ramos-Horta e Gusmão. Salsinha disse que esperou numa estrada que vai para a casa de Gusmão e que aguardava mais instruções enquanto Reinado foi à casa de Ramos-Horta.

Isso mantém obscuro o que aconteceu a seguir. Alguns relatos dizem que Salsinha recebeu uma mensagem de texto a informá-lo que Reinado tinha sido morto a tiro e que então o líder dos peticionários tentou sem sucesso emboscar a caravana de Gusmão. Mas, o deputado do governo, Mário Carrascalão, questionou porque não foi ninguém ferido na alegada emboscada, enquanto Mari Alkatiri insiste que a Fretilin tem provas fotográficas que indicam que todo o incidente foi falsificado.

O programa “Dateline”, emitido em 16 de Abril, incluía uma entrevista com um dos homens de Reinado, cujo “nome de guerra” é Teboko, que esteve envolvido no confronto em casa de Ramos-Horta. Teboko insiste que Reinado tinha uma entrevista marcada com o presidente.

“Tínhamos uma ordem de Alfredo para não atacar a residência do presidente,” disse ele ao programa do SBS. “É claro. Compreende-se bem, se fossemos para o atacar, podíamos tê-lo baleado em Maubisse ou Suai quando o encontramos [previamente]. Não projectávamos isso. Isso não estava nas nossas mentes. Tínhamos um encontro marcado do presidente com o Major Alfredo e íamos com dois veículos. Chegamos sem nenhuma preparação armada ou militar. Como sabemos, as F-DTL [militares Timorenses], dispararam primeiro contra nós. Eles mataram o Major Alfredo e o membro Leopoldino. O jornalista do “Dateline”, Mark Davis, explicou: “de acordo com Teboko, cerca de 10 minutos depois de entrarem no complexo, sem nenhum fogo de armas e nenhuma ameaça, Alfredo Reinado foi de repente morto a tiro. Encontro encerrado.”

Um relato idêntico foi feito por Natália Lidia Guterres, a viúva de Leopoldino, o homem de Reinado que também foi morto na residência de Ramos-Horta. Ela disse ao The Australian que o marido entrou em casa às 3 da manhã, em 11 de Fevereiro, para mudar o uniforme. Contou ao jornal que Leopoldino tinha dito “vamos ter um encontro com o Senhor Presidente”. O artigo, publicado em 19 de Abril, continuava: “Natália disse que Leopoldino parecia ‘muito feliz’ porque iam resolver coisas num encontro que a [Angelita] Pires tinha arranjado.”

The Australian sublinhou também que um mapa da residência de Ramos-Horta, feito à mão, foi encontrado no corpo de Reinado. Os detalhes foram alegadamente dados por Albino Assis, um dos guardas militares de Ramos-Horta, que tinha também trabalhado ao lado de Reinado na polícia militar antes da crise de 2006. Os registos telefónicos demostram que Reinado teria , supostamente, falado com Assis, imediatamente antes do alegado ataque na residência de Ramos-Horta.

The Australian sugeriu que Assis tinha traído Ramos-Horta e que estava colaborando com Reinado. Mas se fosse esse o caso, porque é que Reinado entrou na casa do presidente à procura dele quando ele estava fora, no seu habitual passeio matinal? Assis devia estar familiarizado com a agenda de Ramos-Horta.

Também não foi explicado o papel dum outro homem que trabalhou no gabinete de Ramos-Horta e que foi visto no acampamento de Reinado na noite anterior à violência de 11 de Fevereiro. De acordo com o “Dateline”, o indivíduo não identificado era membro dum grupo chamado MUNJ (Movimento para a Unidade e Justiça) que actuou como intermediário entre Ramos-Horta e Reinado. O programa SBS sublinhou: “Desde os tiros contra Horta, o MUNJ tem estado particularmente calado sobre a sua presença no acampamento de Reinado na noite anterior ao ataque. Está claro que eles estavam a transmitir uma mensagem de Horta, mas não se sabe nada sobre as horas a que partiram.”

O Relato oficial está desmentido pelos novos factos

O relato oficial do que ocorreu em 11 de Fevereiro — que Reinado liderou um golpe ou uma tentativa de assassínio — caiu aos pedaços. É agora virtualmente certo que o antigo major Reinado foi à residência do presidente para falar com Ramos-Horta, e parece certo que tinha um encontro agendado. Aquilo que aconteceu, e como exactamente foi morto — cerca de uma hora antes do próprio Ramos-Horta ter sido ferido — mantém-se obscuro.

A emissão de 16 de Abril da “Dateline” sugeriu que Reinado receava que o acordo de amnistia, que tinha acordado com Ramos-Horta em meados de Janeiro, estava em risco. Sobre os termos deste acordo secreto, Reinado e os seus homens deviam submeter-se à polícia, depois do que Ramos-Horta lhes daria um perdão total. Mas em 7 de Fevereiro, Ramos-Horta convocou um encontro em sua casa envolvendo Gusmão, deputados do governo e uma grande delegação da Fretilin. De acordo com vários relatos, os deputados disseram a Ramos-Horta que ele não tinha poder para amnistiar Reinado, e que isso teria que ser discutido em mais encontros agendados para 12 e 14 de Fevereiro.

O “Dateline” sugeriu que Reinado, tendo sabido do que se tinha discutido, e tinha ido a Dili para confrontar Ramos-Horta que, pensava ele, se estava a preparar para renegar o acordo. Isto é, seguramente, uma possibilidade. Extraordinariamente, contudo, o programa da SBS falhou, ao não saber que o item principal da agenda do encontro de 7 de Fevereiro de Ramos-Horta não era a amnistia de Reinado mas sim a formação de um novo governo. O presidente tinha concluído que o governo de Gusmão, que é cada vez mais impopular e dividido por lutas internas, deixara de ser viável. Ele disse aos deputados reunidos que concordava com o pedido da Fretilin da realização de eleições antecipadas para resolver a crise política. Gusmão discordava duramente, contudo, insistia que a coligação continuaria a governar sozinha.

O World Socialist Web Site sublinhou previamente que o Primeiro-Ministro Gusmão tinha muito a ganhar com a morte de Reinado. De acordo com a velha fórmula da investigação cui bono (quem ganha?), a possibilidade de Gusmão, ou as forças alinhadas com Gusmão, poderem ter algo a ver com a eliminação do antigo major não pode ser excluída. Os acontecimentos de 11 de Fevereiro resultaram naturalmente no cancelamento imediato dos encontros de Ramos-Horta planeados para 12 e 14 de Fevereiro. Aqueles acontecimentos impediram mais movimentos para dissolver o governo de Gusmão.

O primeiro-ministro cavalgou imediatamente a violência para reclamar poderes autoritários sob a declaração dum “Estado de sítio” (que se manterá em força nos distritos do oeste de Timor até o fim de Maio).

Mais ainda, a morte de Reinado ocorreu depois do antigo major ter emitido um DVD, que foi amplamente divulgado, onde acusou Gusmão de instigar directamente os protestos dos peticionários em 2006 que desencadearam os acontecimentos, culminando no derrube da administração de Alkatiri. Reinado tinha ameaçado dar mais detalhes do alegado papel de Gusmão na operação de “mudança de regime”.

Questões importantes acerca do papel de Camberra

Reinado tinha, há muito tempo, relações com a Austrália. Residiu naquele país como refugiado nos anos 90 (a mulher e filhos continuam a viver em Perth), e recebeu formação militar em Camberra depois de ter regressado a Timor e se ter junto às forças armadas do país. Em 2006, Reinado foi elogiado nos media da Austrália pelo seu papel na desestabilização do governo de Alkatiri, que Camberra considerava demasiado com a China e Portugal. Depois da polícia da ONU ter prendido Reinado sob a acusação de porte armas, ele e os seus homens foram libertados duma prisão de Dili que estava a ser guardada por tropas Australianas e da Nova Zelândia.

Soldados Australianos, incluindo forças de elite SAS, então, clamaram serem incapazes de localizar e deter o antigo major enquanto ele emitia declarações públicas regulares e dava entrevistas para os media mundiais, a partir da sua base no oeste de Timor. Isto era completamente implausível — o governo de Camberra, Austrália, tem uma extensa rede de agentes dos serviços de informações a operarem no Timor-Leste, bem como uma inteira divisão dos serviços de informações. Por exemplo, a Direcção de Sinais de Defesa dedica-se a monitorar comunicações electrónicas.

Nos dias anteriores à morte de Reinado, o antigo major fez e recebeu 47 chamadas telefónicas para a Austrália. Continua-se a não se saber com quem ele falava. Autoridades Timorenses expressaram frustração sobre a dificuldade que têm sentido em obter informações das autoridades dos serviços de informação da Austrália sobre as gravações de voz e texto das mensagens que interceptaram. Autoridades da Indonésia, por outro lado, forneceram imediatamente as suas informações em relação a várias chamadas que Reinado fez para o país.

Investigadores timorenses estão também à espera por informações relativas a uma conta dum banco de Darwin, no montante de um 1 milhão dólares norte-americanos, a que Reinado tinha acesso. De acordo com o procurador-geral de Timor-Leste, Longinhos Monteiro, Reinado foi informado que o dinheiro tinha sido depositado na conta através de uma mensagem de texto, enviada por Angelita Pires, a sua amante e antiga intermediária com os militares australianos. O Presidente Ramos-Horta, Salsinha e muitos dos homens de Reinado, todos, têm acusado Angelita Pires de manipular Reinado e de provocar a violência ocorrida em 11 de Fevereiro. Não foram ainda deduzidas acusações criminais contra Angelita Pires.

Ramos-Horta tem pedido publicamente que Camberra explique como pode uma soma de um milhão de dólares ter passado sem detecção, particularmente à luz dos alertas automáticos que se aplicam, por rotina, a grandes depósitos, de acordo com as rigorosas leis bancárias da Austrália. Ele também condenou a inacção do governo australiano: “Dois meses [depois] e não vi nenhuma acção para forçar o banco na Austrália para fornecer a informação,” disse ele na rádio ABC. “Quero isto resolvido muito, muito rapidamente, de outro modo levarei a questão ao conselho de segurança da ONU.”

Este ultimato extraordinário teve resposta do ministro dos estrangeiros, Stephen Smith, que garantiu que informação relevante será partilhada logo, que os “procedimentos apropriados” sejam seguidos pelas autoridades Timorenses.

O jogo aparentemente defensivo do governo de Rudd, primeiro-ministro da Austrália, alimentou os rumores em Dili que pessoal australiano deu uma mão aos acontecimentos de 11 de Fevereiro. Um texto de 22 de Abril publicado no The Australian sublinhava: “Isso deve perturbar a Austrália — que lidera a não amada Força Internacional de Estabilização, que foi levada a melhorar a sua imagem fazendo anúncios nos jornais que mostram um soldado australiano a apertar a mão a um garoto timorense — que os timorenses interpretarão afirmações do dinheiro [depositado em Darwin] como uma forte prova de que australianos não-timorenses estiveram a suportar Reinado e a Srª Pires.” A peça continuava: “As coisas estão agora a descarrilar, com muitos timorenses convencidos que os ataques de 11 de Fevereiro tiveram tudo a ver com o petróleo e gás do Timor Gap, com a Austrália ainda não contente em ficar com a parte de leão que já tem e, por isso, de certo modo, a tentar executar a liderança de Timor, de modo a deitar a mão a mais dinheiro. Alguns analistas já percebem que isto é realmente uma batalha entre a Austrália e a Indonésia contra a China.”

Estes rumores apontam para a escalada de hostilidade contra a ocupação australiana em curso de Timor-Leste. Se esses rumores são verosímeis, isso é outra questão. Uma explicação mais verosímil seria que o governo de Camberra (Austrália) está envolvido em “tentar executar a liderança de Timor”. Nesse sentido, as autoridades Australianas sabiam e talvez tenham participado num plano para eliminar Reinado. O antigo major teria servido aos seus propósitos em relação ao que interessava ao governo australiano, e agora estava ameaçando derrubar o governo de Gusmão, totalmente alinhado com Camberra, e isso estaria a abrir a porta para a Fretilin regressar ao poder. Tendo gasto recursos significativos para derrubar Alkatiri em 2006, isto seria, no entanto, a última coisa que os estrategistas Australianos desejariam.

A rendição de Salsinha tem sido elogiada nos media internacionais, como um passo grande para a paz e estabilidade em Timor-Leste, mas a potencialmente explosiva crise política mantém-se por resolver. Enquanto estava em recuperação na Austrália, o Presidente Ramos-Horta disse que ainda receava pela sua vida e que estava a considerar até uma hipótese de renúncia, e ir para Paris escrever as suas memórias.

Agora em Dili, contudo, insiste que não tem nenhuma intenção de renunciar. Tem repetido o seu apoio a eleições antecipadas a serem realizadas no início do próximo ano, e pediu também à Fretilin para formar um gabinete “sombra”[1], “para contribuir para o desenvolvimento do país”. O gesto tem sido interpretado em Dili como uma expressão de apoio para uma potencial administração liderada pela Fretilin. Num discurso ao parlamento timorense em 23 de Abril, Ramos-Horta disse que vai perdoar a Rogério Lobato, um deputado de topo da Fretilin que foi condenado por armar civis durante a crise de 2006. O caso Lobato foi parte importante das falsidades emitidas pelo programa “Four Corners” da ABC, segundo as quais Alkatiri tinha armado um “esquadrão de ataque” para assassinar opositores da Fretilin. O trabalho de difamação da ABC foi usado por Gusmão e pelo governo australiano para pressionar Alkatiri a resignar.

A promessa de Ramos-Horta de amnistiar Lobato tem sido denunciada pelos media da Austrália. O seu aparente afastamento de Gusmão e aproximação à Fretilin será igualmente mal recebido. Com toda a probabilidade, a resposta de Camberra será aumentar as suas manobras por baixo da mesa e as suas jogadas sujas que visam encobrir os seus significativos interesses económicos e estratégicos em Timor-Leste, país pequeno e empobrecido da Ásia.

Nota do Revisor:[1] Na sequência destes acontecimentos, a ASDT e a FRETILIN assinaram no passado dia 1 de Maio de 2008 um acordo de incidência parlamentar, onde se diz: «Assim, os Partidos ASDT e FRETILIN, conscientes da sua responsabilidade política na defesa deste Povo. Assinaram o Termo do Acordo de 1 de Maio para a formação do novo governo Constitucional da RDTL.Para a implementação deste acordo os partidos ASDT e FRETILIN brevemente elaborarão uma plataforma política que contemplará os programas de governação e garantirá à ASDT uma participação proporcional e justa na composição da mesa do Parlamento Nacional e do Governo, nomeadamente: 1. Vice-Presidente do parlamento Nacional;2. Vice-Primeiro Ministro;3. Ministro das Telecomunicações;4. Ministro do Turismo;5. Ministro dos Transportes e Comércio;6. Secretário de Estado do Meio Ambiente;7. Secretário de Estado da Solidariedade, e8. Secretário de Estado da Administração Estatal»

Assinam este acordo pela ASDT Francisco Xavier do Amaral e Francisco Gomes e Francisco Guterres (Lu Olo) e Mari Alkatiri, respectivamente Presidente e Secretário-Geral dos dois partidos.

Este artigo foi publicado no World Socialist Web Site em 2 de Maio de 2008.

Revisão da tradução de José Paulo Gascão

Via O Diário.info

domingo, 4 de maio de 2008

Videos sobre o Tibete

Um documentário realizado pelo Canal 3 francês sobre a história do Tibete, com imagens interessante. Apesar de claramente tendencioso e anti-chinês, o documentário é interessante, porque mesmo com todo o discurso manipulado, basta ter um pouco o espírito aberto, para se perceber as mentiras e principalmente, ter uma ideia do que era o Tibete nos tempos em que o Dalai Lama e a sua seita eram todo-poderosos.

- História do Tibete I
- História do Tibete II
- História do Tibete III
- História do Tibete IV
- História do Tibete V
- História do Tibete VI

Ou então ver este video, quando os Nazis perceberam as semelhanças que havia entre eles e a casta dirigente do Tibete:

- Nazistas no Tibete

Quem é Kenzin Gyatso?

Artigo publicado no "Avante", 30.04.08

Ao contrário do que se presume, o Dalai Lama que nos entra casa dentro, sorridente e afável, no pequeno ecrã, não é originário do território historicamente considerado como parte integrante do Tibete. O menino a que os pais chamaram Kenzin Gyatso, nasceu, em 1935, na província de Amdo, território incontestavelmente pertencente à China. Só em 1938, e após apurada ponderação dos sábios religiosos, é que o pequeno Gyatso é indicado como sendo a reincarnação do anterior Dalai Lama, o 13.º.
A ecuménica conclusão motivou a passagem de Gyatso do seio familiar para o isolamento num mosteiro, onde, desde tenra idade, fica restrito à influência exclusiva dos monges, «que o ensinam a sentir, pensar, escrever, falar e comportar-se como o deus-rei tibetano», sublinha Domenico Losurdo.
Cingido à disciplinada esfera monástica, Kenzin Gyatso interioriza o papel de Dalai Lama, aprende tibetano e sofre com a separação dos pais, facto que confessa a Heinrich Harrer no livro «Sete anos no Tibete».
No mesmo texto – que merece no final uma mensagem de gratidão do Dalai Lama –, Harrer revela que, em 1946, encontra em Lhasa os pais de Kenzin Gyatso. Estes ascenderam socialmente. Gozam do conforto proporcionado pelo poder e riqueza inerentes aos progenitores de sua santidade, mas mantêm enraizados muitos dos hábitos da anterior proveniência. Não dominam o idioma local e seguem o ritual do chá como a maioria dos chineses.
Seria igualmente de supor que, tendo sido escolhido para suceder ao 13.º Dalai Lama por meditada revelação, Kenzin Gyatso conservasse o costume e deixasse nas mãos da divina providência a sua régia linhagem. Puro engano.
Segundo Humberto Alencar, em Novembro do ano passado, o actual Dalai Lama propôs que, «em vez de esperar que os sábios religiosos encontrassem a próxima encarnação, fosse ele quem a escolhesse». Alencar acrescenta que «para impor o seu método e estabelecer uma linha sucessória segura para os separatistas, o Dalai Lama sugeriu um referendo entre os budistas tibetanos». A proposta demonstra o empenho de Kenzin Gyatso em determinar a escolha do seu herdeiro, mas parece ter sido recebida pelos Lamas com escasso entusiasmo.
Sobre a enigmática personagem, o professor Elias Jabbour lembra que, em 1989, quando o «pacifista» foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz, defendia a detenção de armas nucleares por parte da Índia.
Mais recentemente, notou ainda Humberto Alencar, o 14.º Dalai Lama declarou ser «muito cedo para dizer se a guerra no Iraque foi um erro» e mostrou-se convicto da necessidade de «reprimir o terrorismo».
Mesmo não tendo feito luz sobre o que considera «reprimir», a declaração soa estranha proferida por alguém que se apresenta como genuíno defensor da paz.

A duplicidade do Dalai Lama

Do ambiente místico que serve de pano de fundo à campanha chamada de pró-Tibete, não sobressai a história recente da relação envolvendo a China, o Tibete – que a integra - e o Dalai Lama. É natural, tendo em conta que a verdade não interessa ao capitalismo neoliberal, que prefere reescrever o passado de acordo com os seus objectivos presentes e futuros.

É por isso que muitos dos que se deixam encantar pela lenga-lenga do Dalai Lama e da sua «causa», desconhecem que foi este mesmo 14.º Dalai Lama e o seu «governo» quem, em 23 de Maio de 1951, autorizou a assinatura do Acordo dos 17 Artigos regulando «a integração pacífica do Tibete na China, a sua autonomia subordinada ao governo central, e a manutenção do regime vigente no Tibete até à elaboração ulterior dos princípios da sua reforma democrática», como explicou nas páginas do Avante! Carlos Aboim Inglez, a 29 de Novembro de 2001.
Recuando um pouco no tempo, vale a pena precisar ainda que depois do triunfo revolucionário de 1949, a China encetou várias iniciativas visando o diálogo com os Lamas e nobres que dominavam o território, e que estes não apenas recusaram negociar, acicatados pelas potências ocidentais, como enviaram tropas para a fronteira, vindo a sofrer uma copiosa derrota frente ao Exército Popular de Libertação em Qamdo.
Nesta fase, entra em cena o Dalai Lama. Afastando-se tacticamente do podre poder de Lhasa, exila-se em Yadong, na fronteira com a Índia, destitui o regente e nomeia emissários a Pequim. Meses depois, já regressado à capital tibetana, telefonou ao presidente Mao Tsé Tung autorizando a entrada das tropas chinesas, as quais, apesar da vitória sobre o exército dos Lamas, permaneciam acantonadas para não inquinarem o diálogo. Todos os prisioneiros de guerra foram libertados pela China.
O Dalai Lama recebeu a 26 de Outubro de 1951 o Exército Popular em Lhasa, embora seja seguro que os círculos que o rodeavam já haviam iniciado a desforra com o apoio da CIA.

Eleito e confiante

Depois do Acordo dos 17 Artigos e do regresso a Lhasa, as relações envolvendo a China, o Tibete e o Dalai Lama pareciam normalizadas. De tal forma que o pontífice participou, em 1954, na primeira Assembleia Nacional Popular de Libertação da China, onde, para além de ser eleito vice-presidente do Comité Permanente, aprovou a Constituição da República Popular.
Na ocasião mostrou-se confiante nos benefícios da reunificação do país e declarou que «os rumores de que o Partido Comunista da China e o governo popular central arruinaram a religião do Tibete foram refutados. O povo tibetano tem gozado de liberdade em suas crenças religiosas». Cerca de 54 anos depois, o Dalai Lama desdiz-se e os seus seguidores repetem à exaustão o argumento da «liberdade religiosa», usado desde sempre para ocultar a natureza da sua luta.

A reacção contra-ataca

Os acontecimentos que se seguiram mostram, por um lado, a duplicidade do Dalai Lama, e, por outro, que tudo estaria bem na relação com a China se não fossem tocados os privilégios da diminuta classe dominante.
Enquanto o Dalai Lama assumia a presidência do comité provisório encarregado de organizar a região autónoma do Tibete, em 1956, a facção mais reaccionária dos lamas, nobres e funcionários preparava o contra-ataque. O alvo era a soberania chinesa. Em causa estava a reforma democrática iniciada nesse mesmo ano por iniciativa do governo central com o objectivo de abolir a escravatura, separar a igreja do Estado, promover os direitos e o bem-estar da população.
É evidente que a aliança de senhores feudais e teocratas não podia aceitar tais progressos, e assim, com a preciosa ajuda da CIA, fundou o Exército de Defesa da Religião, organização que entre 1956 e 1961 realizou vários ataques no Tibete, o mais emblemático dos quais a 10 de Março de 1959, data tradicionalmente reservada a um festival religioso e que no passado mês os grupos de criminosos «festejaram» com um «levantamento» em Lhasa (ver Os acontecimentos de Março).Desde então, o Dalai Lama exilou-se na Índia, país a partir do qual coordena a campanha suja com o auxílio das potências atlânticas.

Ligações perigosas

Artigo publicado no "Avante" 30.04.08

Os vínculos entre os separatistas tibetanos e os serviços secretos dos EUA persistem ininterruptamente desde o início dos anos 50. Apenas durante um breve período sofreram ajustes de intensidade, de 1974 a 1979, após o restabelecimento das relações sino-norte-americanas, promovidas por Mao Tsé Tung e Richard Nixon, convergindo com o período de funções de Gerald Ford na Casa Branca.
Com efeito, foi durante o mandato de Ford que a «causa tibetana» menos beneficiou, uma vez que o presidente considerava infrutíferas as intentonas armadas da CIA. O interregno porém não resistiu, e logo que Jimmy Carter foi eleito, o interesse pelo Tibete reanimou-se nos conteúdos talhados pela CIA no final da década de 40.

Travar a revolução

Quando em 1947 se antevia a vitória das forças revolucionárias lideradas por Mao na guerra civil contra o Kuomintang, Washington tocou a rebate face ao «perigo comunista». Em Taiwan, recolheram-se os restos das tropas derrotadas do general nacionalista Chang Kai-Chek. Até aos dias de hoje, a Formosa constitui, com o apoio dos EUA uma afronta à unidade do território chinês. No Tibete, a contra-revolução seguiu pisadas semelhantes.
Em «Fuga da História?», Domenico Losurdo frisa que o diplomata dos EUA em Nova Deli, George Merrel, enviou um telegrama ao então presidente Harry Truman alertando que «o Tibete pode ser considerado um bastião contra a expansão do comunismo ou, pelo menos, uma ilha de conservadorismo num mar de desordens políticas». «Em época de guerra de mísseis pode revelar-se o território mais importante de toda a Ásia», aduzia.A «ilha de conservadorismo», como a classifica Merrel, era dominada pelos aristocratas leigos e pelos Lamas, e é entre estes que a CIA funda uma célula de operações de inteligência, em 1951, colocando na liderança Gyalo Thondup, um dos irmãos do 14.º Dalai Lama.
O historiador norte-americano Jim Mann, citado por Humberto Alencar no artigo «Dalai-Lama: separatismo e submissão», publicado na página www.vermelho.org.br, sustenta que «durante os anos 50 e 60, a CIA apoiou activamente a causa tibetana com armas, dinheiro, apoio aéreo e todo o tipo de auxílio». Alencar observa que também o estudioso das acções da CIA na região, Michael Parenti, confirma os enlaces do círculo do Dalai Lama com a facção separatista sustentada pela secreta dos EUA, nomeadamente através da Sociedade Americana por uma Ásia Livre, estrutura fantoche na qual Thubtan Norbu, outro irmão do Dalai Lama, é destacado dirigente.
Alencar vai mesmo mais longe e, com base no testemunho de Jonh Knauss, ex-agente da CIA com notável folha de serviços no continente asiático, denuncia que os EUA treinaram a guerrilha tibetana no Colorado e depois a lançaram de para-quedas em território chinês.
Para tudo isto, dinheiro não faltava. Documentos desclassificados no final da década de 90 indicam que, nos anos 60, o «movimento tibetano» no exílio recebia anualmente 1,7 milhões de dólares, e que o próprio Dalai Lama arrecadava uns régios 180 mil dólares.

Laços reforçados

Em 1979, o Dalai Lama vai aos EUA onde está em coordenação uma nova estratégia para a «causa tibetana». Cinco anos mais tarde, já com Reagan e a teoria do «eixo do mal», nasce a National Endowment for Democracy, sociedade que para além da promoção da campanha pró-Tibete independente, financiou e financia outras lutas cujo fim reforça a hegemonia mundial do capitalismo, de que servem de mero exemplo as «revoluções» Laranja e Rosa, na Ucrânia e na Geórgia, com as intenções que se conhecem: agregação daquelas ex-repúblicas soviéticas à NATO e a sua submissão à escalada militarista do imperialismo na Europa e Ásia Central.
Mais recentemente, em 2003, o Dalai Lama deslocou-se por 18 dias aos EUA, aproveitando a estadia para se encontrar com George W. Bush e Colin Powell, na altura secretário de Estado. A reunião ocorreu depois de os norte-americanos aprovarem o Tibetan Act Policy, lei que regulariza a ajuda aos separatistas.
O Dalai Lama fez e faz o seu caminho. Talvez por isso, em 2007 Bush tenha sido o primeiro presidente em exercício a recebê-lo na Casa Branca, e a acompanhá-lo, posteriormente, à cerimónia de atribuição da Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos, maior distinção civil do país.
Tal como os líderes kosovares nos Balcãs se prontificam a contribuir para o projecto neoconservador da «Grande Albânia», o 14.º Dalai Lama batalha pelo «Grande Tibete», território que abrange parcelas da China, do Nepal e da Índia, como avança Melvin Goldstein em «O dilema do Dalai Lama», publicado fez em Janeiro uma década pela insuspeita Foreing Affairs.

Notas sobre o «tecto do mundo»

Artigo publicado no "Avante" de 30.04.08

No último mês e meio, o Tibete saltou para as primeiras páginas dos jornais e revistas, abriu telejornais e alimentou horas de conversa manhosa por parte de comentadores e especialistas.

O desenrolar da meada em torno da contestação ao Jogos Olímpicos de Pequim torna claro que o objectivo é nutrir a campanha anti-China perfilada nos centros de decisão transatlânticos. O Tibete, o Dalai Lama e a sua «causa» são meros instrumentos.
Para o grande capital, o que realmente está em causa é o domínio geopolítico de uma parcela de 1 milhão e 200 mil quilómetros quadrados, onde nascem os mais importantes rios da Ásia: o Amarelo e o Azul, em direcção à China, o Mekong, cujo delta se situa no Vietname, o Indo e o Ganges, os maiores da Índia; cujos recursos hídricos oferecem um potencial energético precioso e o subsolo tem ferro, ouro, chumbo, cobre, urânio, crómio e prata.
Em fase imperialista, a natureza predadora do capitalismo exige que uma oitava parte do território chinês passe a ser um seu protectorado, repetindo o cenário do século XIX quando a China dilacerada pelas Guerras do Ópio se transformou numa semi-colónia aberta às rotas do tráfico de droga.
A orientação é retomar a venda de armas aos secessionistas de Taiwan, promover o Dalai Lama e a mistificação religiosa, dos «direitos humanos» e da independência do Tibete.
Tanto faz se desde o século XIII nunca nenhuma nação reconheceu o Tibete como um território independente; se a China é um país com cerca de 4 mil anos de história contínua integrando hoje 56 nacionalidades reconhecidas constitucionalmente.
Tudo o que importa a Bush, Sarkozy, Durão ou Brown é que a China cresce e agiganta-se, assumindo-se soberana e capaz de traçar autonomamente o seu destino frente à hegemonia mundial da UE e dos EUA.
Nas páginas seguintes denunciamos a duplicidade do Dalai Lama e os interesses da camarilha que o acompanha, hoje como ontem. Lembramos as relações sociais no Tibete antes da reunificação com a China e as tentativas da CIA para o impedir. Olhamos dum ponto de vista crítico os acontecimentos do passado dia 10 de Março na capital tibetana, Lhasa.

Dos Lamas ao progresso

Recuperamos as palavras de Luís Carapinha no Avante! de 20 de Setembro de 2007, para introduzir alguns dos dados conhecidos sobre as relações sociais no Tibete pré-revolucionário.
É um facto que foi quando o governo central da China levou por diante as reformas da propriedade da terra e da legislação, que os até então exploradores cerraram fileiras contra a revolução chinesa. Em causa estava a posição privilegiada que uma restrita camada ocupava no quadro de um sistema marcado por relações esclavagistas. Na ordem do dia continua a recuperação do poder por parte dessa mesma classe, cuja escandalosa opulência contrastava com a miséria e a exploração mais gritantes.
No ano das reformas democráticas, 1956, o governo local detinha e administrava 38,9 por cento do solo, os mosteiros geridos pelos Lamas detinham 36,8 por cento, e os aristocratas leigos usufruíam de 24 por cento. Para a imensa maioria do povo, restavam 0,3 por cento de propriedade fundiária.
Neste quadro, sublinha o jornalista Duarte Pereira em artigo escrito para a Revista Princípios, «os servos, 90 por cento da população, eram forçados a pagar aos nobres e mosteiros uma renda, principalmente sob a forma de trabalho; secundariamente sob a forma de renda em produtos, e às vezes em dinheiro. Arcavam também pesados tributos e taxas, pagos em serviços e em dinheiro. Sem recursos suficientes, endividavam-se com os nobres e, principalmente, com os mosteiros, pagando elevados juros. Se morriam sem saldar a dívida, ela passava aos descendentes ou aos vizinhos».
Quanto aos escravos, os demais 5 por cento da população, transportavam as liteiras dos senhores. Escravos e servos não eram registados nos cartórios públicos, mas nos livros dos seus senhores. Ambos podiam ser doados, vendidos, emprestados e trocados. Uns e outros dependiam da autorização do amo para casar. Sob o domínio dos Lamas e nobres leigos, a população estava dividida em três estratos e nove graus, e a igualdade jurídica não existia, nem mesmo para certos estratos das castas superiores, como as mulheres.
Era este o quotidiano dos tibetanos na segunda metade do século XX, quando os povos haviam derrotado o nazi-fascismo na Europa, e na África e Ásia se levantavam contra séculos de jugo colonial.

Ficção ou realidade?

Paralelamente à ocultação destes factos, colocam-se a favor da «causa tibetana» argumentos ditos de respeito pelos «direitos humanos», pela «liberdade religiosa» e a «preservação da identidade cultural». Olhando para o que era o Tibete e para quem o dominava, e sabendo que são os mesmo que hoje defendem e recrutam para a «causa», arrepia só de pensar que pretendem restaurar um passado não muito longínquo.
Em «A China, o Tibete e o Dalai Lama», publicado na edição de 1 de Novembro de 2003 da revista italiana L’Ernesto, Domenico Losurdo revisita o livro «Sete anos no Tibete», escrito por Heinrich Harrer, cuja adaptação para o cinema corre mundo pelo «Tibete independente».
Na insuspeita obra, o actual Dalai Lama deixa uma mensagem final convidando o seu confesso admirador Heinrich Harrer a recordar «os dias que passámos juntos num país feliz e livre». Mas será que o relato do alpinista sobre o Tibete é o de um «país feliz e livre» como nos leva a crer Hollywood e o Dalai? E quem vivia essa feliz liberdade?
Viviam os membros da classe dominante porque importavam, segundo Harrer, «todas as raridades do mundo» e assim cultivavam consumos cosmopolitas com «peles de raposa vindas de Hamburgo, pérolas do Japão, turquesas da Pérsia, corais da Itália e âmbar de Berlim».
Viviam os senhores da ordem monástica que desconfiavam «de qualquer influência que pusesse em causa o seu domínio» e cuja supremacia no Tibete era «absoluta e só comparável a uma severa ditadura», possibilitando-lhes «regular a vida das pessoas por vontade divina, da qual são os únicos intérpretes».
Mesmo os menos significativos funcionários tibetanos dispunham de «um séquito de trinta servos e servas» aos quais, explica Harrer, eram infligidos tratamentos por vezes tão inúteis quanto brutais, unicamente para os manter cientes da sua condição.
Se quanto a «direitos humanos» ainda não estamos conversados, lembremos o testemunho de Harrer, citado por Domenico Losurdo, quando identifica um sistema de punição violento e arbitrário, que pode atingir, mesmo no caso dos delitos mais leves ou imaginários, os parentes e vizinhos do visado: «Contaram-me que um homem acusado de roubar num templo foi considerado culpado, sendo-lhe aplicada uma sentença desumana. Ambas as mãos foram cortadas diante do público, e o seu corpo mutilado foi coberto com uma pele de yak. Quando deixou de sangrar, foi lançado num precipício».
Os monges são os executores de punições como a flagelação, prática que não raras vezes mata os punidos. Às mãos destes «semi-deuses», os «seres inferiores» não eram dignos de qualquer Direito Humano. «Para os adúlteros existem penas drásticas, como o corte do nariz», diz Harrer, e mesmo entre as castas superiores, quando a questão envolvia golpes e lutas pelo poder, os derrotados são punidos com a «subtracção dos olhos a golpes de espada», esclarece.
E qual era o papel do Dalai Lama neste «paraíso dos direitos humanos»? Harrer escreve: «um europeu dificilmente está em condições de compreender a importância dada ao mais pequeno capricho do deus-rei».
Se afinal é de «liberdade religiosa» que falamos, recordemos uma vez mais as palavras de Harrer quando descreve que, à passagem do Dalai Lama «o cerimonial religioso obriga a que todos se deitem por terra, mas a falta de espaço impossibilita-o. Milhares de pessoas curvaram-se, como um campo de trigo ao sabor do vento. Ninguém ousa alçar os olhos. Lento e compassado, o Dalai Lama começou o seu percurso. As mulheres nem ousavam respirar. «[finda a procissão] Como que ressuscitada de um sono hipnótico, a multidão passou naquele momento da ordem aos caos. (…) Os monges-soldados entraram subitamente em acção fazendo vergar os bastões, mas como que possuídos pelo demónio, os agredidos regressavam aceitando os golpes como se de uma bênção se tratasse».

Avanço histórico

São incomparáveis as relações sociais no Tibete contemporâneo, como incomparável é a condição das pessoas. Para se curarem de uma doença, já não são ungidas com saliva dos monges ou «tratadas» com uma mistela à base de urina dos «homens santos», como contava atónito Harrer.
A par da abolição do regime teocrático, da revogação das leis e códigos desiguais, do encerramento dos tribunais e cárceres privados existentes nos mosteiros e propriedades feudais, os governos da China distribuíram a terra e os rebanhos, possibilitando ao povo o humano direito à alimentação. A população do território duplicou e a esperança média de vida passou dos 35 anos em 1950, para os 65 anos em 1990.
Ao contrário do que diz o Dalai Lama e respectivos acólitos, a relação com a fé e a crença no Tibete reforça-se, por exemplo, com a recuperação dos nichos e estandartes ostentando objectos de culto; com a requalificação de 1700 mosteiros onde residem 46 mil monges e freiras; com a dinamização das festividades seculares e com a publicação, em alguns casos pela primeira vez, de diversos textos sagrados, escrituras e epopeias tibetanas, como sustenta Duarte Pereira em artigo incluído no livro «China: 50 anos de República Popular».
Quanto e ao «genocídio cultural de que falava em 15 de Março o Dalai Lama, importa perceber que a «preservação da identidade» passa por medidas de afirmação da idiossincrasia tibetana em curso desde 1990, como, entre outras, o estímulo do conhecimento e uso dos idiomas mandarim e tibetano; o facto de o governador ser obrigatoriamente natural do Tibete e 70 por cento dos funcionários públicos serem tibetanos, 20 por cento dos quais mulheres; a construção de 3 mil escolas públicas, uma universidade e 3 centros de pesquisa, obras que contribuíram decisivamente para o decréscimo do analfabetismo de 90 por cento, em 1950, para 20 por cento, em 2005; ou a abertura da frequência universitária a todos os estratos sociais e géneros, levando a que quase 30 por cento das vagas sejam hoje ocupadas por mulheres.

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